Durante anos, disseram-nos que a nossa difícil situação iria melhorar. Piorou. Passámos 2021 com sucessivos aumentos dos custos de produção sem o correspondente aumento do preço do leite ao produtor, ao contrário do que sucedeu no resto da Europa, onde o preço médio passou os 41 cêntimos em dezembro, quase 10 cêntimos acima do preço médio em Portugal.
Os ligeiros aumentos no preço do leite registados no início de 2022 vieram com um ano de atraso e foram absorvidos por novos aumentos de custos.?Para agravar, temos de fazer mais dois furos num cinto que já estava bem apertado: um “furo” por causa da seca que nos limita a produção de alimentos para os animais e outro, ainda impossível de calcular, motivado pela guerra na Ucrânia, celeiro da Europa, origem de 40% do milho importado por Portugal, de outros cereais e até dos adubos de que precisamos.
Hoje, a nossa realidade tem algo de similar com a situação da Ucrânia, embora numa escala completamente diferente. É mil vezes pior estar debaixo de bombas do que em asfixia económica, mas o abandono dos ucranianos pela comunidade internacional lembra o abandono que sentem os produtores de leite em Portugal. Abandono da indústria e da distribuição que só pensam em si. Abandono de um Ministério da Agricultura paralisado e de um primeiro-ministro que ignora a produção de leite.?
Para além de ajudas pontuais, os responsáveis políticos têm que tomar medidas para que suba o preço do leite ao produtor na medida em que sobem os custos. Sem isso, os produtores de leite, cansados e abandonados, vão continuar também a abandonar um setor que os mais novos não querem abraçar. Aos poucos que queiram resistir resta continuar a luta e não parar de gritar até que alguém acuda.