O cultivo de milho brasileiro teve sua produção concentrada na segunda safra em anos mais recentes. Nas primeiras cinco temporadas da década de 2000 (de 2000/01 a 2004/05), a área de milho segunda safra representava apenas 24% do total colhido, contra 76% da produção de verão

O cultivo de milho brasileiro teve sua produção concentrada na segunda safra em anos mais recentes. Nas primeiras cinco temporadas da década de 2000 (de 2000/01 a 2004/05), a área de milho segunda safra representava apenas 24% do total colhido, contra 76% da produção de verão – naquela época, a produção de inverno era chamada de “safrinha”. Já nas últimas cinco safras (de 2015/16 a 2019/20), o milho segunda safra passou a representar 71% da colheita, contra 29% do milho verão.

Para que isso fosse possível, o sistema de produção de grãos foi ajustado ao longo das duas últimas décadas, com aprimoramento do sistema de cultivo direto, introdução de cultivares de soja de ciclo mais curtos, adaptação (melhoramento genético) de milho para as condições edafoclimática do Cerrado brasileiro, uso de máquinas e equipamentos com aparelhos de precisão, antecipação de venda da produção via troca, entre outros fatores que permitiram a intensificação do uso do solo da propriedade.

Contudo, essa mudança trouxe consigo um componente de risco para a oferta do milho, que é o desenvolvimento da lavoura no período de redução de chuvas no segundo trimestre. A janela de semeadura ideal para o cultivo do milho segunda safra é bastante estreita e o plantio fora desse intervalo já é conhecido pelos produtores experientes.

Para safra 2020/21, segundo o relatório do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), até o final de fevereiro de 2021, produtores de Mato Grosso tinham semeado 54,66% da área esperada, contra 91,9% na temporada anterior (2019/21), diferença de 37,3 pontos percentuais. No Paraná, relatório do início de maio da Seab/Deral indicou que 44% das lavouras estavam em floração e frutificação e 52%, em desenvolvimento.

Quanto ao clima, na segunda quinzena de abril, agentes relataram má distribuição de chuvas em grande parte de Mato Grosso e falta de precipitação no Paraná e em Mato Grosso do Sul. Esse cenário elevou a preocupação de produtores dos três estados, tendo em vista que as lavouras estão e/ou entrarão em período crítico de desenvolvimento.

Diante disso, o Cepea, via o projeto Campo Futuro, calculou qual é a produtividade de nivelamento capaz de saldar os custos de produção do milho segunda safra de 2020/21. Para isso, foram considerados os valores médios dos insumos entre julho e dezembro/20. Quanto ao preço de comercialização, a simulação do Cepea considerou que 50% da produção foi vendida antecipadamente – entre agosto e dezembro de 2020 – e, para os outros 50%, foi considerado o valor médio do cereal em abril de 2021.

No geral, o que se observou foi que, embora o clima ameace o rendimento das lavouras de milho segunda safra, os atuais valores de comercialização do cereal devem compensar a remuneração de produtores – mesmo quando considerado que vendas antecipadas foram realizadas a preços menores que os praticados em abril. A maior preocupação está relacionada às lavouras do Paraná, que, dependendo da quantidade colhida, esta não saldará o custo de produção (COE ou CT).

SORRISO (MT) – A estimativa do Custo Operacional Efetivo (COE) para o milho de segunda safra de 2020/21 da região mato- -grossense foi de R$ 2.675,46/ha. Para pagá- -lo, seria necessário obter uma produtividade média de 41 sacas/hectare. Para saldar a estimativa do Custo Total (CT) – que é o COE acrescido de depreciação, do custo de oportunidade da terra e do capital investido –, estimado em R$ 3.468,70/ha, a produtividade teria de ser de 54 sc/ha. O valor médio do milho considerado foi de R$ 64,72/sc de 60 kg. A produtividade média registrada no projeto Campo Futuro para a região de Sorriso foi de 108 sc/ha nessas últimas cinco safras (2015/16 a 2019/20). Em linha gerais, boa parte das lavouras mato-grossense está em boas condições de desenvolvimento e espera-se registrar produtividade próxima da média histórica, mas ainda existe uma parte das áreas que foi semeada fora da janela ideal. Neste último caso, relatório do Imea do início de maio indicava que o déficit hídrico em algumas regiões pode prejudicar o rendimento das lavouras semeadas tardiamente. Assim, o Instituto estima colheita de 101,4 sc/ha e produção de 34,6 milhões de toneladas para a safra 2020/21.

RIO VERDE (GO) – Para quitar o orçamento do COE, calculado em R$ 2.503,29/ha, a produtividade a ser obtida para saldar o custo operacional excedente seria de 34 sc/ha na região goiana. O CT foi calculado em R$ 3.485,85, sendo necessário produzir, em média, 48 sc/ha, em um contexto em que o produtor realiza negócios com o valor médio de R$ 73,13/sc de 60 kg. Vale lembrar que a produtividade média das últimas cinco safras (2015/16 a 2019/20) foi de 98 sc/ha. A expectativa para a safra 20/21 é uma redução na produtividade, devido ao clima desfavorável e ao ataque de cigarrinha. Mas, a falta de chuva destaca como maior preocupação dos produtores, que temem uma forte quebra na produtividade especialmente as áreas semeadas tardiamente. Caso o tempo siga seco, a redução de produtividade pode ser de 30 a 40% frente à média histórica da região.

CASCAVEL (PR) – O COE foi orçado em R$ 3.128,03/ha na praça paranaense, necessitando de produtividade de 42 sc/ha para saldá-lo. A estimativa para o CT foi calculada em R$ 5.391,87/ha, sendo preciso produtividade de 72 sc de 60 kg para liquidar todos os investimentos da lavoura. O valor médio da saca de 60 kg de milho assumido foi de R$ 74,91. O Paraná tem apresentado o maior problema com as faltas de chuvas no primeiro quadrimestre de 2021. A semeadura se iniciou com atraso e a estiagem em abril tem comprometido o desenvolvimento da planta e a capacidade de expressar o potencial produtivo da cultivar. A produtividade média das últimas cinco safras (2015/16 a 2019/20) foi de 94 sc/ha, mas a produtividade esperada pode cair em até 40%.

DOURADOS (MS) – O valor orçado para o COE foi de R$ 2.203,22/ha, os quais exige um rendimento de 31 sc/ha para cobrir o custo. Já o CT foi estimado em R$ 3.250,24/ ha, tendo a necessidade de uma produtividade de 46 sc/ha. Em linha gerais, as lavouras do estado sul-mato-grossenses têm sido prejudicadas pela estiagem. Em lavouras das regiões de Rio Brilhante, Maracaju e Dourados, os últimos volumes de chuvas foram verificados há cerca de 50 a 60 dias. As lavouras de MS predominantemente estão no estádio fenológico entre V1 e R3, desenvolvendo em condições regulares, segundo boletim (n.406) da Aprosoja. A produtividade média das cinco últimas safras (2015/16 a 2019/20) foi de 77 sc/ha, mas, caso a estiagem persista em maio, o desenvolvimento pleno da planta será comprometido e a produtividade média pode recuar até 40%.

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