Secretário de Estado da Agricultura foi ao Valado de Santa Quitéria anunciar medidas de apoio para o setor.
O secretário de Estado da Agricultura, Rui Martinho, durante a visita à vacaria e queijaria Flor do Vale

Mais de uma centena de produtores de leite reclamaram o aumento do preço do leite durante um encontro nacional realizado no Valado de Santa Quitéria, na vacaria e queijaria Flor do Vale, que contou com a presença do secretário de Estado da Agricultura, Rui Martinho.
A iniciativa foi organizada pela Associação dos Produtores de Leite de Portugal (APROLEP), presidida por Jorge Silva, proprietário desta exploração da freguesia de Alfeizerão, onde nasceu esta estrutura associativa.

Com cerca de 400 associados entre os cerca de 1.600 produtores de leite do continente, o panorama do setor enfrenta uma situação “totalmente nova”, segundo explicou à Gazeta o dirigente associativo. “Estamos a viver aumentos consecutivos de tudo o que são matérias-primas, como rações, cereais e energia, mas o preço do leite não aumenta e está a deixar asfixiadas as explorações, ao ponto de muitos questionarem a sua sobrevivência”, alerta Jorge Silva.
A única solução para dar resposta ao setor passa pelo aumento do preço do leite por parte da indústria e da distribuição, nomeadamente pelas grandes superfícies, que, na prática, são quem fazem a regulação do mercado. O anúncio de um aumento de 2 cêntimos por litro não vai dar para cobrir os custos.
Para evitar que a produção de leite no país fique comprometida, a APROLEP reclama que o litro do leite deve ser aumentado em 5 cêntimos, ou seja, que passe de 41 para 46 cêntimos. “Este preço vinha equilibrar as contas neste momento, porque as dificuldades que enfrentamos são enormes”, afiança Jorge Silva, que acredita que “o consumidor conseguirá pagar esta diferença”.
Recorde-se que, em janeiro, houve um aumento de 3 cêntimos e, em abril, uma nova subida de 5 cêntimos por litro de leite pago à produção. “Estamos limitados ao que o mercado nos impõe”, sublinha o produtor, pois apesar das dificuldades que o setor tem encontrado ao longo dos anos, tem sabido encontrar “algum equilíbrio”. O que não acontece agora devido “à escalada de preços” com os custos de exploração “em cerca de 60%”, que se traduz “em mais 30%” do custo do leite produzido.

A APROLEP agendou para este encontro, realizado no passado dia 1, uma mesa-redonda para a qual convidou diversas instituições que integram a fileira para discutir medidas para ultrapassar as dificuldades do sector. Mas a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição declinou o convite. “É uma pena, porque era uma oportunidade para todas as entidades que intervêm no setor encontrar uma solução”, lamentou Jorge Silva.

Marcaram presença a Associação dos Fabricantes de Alimentos de Compostos para Animais (IACA), Federação Nacional das Cooperativas Produtoras de Leite (FENELAC), Federação Agrícola dos Açores e Associação dos Industriais de Lacticínios (ANIL).
Reconhecendo que a seca e, sobretudo, o aumento dos combustíveis e dos cereais para as rações, devido à guerra na Ucrânia, causa constrangimentos, o secretário de Estado da Agricultura respondeu aos produtores de leite com o anúncio de algumas medidas pontuais para “mitigar” os problemas. Foi assinada uma nova portaria que permite baixar o preço do gasóleo agrícola, a par das ajudas à eletricidade. Em breve será publicado um regulamento europeu, que norteará o apoio com 57 milhões de euros para a generalidade da agricultura.
“A ajuda de crise foi comunicada [pelo Governo] à Comissão Europeia para que seja aprovada e no imediata possamos começar a pagar essas ajudas aos agricultores”, revelou Rui Martinho.
Para a atividade leiteira serão canalizados 27 milhões de euros, que inclui um prémio pago por cada vaca leiteira, ainda este mês. O Governo, desta forma, pretende “minimizar o impacto que o setor está a sofrer, mas que obviamente não tem a dimensão que todos nós gostaríamos que tivesse”.
O secretário de Estado lembra que não pode dar uma ajuda a um setor específico porque “o problema é comum e transversal a toda a comunidade agrícola, pelo que os apoios têm de ser divididos”. O governante também lamentou a presença da APED neste encontro, porque poderia contribuir para se encontrar uma melhor resposta para o problema dos produtores de leite, uma vez que o Estado não pode ter influência direta na regulação dos preços dos bens alimentares.
O governante anunciou, ainda, a criação do Observatório de Preços “Nacional é Sustentável”, para os produtos agrícolas, para “recolher informação junto do consumidor e que permita fazer análises para passar para o mercado com informação fiável e transparente dos preços em toda a cadeia”, devendo entrar em funcionamento até final do ano. O leite é um dos produtos que integra a análise nesta primeira fase. Ainda assim, face ao cenário que se vive nas vacarias de todo o país, é defensor de um ajustamento “que seja correspondente, pelo menos, a esse acréscimo de custos, de forma a que atividade dos agricultores e dos produtores de leite, em particular, tenha a possibilidade de ser sustentável”. Isto, sob pena de que, “de um momento para o outro, poderemos ser confrontados com a escassez do produto nacional e para o abastecimento à nossa população, coisa que ninguém de nós quer!”.
Face a estes anúncios do Governo, Jorge Silva contrapõe que “estas medidas não vão mitigar nada os nossos problemas, porque precisamos mesmo é de chegar ao fim do mês com mais dinheiro no bolso!”

A venda abaixo do custo de produção, o chamado dumping, está sob investigação no Ministério da Indústria e Comércio.

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