“A inflação levou todo o dinheiro do trabalhador. Não tem como suprir. Então, a gente tem que ter outros recursos”, diz Derli Fernandes, encarregado de obra. Item essencial, o leite subiu 12% no IPCA-15, a prévia da inflação, só em abril. Em 12 meses, o longa vida ficou 18,5% mais caro, acima do indicador geral no mesmo período.
O leite em pó ficou um pouco abaixo do índice geral, mas também teve reajuste: quase 8% em 12 meses. “Um copo de leite, um café com leite: são coisas essenciais. Já pensou quem tem filho, quem tem criança? Passa aperto. A gente passa! Agora, imagina quem tem criança em casa”, afirma a aposentada Silvia Regina.
O preço nas alturas não afeta só quem compra para consumir em casa. Em uma instituição que acolhe pessoas com paralisia cerebral em Belo Horizonte, as doações – que caíram desde o início da pandemia – diminuíram ainda mais. Para manter a alimentação dos 120 assistidos, são mais de 50 litros de leite todos os dias. “De 2020 para cá nós perdemos, em média, 30% dos nossos números de doadores. Hoje e sempre, a nossa grande demanda é leite. Leite é uma demanda enorme que nós temos. A base da nutrição, da dieta dos nossos acolhidos, é o leite”, lamenta Luciana Bertolini, gerente do Núcleo Assistencial Caminhos para Jesus.
Se o leite encarece, os derivados seguem o mesmo caminho. A manteiga ficou 10,5% mais cara; o queijo, 14%; iogurte, quase 17,5%; e o requeijão teve alta de mais de 20%. Isso sem falar em várias receitas que levam leite: bolo, doces, biscoitos. Manter a mesa farta está sendo um desafio para os brasileiros.
“A tendência é que o leite continue na lista dos produtos em alta, porque nós estamos entrando em um período de estiagem e esse período vai obrigar o produtor a usar mais rações. E, com isso, uma parte desse aumento de custos deve sustentar o preço do leite em patamar mais elevado por alguns meses”, afirma André Braz, economista do Ibre/FGV.