A indignação entre os produtores brasileiros de leite aumentou ainda mais nos últimos dias. Motivo: a recusa da maioria dos laticínios em pagar pelo litro do leite ao produtor neste mês maio

A indignação entre os produtores brasileiros de leite aumentou ainda mais nos últimos dias. Motivo: a recusa da maioria dos laticínios em pagar pelo litro do leite ao produtor neste mês maio – referente à entrega do produto feita em abril – os percentuais de alta indicados pelas projeções dos Conseleites (conselhos estaduais que reúnem representantes da indústria láctea e dos pecuaristas leiteiros). A frustração pode levar milhares de agricultores – a maioria pequenos e médios – a abandonar a atividade de norte a sul do país.

“Mesmo com todo a dificuldade que já enfrentamos há anos dentro da cadeia leiteira, a indústria ainda usa a pandemia do novo coronavírus [covid-19] para não honrar um compromisso. É extremamente indignante ver a tamanha facilidade que a indústria tem de nos passar a perna, de nos deixar na lama”, desabafa o empresário produtor de leite gaúcho Rafael Hermann, um dos líderes do Movimento Construindo Leite Brasil, que reúne cerca de 10 mil pecuaristas de leite nas redes sociais, e membro do Conseleite do Rio Grande do Sul.

Para Rafael, é inaceitável a decisão da maioria dos laticínios de não pagar pelo leite entregue em abril os valores indicados pelos Conseleites. No caso do RS, assinala o pecuarista, a alta estimada foi de 9,79%. Nessa segunda-feira 11, o Sindilat/RS e a Apil/RS – entidades que representam a indústria láctea – confirmaram que não repassariam o índice, alegando dificuldades criadas pelo cenário de pandemia, e anunciaram que o foco agora é a captação de leite, o abastecimento e a manutenção do pagamento em dia ao produtor.

“Vi a nota conjunta do Sindilat/RS e da Apil/RS como uma ameaça, me senti ameaçado com aquilo. Parece até que estão fazendo um favor em coletar o leite neste período de pandemia. Tentaram apresentar as medidas que estão tomando como se estivessem fazendo um bem para a gente. Na verdade, perderam o moral com os produtores”, disse Rafael ao AGROemDIA, nesta terça-feira 12, lembrando que a situação no Rio Grande do Sul é agravada pela estiagem, que reduziu a produção leiteira.

“Não há um olhar do Ministério da Agricultura”

Na opinião de Rafael, as indústrias deveriam ter tido um comportamento oposto justamente por causa do aprofundamento da crise enfrentada pelo setor, que também convive com o aumento dos custos de produção. “Os laticínios nos desrespeitaram. Eles não tinham que ter baixado o preço do leite, mas mantido, até em consideração ao produtor por lhes entregar a matéria-prima. Sinceramente, não dá mais.”

O integrante do Movimento Leite Brasil também cobra uma posição do Conseite/RS e da Federação da Agricultura do Estado do RS (Farsul). “Queremos uma ação concreta e emergencial do presidente do Conseleite e da Farsul. Chega de promessas. Precisamos que eles sejam objetivos e ajam com rapidez para resolver está questão. Do jeito que está, não dá. Quando o Conseleite indica uma alta, as indústrias agem da forma que querem.”

Rafael crítica igualmente os governos federal, estaduais e municipais e parlamentares pela situação enfrentada pela cadeia leiteira. “Não temos uma política pública. Apesar do enfraquecimento do setor nos últimos anos, não há um olhar do governo federal, do Ministério da Agricultura, dos governos estaduais e municipais nem de deputados ou senadores.”

De acordo com Rafael, o cenário desolador vivido pela cadeia leiteira em todo o país está levando muitos produtores a desistir da atividade. “Muitos produtores já estão inseminando as vacas leiteiras para entrar na pecuária de corte e outros estão vendendo os animais para abate. Não resta mais dúvida que milhares de famílias vão deixar a atividade. Está inviável produzir leite.” Na avaliação do produtor do município gaúcho de Boa Vista do Cadeado, o setor leiteiro está à beira do colapso.

O empresário produtor de leite pontua ainda que os consumidores também estão indignados com o que ocorre no setor leiteiro. “Eles estão pagando mais pelo leite desde o começo da pandemia, enquanto nós estamos recebendo pouco e ficamos à míngua; Só quem está ganhando são os laticínios e as grandes redes de supermercados.”

A partir de segunda-feira, 18 de novembro, agricultores se mobilizam contra o acordo de livre-comércio entre a Europa e cinco países da América Latina, rejeitado pela França. François-Xavier Huard, CEO da Federação Nacional da Indústria de Laticínios (FNIL), explica a Capital as razões pelas quais o projeto enfrenta obstáculos.

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