A cria é um dos mais complexos sistemas de produção da pecuária de corte e, consequentemente, exige cada vez mais profissionalismo do produtor que pratica.

Qual o jeito certo de suplementar vacas e novilhas nas águas e na seca?

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A cria é um dos mais complexos sistemas de produção da pecuária de corte e, consequentemente, exige cada vez mais profissionalismo do produtor que pratica. Nesta quarta-feira, dia 13, o Giro do Boi levou ao ar entrevista com o zootecnista e doutor em produção de ruminantes João Gonsalves Neto, criador do Portal da Pecuária, plataforma que oferece lives diárias e cursos sobre a atividade. Em foco no bate-papo, os pontos principais para a receita de sucesso na produção de bezerros.

“Sempre na fase de cria, nós temos que buscar aumentar o número de bezerros produzidos e a qualidade desses bezerros produzidos, com maior peso à desmama. E isso dá trabalho mesmo porque a eficiência da fase de cria depende de uma série de fatores, como alta taxa de prenhez, alta taxa de natalidade, uma alta taxa de desmama, um alto peso à desmama, uma baixa taxa de mortalidade… Tudo isso dá trabalho pra fazer. Para você conseguir ter tudo isso, você precisa de muito trabalho mesmo”, contextualizou o zootecnista.

Na sequência, Gonsalves exaltou quais são as etapas pelas quais a condução adequada da pecuária de cria deve passar. “Uma estação de monta bem planejada, bem conduzida, bem orientada, um bom manejo nutricional de vacas, reprodutores, bezerros. Tem que ter um bom manejo reprodutivo, tem que touros férteis com bom potencial genético, vacas férteis, tem que ter cuidado com bezerro que vai nascer”, generalizou.

O consultor fez um alerta a respeito dos produtores que desejam ingressar na atividade pelo bom momento por que passa a cria, com valorização de seus produtos. “Com esse preço da arroba do bezerro subindo, há uma tendência para vários produtores migrarem de volta para a fase de cria [..] isso é um perigo muito grande porque a fase de cria, como eu falei, é complexa, envolve investimentos pesados. Você compra vaca hoje e não vende amanhã. É um retorno meio a longo prazo”, alertou. “O que manda na fase de cria são altas taxas prenhez. O produtor só vai ter lucro se tiver uma alta taxa de fertilidade, de natalidade, de desmama e isso envolve muito profissionalismo”, frisou.

O especialista comentou a importância da escolha do touro no processo de reprodução. “Eu não posso só pensar no número de bezerro, eu tenho que pensar também na qualidade desse bezerro. E para esse bezerro ter qualidade, eu tenho que usar um bom acasalamento, tenho que usar touros melhoradores, touros com alto potencial genético, touros que vão agregar porque o touro tem um valor muito importante. Um touro cobre uma maior quantidade de vacas, 30 vacas, em média, se for monta natural. O touro tem um papel fundamental no melhoramento genético e ele vai entrar com esse trabalho de produzir bezerro de boa qualidade. Se você faz uma IATF e usa o touro melhorador, ótimo, mas se você faz a monta natural – e a grande maioria ainda faz a monta natural – use um touro melhorador. Compre um touro que vai agregar valor para os seus bezerros porque aí você vai ter bezerrada de boa qualidade. É bom você focar no número de bezerros, é importante, mas na qualidade desse bezerro também, […] desmamar um bezerro pesado e isso depende muito do potencial do touro. Das vacas também, mas o touro tem um papel importante”, completou.

Por outro lado, Gonsalves reforçou que o produtor deve banir o uso do macho “ponta de boiada” para cobrir as suas matrizes. “O ponta de boiada não adianta, não vai agregar. Esse ponta de boiada vem quando o produtor enxerga ali um bezerro bonito, vê um garrote bonito, pensa que ele se destaca e vai usar como reprodutor. Isso não tem como fazer mais – você precisa investir em um touro de boa qualidade, um touro melhorador mesmo”, reafirmou.

O doutor em produção de ruminantes ressaltou o impacto que a nutrição tem no processo reprodutivo, um dos fatores limitantes da produtividade da cria. “Um bom manejo nutricional é o principal fator e até existe aquele velho ditado, […] que com certeza você conhece: o cio entra pela boca. Então isso quer dizer que existe uma correlação muito forte entre nutrição e reprodução”, afirmou.

Na sequência, detalhou a correlação. “A prioridade fisiológica da vaca não é emprenhar, é se manter viva, depois produzir leite para o bezerro, depois crescer, recuperar escore corporal. Depois de tudo isso que ela precisa fazer, ela entra em cio. Então se não tiver um bom manejo nutricional, não adianta. Vaca magra não emprenha! Vaca passando fome não emprenha!”, exclamou.

 

Antes de pensar na suplementação, entretanto, Gonsalves observou a importância do manejo de pasto, a base para a nutrição. “E o manejo de pastagem entra aí como carro-chefe. É importante a suplementação, importantíssimo, mas é o ‘tempero da salada’, enquanto o pasto é o prato principal. Um bom manejo de pastagem, tanto nas águas quanto na seca, um pasto de boa qualidade, bem dividido, bem dimensionado, com bons cochos, bebedouros, uma boa suplementação… Então o bom planejamento nutricional é fundamental, tanto para vacas, touros, como para bezerros e novilhas de reposição”, explicou.

 

Já para a suplementação, Gonsalves separou as necessidades por duas categorias e em dois momentos: vacas multíparas e primíparas tanto nas águas como seca.

“Você precisa dividir primeiro em duas fases, a fase das águas e fase seca. Na época das águas, quando vai ocorrer estação de monta, […] você tem um pasto com maior qualidade, maior valor nutricional, melhor teor de proteína, digestibilidade, uma maior disponibilidade de pasto. Para vacas multíparas, aquelas com mais de uma cria, um sal mineral linha branca, um sal mineral com 80-90 gramas de fósforo por quilo, esse sal mineral 80-90 para vacas multíparas na época das águas está muito bom. Associado com pasto de boa qualidade, um bom suplemento mineral, um sal 80-90, vai atender a necessidade dessa vaca multípara que já completou seu crescimento. Na época seca do ano, para essa mesma vaca multípara, você pode usar um suplemento mineral com ureia. Isso vale para vacas multíparas com bom escore corporal, associado, é lógico, com pasto vedado. O pasto é o principal, não adianta dar proteinado sem pasto – não resolve, pois o pasto é o principal sempre”, realçou.

Depois, especificou a suplementação das novilhas da primeira cria, as primíparas. “Já para vacas primíparas, aquelas de primeira cria, elas apresentam uma exigência nutricional a mais, isso porque elas estão crescendo ainda. Então elas sentem mais o primeiro parto, […] ela vai apresentar um longo período de serviço, um longo intervalo entre partos e vai demorar muito para emprenhar. […] Ela tem uma exigência nutricional a mais e tudo é novo para ela, o primeiro parto, o primeiro bezerro, ela tem que produzir leite, recuperar escore corporal, e crescer para poder entrar em cio, então às vezes ela não entra. Pode acarretar um bom período de serviço, ela vai emprenhar muito tempo depois do parto e isso sempre prejudica a sua eficiência reprodutiva”, advertiu.

Para preparar da forma adequada essas fêmeas para a reprodução, o zootecnista deu a seguinte orientação. “Para essa primípara, nas águas, um proteinado de água 0,1%. Você pega uma fêmea de 400 kg comendo 400g de proteinado, o que já resolve o problema dela. Você vai fornecer mais nutriente para ela, ajuda a recuperar o escore corporal. Essa vaca vai recuperar o escore corporal, entrar em cio rapidamente após o parto. E, na seca, também, um proteinado de secas 0,1% para ajudar essa vaca a manter esse escore corporal, manter sua gestação e parir também com bom escore, o que é fundamental para a vaca entrar em cio novamente após o parto”, aconselhou.

 

Em meio a todas as sugestões para aumentar produtividade da cria, Gonsalves também sustentou a execução de uma estação de monta. “Um bom manejo reprodutivo com implantação de estação de monta. Gado de cria hoje sem estação de monta não tem razão de existir. Não existe mais monta o ano todo, com o touro ficando solto com a vacada o ano todo, vaca parindo o ano todo, bezerro nascendo o ano todo. Isso desprograma a fazenda todinha. Mas eu preciso programar, implementar uma boa estação de monta, bem definida e bem delimitada, para identificar as vacas que estão emprenhando, descartar as vacas vazias, ter esses bezerros mais homogêneos, fazer a vaca emprenhar e parir na hora certa”, estimulou.

O consultor lembrou ainda dos cuidados com a sanidade animal. “Um bom manejo sanitário, com as principais vacinas e vermifugações. Um calendário sanitário profilático adequado para você manter a saúde dos seus animais é fundamental, o cuidado com essas crias… Você vai ter uma estação de nascimento de três ou quatro meses e, nessa estação de nascimento, concentra mão de obra ali para você ver se o bezerro ingeriu o colostro, faz a cura do umbigo, faz tudo certinho para você ter bezerro, ter baixa taxa de mortalidade de bezerro. Tem fazenda que chega a 10%, mas o ideal é abaixo de 5% de mortalidade. Então tudo isso é fundamental. Planejamento , entender que a fase de cria é uma fase complexa e demanda muito cuidado. Você, que decide trabalhar com gado de cria, precisa prestar atenção nisso aí tudo”, sustentou.

 

Gonsalves encerrou sua entrevista fazendo um convite para as lives diárias no canal do Portal da Pecuária pelo YouTube, todos os dias, das 19h às 21h, e mencionou os cursos sobre diversos temas do universo pecuário disponíveis pelo site de sua plataforma, o portaldapecuaria.com.

 

Assista a entrevista completa com o zootecnista e doutor em produção de ruminantes João Gonsalves Neto:

 

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