Fenalac admite um possível cenário de excesso de produção de leite e apela à ativação atempada de apoios para prevenir quebras de rendimento

Desde janeiro e até à última semana, o preço do leite em pó à saída de fábrica já baixou 19%, de 2,60 euros por 10 quilos, para 2,11 euros. E a manteiga seguiu uma evolução no mesmo sentido, baixando de 3,60 euros por 10 quilos para 3,29 euros, menos 9%. Segundo a Federação Nacional das Cooperativas de Leite (Fenalac), são indicadores que fazem soar os alertas e pede a ativação de mecanismos europeus que previnam a queda nos preços do leite e assim se evite uma crise no setor.

“Neste momento, os preços ao produtor em Portugal estão inalterados, mas há indicadores importantes, como o preço do leite em pó e da manteiga, que podem vir a afetar o resto da fileira se não forem adotados mecanismos, com urgência, de permitam equilibrar o mercado atempadamente”, sustenta Fernando Cardoso, secretário-geral da Fenalac.

Os preços do leite em pó e da manteiga estão a descer por reflexo do que se está a passar no mundo com a pandemia, justifica a Federação.

Boas vendas na distribuição

Em Portugal, “o comércio do leite por via da grande distribuição até está a correr muito bem e, em alguns casos, acima do normal”, explica do dirigente associativo. “Os constrangimentos vêm pelo fecho do canal Horeca (hotéis, restaurantes e cafés) e de alguma perturbação nas exportações”.

As vendas ao exterior de leite em granel, por exemplo, “habituais para Espanha, estão agora a fazer-se com dificuldade”, tal como as exportações para a China, sobretudo de queijo, ou de manteiga e leite em pó para os países do Médio Oriente e Angola, nestes dois últimos casos, devido à queda do preço do petróleo e à falta de liquidez, contextualiza Fernando Cardoso.

Pico de produção

À redução do consumo (por via do canal horeca e da exportação) junta-se o pico de produção de leite habitual na primavera no Hemisfério Norte (Europa e EUA), duas realidades que fazem a Fenalac temer cenários de excesso de produção. Para os evitar, lembra que “há mecanismos que a União Europeia poderia ativar, com urgência”, como é o caso da armazenagem privada (de alguns queijos, leite em pós e manteiga), que consiste num apoio extraordinário ao agricultor para que constitua stocks do produto e o possa vender mais tarde, em melhores condições de mercado.

Outra modalidade seria o recurso à intervenção com retiradas do mercado (leite em pó e manteiga), em que autoridades públicas adquirem o excedente e o vendem ou encaminham para instituições de solidariedade. Nas duas soluções (armazenagem e intervenção) estão previstos apoios aos agricultores e ambas têm por objetivo reduzir a oferta do produto no mercado, para que a produção não perca rendimento.

Em Bruxelas, as instituições que representam a agricultura junto das instituições europeias, a COPA-COGECA, bem como a Associação Europeia das Empresas de Laticínios, já estão a fazer diligências para que a Comissão se prepare para desbloquear aqueles mecanismos.

“Em Portugal, ainda estamos longe dos preços da intervenção”, assinala Fernando Cardoso. No caso do leite em pó, o mecanismo é ativado automaticamente quando o preço cair para os 1,70 euros por 10 quilos (está nos 2,11 euros). Na manteiga, será quando baixar para 2,20 euros (está nos 3,29 euros).

Bryce Cunningham, um produtor de leite escocês, proprietário de uma fazenda orgânica em Ayrshire (Escócia), lançou um produto lácteo para agregar valor ao leite de sua fazenda, que é um produto de ótima qualidade, sem aditivos, e é um exemplo de economia circular.

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