A criação de gado leiteiro nos municípios da região Centro Sul foi afetada pela falta de chuva dos primeiros meses do ano. A estiagem fez com que os pastos secassem e reduziu significativamente o volume de água em lagos, rios e reservatórios das propriedades rurais, que são utilizados para o consumo dos animais.

“O que está judiando de nós é a seca. É o maior problema”, afirma Juliano Anciutti, pecuarista de Irati, que tem 24 vacas em lactação, dentre os 60 animais destinados à produção leiteira que possui. Ele e sua esposa, Ana Paula Jacumasso Anciuttiu, obtém toda renda familiar da venda do leite para um grande laticínio, que faz a coleta na propriedade rural, localizada no Riozinho.

Juliano conta que, devido à estiagem, já não tem mais pasto disponível para os animais. De acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia – INMET/Estação Irati, nos meses de janeiro, fevereiro, março e abril deste ano choveu pouco mais da metade do volume registrado nos últimos anos. Em 2020, o acumulado do quadrimestre foi de apenas 374,5 milímetros, enquanto em 2019 tinha sido 718,5 milímetros e em 2018, 667,5 milímetros de precipitação acumulada no período.

Com o volume reduzido de chuvas, o pasto secou. A alimentação do rebanho na propriedade dos Anciutti tem sido feita através da silagem e da ração. Também faltou água para os animais beberem.  O pecuarista teve que recorrer ao poder público. A Prefeitura de Irati o atendeu, levando água com um caminhão pipa até o local. Mas para amenizar o problema de fato, Juliano conta que investiu na perfuração de um poço semi-artesiano. Para a execução de alguns serviços preliminares à perfuração, novamente ele contou com o apoio da prefeitura.

Na propriedade da família Surek, na Colônia São Lourenço, divisa entre Irati e Fernandes Pinheiro, o que tem garantido a água para as 140 cabeças de gado, dentre as quais 56 vacas em lactação, é um poço artesiano, pois as demais fontes de abastecimento já secaram. Leonardo Surek conta que mesmo não tendo faltado água para os animais, “as vacas sentem bastante o calor e diminui a produção”.

Além de ter que superar os percalços climáticos, equilibrar as contas tem sido outra questão a ser administrada pelos produtores rurais. “O valor do leite baixou muito nos últimos 45 dias, foram uns R$ 0,25 centavos por litro, e isso pesa bastante”, diz Leonardo, que vende sua produção para uma empresa da região.

Juliano trabalha com empresa que não tem sede na região e também relata queda no preço pago por litro de leite. Nas últimas semanas, o produtor conta que baixou cerca de R$ 0,10 centavos. Enquanto isso, o preço da ração para alimentar o gado leiteiro, segundo ele, subiu cerca de R$ 0,13 centavos por quilo. Mesmo assim o produtor se mantém otimista: “Ainda não está prejudicando, por enquanto ainda estou conseguindo pagar as contas, está bom”, afirma Juliano.

De acordo com a chefe do Núcleo Regional de Irati da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (SEAB), Adriana Baumel, dez empresas (cooperativas e laticínios) compram o leite produzido nos municípios da região, que são Fernandes Pinheiro, Guamiranga, Imbituva, Inácio Martins, Irati, Mallet, Rebouças, Rio Azul e Teixeira Soares.

Estas indústrias lácteas produzem leite integral pasteurizado e derivados como manteiga, queijos e outros. “No mês de abril último, o preço pago ao produtor variou entre R$ 1,05 e R$ 1,65 por litro, dependendo da empresa e também da qualidade do leite”, explica Adriana.

Conseleite quer que a indústria pague mais

De acordo com o Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite do Estado do Paraná (Conseleite-PR), desde o início de maio, algumas empresas têm resistido a pagar pelo produto com base nos valores de referência. Essa situação se repete em diversos Estados.

Ronei Volpi, presidente da Comissão Técnica de Bovinocultura de Leite da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP) e da Câmara Setorial do Leite e Derivados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), destaca que não está ocorrendo um equilíbrio do setor, por conta da resistência das indústrias.

No primeiro trimestre de 2020, segundo Volpi, o preço do litro pago ao produtor caiu 5,9%, enquanto, neste mesmo período, o custo de produção aumentou 3,18%. “Os custos subiram muito no início do ano, quando não houve aumento de preços ao produtor”, considera.

A FAEP se posicionou e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) emitiu uma nota oficial apontando esses fatos e conclamando a indústria para que dê continuidade à política calcada no diálogo, que vinha proporcionando grande crescimento ao setor lácteo brasileiro.

Definição do preço

O valor de referência para o leite a ser pago aos produtores do Estado tem por base o desempenho de um mix de produtos lácteos no atacado. Desde 2002, quando foi criado o  Conseleite Paraná,  foi estabelecido este mix e é feita a análise periódica do consumo por representantes dos produtores (representados pela FAEP) e das indústrias (representadas pelo Sindileite-PR), que têm posição paritário no órgão. E, no centro desta balança está a Universidade Federal do Paraná (UFPR) responsável pelos trabalhos técnicos, que garante isenção e equilíbrio aos processos.

Produção regional

O Paraná possui a segunda maior bacia leiteira do Brasil, ficando atrás apenas de Minas Gerais.

Na região Centro Sul, de acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral/SEAB),o maior produtor de leite é o município de Teixeira Soares, no qual o rebanho leiteiro é de 4.800 cabeças.

Considerando os nove municípios que fazem parte do Núcleo Regional de Irati da SEAB há uma produção média 100 mil litros de leite por mês. Em 2019, foi contabilizada pelo Deral a produção de 114.035.000 litros na região.

Orientações

Segundo Adriana Baumel, para a situação atual de redução de demanda e falta de água, as principais orientações para os produtores de leite são:

– É muito importante buscar orientação técnica para enfrentar os novos desafios impostos ao setor leiteiro;

– Decisões equivocadas podem produzir reações catastróficas na eficiência técnica do sistema de produção e no equilíbrio financeiro da atividade;

– Buscar orientação técnica no Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná IAPAR–EMATER, fomento da sua Cooperativa, no seu laticínio ou demais prestadores de serviço de sua região.

Efeitos da pandemia na bacia leiteira

“O coronavírus influenciou bastante nesta redução do preço do leite”, afirma o pecuarista Leonardo Surek. Ele, sua esposa, seus pais e seu irmão trabalham na propriedade de agricultura familiar com a produção de leite, criação de gado e cultivo de soja.

De acordo com a SEAB, devido às restrições de mobilidade impostas pelas medidas de precaução da pandemia (COVID-19) ocorreu redução na demanda por derivados de leite.

Com lanchonetes, restaurantes e outros estabelecimentos que comercializam alimentos fechados, o impacto maior foi no consumo de queijo, um dos derivados do leite mais utilizados por estes estabelecimentos para elaboração de seus produtos.

“A redução estimada foi de 60%, o que ocasionou a sobra de produtos e sua estocagem. Em consequência, as empresas também reduziram a compra do leite nos produtores”, comenta a chefe da regional da SEAB de Irati, Adriana Baumel.

Os números citados por ela levam em conta uma pesquisa quinzenal feita junto aos laticínios e cooperativas que recebem a produção de leite da região.  Entretanto algumas empresas, como as que compram a produção das famílias Anciutti e Surek, não reduziram o volume de leite comprado, mas diminuíram o preço pago pelo litro de leite, o que tem afetado a renda dos pecuaristas.

Produção agrícola foi menos afetada pela seca

A primeira safra de verão (soja, milho, feijão, batata, tabaco, cebola) está praticamente colhida com produtividades acima da média, de acordo com a SEAB. “A segunda safra (milho, feijão), que é relativamente menor, tem apresentado quebras na produtividade (30%), mas está sendo compensada pelo preço melhor”, comenta a chefe da SEAB.

Adriana relata que o feijão atingiu preços acima de R$ 200/saca. E que a safra de inverno tem plantio pelo zoneamento agrícola a partir do mês de junho, o que até agora não tem afetado o plantio.

“Somente as coberturas de inverno e pastagens, têm seus plantios atrasados e

desenvolvimento prejudicado pela falta de umidade no solo”, explica.

Dentre as culturas, a produção de olerícolas (verduras) tem sido mais afetada pela falta de água. “A redução neste segmento, principalmente de folhosas, é de 40%”, comenta Adriana.

Consumidores brasileiros têm se surpreendido com a alteração do nome do queijo nas embalagens. Essa mudança foi definida em um acordo entre União Europeia e Mercosul.

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