Em participação no Giro do Boi desta terça-feira, dia 29, o especialista em genética de gado leiteiro Guilherme Marquez, zootecnista e gerente nacional de produto leite da central Alta Genetics, respondeu mais uma série de dúvidas de telespectadores sobre genética para gado leiteiro.

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Em participação no Giro do Boi desta terça-feira, dia 29, o especialista em genética de gado leiteiro Guilherme Marquez, zootecnista e gerente nacional de produto leite da central Alta Genetics, respondeu mais uma série de dúvidas de telespectadores sobre genética para gado leiteiro.

Antes de iniciar a sessão, Marquez celebrou o bom momento vivido pela agropecuária brasileira, reconhecido em meio a um turbilhão de dificuldades impostas pela pandemia. “É até pecado a gente falar que a pandemia serviu para a gente compreender o mercado, que a gente está muito mais próximo do produtor…. O produtor hoje está online! O produtor hoje pega o Whatsapp, ele está perguntando muito mais, está buscando muito mais informação. Seria até um sacrilégio a gente falar que a pandemia ajudou o agronegócio. Mas, na verdade, o agronegócio nunca parou, o agronegócio se movimenta demais, ele não pode se dar ao luxo de parar e acaba produzindo muito. E esse movimento pelo qual a gente passa foi justamente para as pessoas entenderem que a gente existe, que está no dia a dia produzindo aquele alimento”, comentou.

Marquez também informou como está se comportando especificamente o mercado de genética. “O mercado está ótimo, está comprador e crescendo. Nós estamos muito preocupados em aumentar a central, trazer mais produtos, poder ofertar muito mais porque a demanda está muito grande. E a gente vem contabilizando crescimentos assustadores porque as pessoas entenderam que a genética, independentemente do ambiente em que ela está, funciona. E a genética é uma situação que nós coordenamos, que nós fazemos a escolha. Quando você escolhe melhorar os seus animais geneticamente, você está fazendo a sua parte e isso é controlável por você. Não é a chuva, não é o pasto. Hoje nós estamos experimentando um clima de 8 a 9º C de manhã e isso a gente não controla, por exemplo. Mas colocar a boa genética no rebanho, isso a gente controla. Então está sendo muito prazeroso isso e está muito bom, mas desafiador ao mesmo tempo porque crescer com qualidade não é fácil”, ponderou.

Veja a seguir a sessão de perguntas e respostas:

– Tenho novilhas holandesas a pasto aqui no Paraná. Não sou produtor, tenho animais para o meu gasto, e gostaria de colocar um sêmen de uma raça que seja resistente a parasitas e verminoses. Meu pasto não é muito bom. O que me recomendaria? (Ivan Silva, de Guarapuava-PR)

Marquez: Eu recomendaria um touro Gir leiteiro, de família Gir leiteiro. Se for inseminação, use um touro provado. Já existem várias pesquisas, que datam de 1970, se não me engano, pesquisas feitas pela Embrapa Gado de Leite, em que eles analisaram quantidade de carrapato, verme e berne. De acordo com os estudos deles, comparando animais provenientes do Zebu até taurinos, o Gir leiteiro é um dos mais resistentes nessa proporção. E quando você põe o cruzamento do Gir leiteiro com as vacas holandesas, a gente faz a famosa F1 Girolando, que é aquela vaca rústica, bruta e sistemática. É uma vaca que aguenta desafio até falar chega! Mas muito boa de leite!

– Tenho umas vacas Jersey e estou tratado com a cana-de-açúcar e ureia bovina na época da seca, mas elas continuam magras. O que eu poderia usar para completar a alimentação delas e que não encareceria muito o meu trato?

Marquez: Todo animal tem uma demanda, que a gente chama de demanda de mantença, de crescimento e de produção. Essas demandas estão relacionadas com quantidade e qualidade de alimentação. Para entender isso, a gente tem que saber o seguinte: sabe aquele prato que a gente come no almoço, que tem que ter arroz, feijão, salada, uma carne, um ovo… Aquilo são combinações de proteína, de energia, de fibra e a vaca precisa disso também. A cana-de-açúcar, por exemplo, nós estamos falando de uma forrageira que traz 3% a 4% de proteína bruta. É pouco! Então nós precisamos aumentar essa proteína. […] Esse animal vai precisar pelo menos de uns 18% a 20% de proteína bruta na sua alimentação para poder desempenhar pelo menos o papel de crescer, de engordar […]. E aí gente usa ureia. Então você está correta em usar ureia. É bom a gente lembrar do enxofre também junto com a ureia, a gente pega um pouquinho de sulfato de amônia para colocar numa proporção de 90% ureia, 10% sulfato de amônia para fazer com que esse nitrogênio possa multiplicar a população microbiana e poder quebrar essa cana de uma forma mais eficiente.
[…]
Quando se põe essa ureia, a gente aumenta a proteína para 10% a 11%. Se a gente está precisando de 20% de proteína, nós precisamos, então, encontrar alguma forma de aumentar essa proteína. E aí a gente tem todos os produtos ou subprodutos. Eu quero que fique claro para o nosso telespectador o seguinte: um produto é considerado proteico quando ele passa de 18% de proteína. Então qualquer produto mais fácil que você vai encontrar na sua região e que passe dos 18% de proteína, beleza! Se for palatável, né? Aí a gente pode utilizar na nossa alimentação.
[…]
Para responder a Isabel, a gente tem que lembrar a primeira coisa: eu estou trabalhando com a quantidade correta de cana e ureia? 100 kg de cana, 1 kg de ureia. Eu estou fazendo isso corretamente? O que eu posso adicionar a mais? O que eu gosto muito e fica barato, por exemplo, e não depende de nada, são os bancos de proteína. O que é isso? São pequenos lotes de pasto, pequenos pastos que a gente planta leguminosas como leucena e até soja. E aquele banco de proteína serve para complementar. Para ficar bem prático, calcule as suas vacas, o quanto elas pesam, se estão produzindo leite, multiplique isso por uma escala. Ela vai ter que comer de 2,5% a 3,5% de matéria seca do peso vivo. Então se uma vaca tem muita produção, ela come mais. Se tem pouca produção, ela come menos. Então se a sua vaca está comendo de 2,5% a 2,8% de matéria seca nesse caso do Jersey, a gente vai conseguir fazer alguma coisa. Confira se a vaca está comendo a quantidade exata que ela precisa. Segunda coisa, vamos complementar a proteína com qualquer produto proteico palatável para a vaca para você chegar em 20% de proteína. E aí você tem N produtos. A gente já falou aqui do banco de proteína, você pode usar caroço de algodão, pode usar farelo de soja… Mas depende do preço para você entrar. Mas faça o primeiro ponto. Estou usando a cana e a ureia corretamente? Se sim, passe para o segundo, que é escolher um produto para complementar a sua alimentação.

– Acha que dá certo vaca nelore em touro Girolando pra fazer vaca leiteira? Os bezerros eu quero para engordar. (Cleube Chimango, de São Félix do Xingu-PA)

Marquez: Eu sempre falei disso, que ao combinar uma raça de corte com uma raça de leite, o resultado não é o que você gostaria que fosse. Eu sempre acreditei que esse propósito duplo (dupla aptidão) de uma raça perde em alguns lugares. O que acontece quando eu pego um touro Girolando e coloco numa vaca Nelore é que eu tenho o efeito heterose, ou seja, eles são distantes de parentesco. Quando eu coloco esses dois animais, existem algumas explosões genéticas que podem fazer dar certo. Eu posso fazer um animal mais rústico, eu posso fazer um animal mais precoce. Você tem que entender que tudo isso vem das características de cada raça. Eu posso ter uma vaca cruzada boa de leite? Sim! Mas será a média da população? Não! Então o que é legal eu fazer? […] Eu pegaria parte da fazenda, parte do gado, utilizaria Nelore para Nelore, e em outra parte eu colocaria uma raça mais específica ainda em leite, que seria o Holandês. Aí eu faria um Nelorando, que pode até dar um resultado um pouquinho melhor para você ter no leite, aproveitar as suas fêmeas. Os machos vão ter um metabolismo muito bom, podem ser considerados animais que vão ganhar peso. Então nesse caso eu colocaria Holandês nas vacas Nelore.

– Quero uma ajuda para a fazenda da família em Pai Pedro-MG, do ladinho de Janaúba, uma fazenda média de produção de leite. No gado de corte, temos reprodutores Nelore e usávamos nas novilhas mestiças leiteiras, que eram pouco aproveitadas na ordenha. Resolvemos trocar pelo Guzerá de genética leiteira. Será que fizemos uma boa troca para aproveitar mais as novilhas pra ter um bezerro bom pra corte e que se adapte ao semiárido? (Romário Teixeira, de Coromandel, no norte de Minas Gerais)

Marquez: Ali, naquelas regiões mais altas de Minas Gerais, a gente tem experimentado e viu que o Guzerá leiteiro tem um resultado muito bom, principalmente quando a gente fala na estrutura corporal dos animais. A gente vai subindo de Curvelo para cima, Curvelo que é a meca do Guzerá do Brasil, e vê que o resultado é muito bom. O cruzamento do Guzerá é excelente para esse propósito que ele quer. Às vezes, por ele trabalhar com umas vacas mestiças, quer dizer, elas tiveram influência do taurino, no caso, provavelmente do Holandês, ele pode perder um pouquinho de leite, mas o Guzerá leiteiro já tem uma seleção de mais de 20 anos para leite. Então a indicação que eu falaria para ele, e eu sei que ele está usando touro, mas seria ou buscar ou touros de fazendas que realmente trabalham o programa de melhoramento genético ou utilizar sêmen de touros provados da raça Guzerá leiteiro. Ele vai ter um ótimo resultado com rusticidade com produção de leite e também com estrutura corporal dos animais.

– Sou pequeno produtor em MG e novo no ramo. Tenho vacas Girolando e gostaria de melhorar meus bezerros. Qual a raça mais indicada para este cruzamento? (Pedro Santos Silva, de Vitória-ES)

Marquez: Ele ficaria buscando um touro Girolando ⅝ para que ele possa então criar esse volume corporal. E se ele achar touros puros sintéticos, ainda vai ser bem melhor. Nós temos touros puros sintéticos no mercado muito bons, com boa carcaça, o que vai fazer a sua filha ter leite e o seu macho ser volumoso corporalmente falando.

– Qual a melhor raça para o cruzamento com vacas Girolando? Por aqui, prevalecem pequenas e médias propriedades de pecuária leiteira com a raça Girolando. Entretanto, a raça pura que teve maior adaptação na região foi o Guzerá. Mas devido ao temperamento da raça e a falta de experiência dos tratadores e criadores com esses animais, a raça foi sendo abolida na localidade. No ES, inclusive, o Guzerá teve grande destaque, porque foi uma das raças que mais se adaptou à região. Em especial, do criatório do selecionador Napoleão Fontenele. Outra raça que se adaptou bem à região foi o Brahman e, atualmente, temos a chegada do Senepol. (Davi ngelo Vasconcelos, de Guaçuí-ES)

Marquez: A primeira coisa que ele deve ter é um objetivo. O que acontece? No cruzamento de qualquer raça com uma outra raça em que as duas são distantes geneticamente, a gente é favorecido pelo efeito heterose, então a gente acha todas as F1 maravilhosas! Só que a gente não entende realmente o que cada raça está trazendo. Eu, ‘Guilherme Marquez de Rezende’, colocaria o Girolando provado nas minhas vacas, ou touros com avaliação genômica, para que eu pudesse fixar cada vez mais essas características que o Girolando de boa produção traz, que é a rusticidade, produção de leite e adaptabilidade ao nosso clima, independente de onde ele está localizado no Brasil. Não é à toa que nós estamos comemorando dois milhões de animais registrados pela Associação Brasileira dos Criadores de Girolando. Então tem muitas histórias boa para contar e todas baseadas em fatos. Hoje nós temos um crescimento da raça muito grande. Não estou falando isso porque eu sou girolandista, mas sim como técnico e baseado em dados e fatos.

– Crio vacas da raça Jersey, meio-sangue Jersey e meio sangue Gir Leiteiro. Colocar um touro de raça de corte para tirar bezerros para corte vale a pena? Também consigo manter o leite? Eu estava pensando em colocar um touro Caracu para criar bezerros pesados. (Thiago Gomes, de Registro-SP)

Marquez: Pode ser uma boa ideia. A gente já viu também alguns cruzamentos que dão muito certo quando a gente usa a base como o Jersey. Isso vem lá do Procruza, vem lá de antigamente, de 1977, mais ou menos. O uso do Sindi, por exemplo, junto com o Jersey, não dá problema de parto, que é a grande coisa que a gente quer no Jersey, porque ele é um animal pequeno, e os animais ainda são muito rústicos. Eu também gosto do Sindi. Mas com o Caracu o meu grande receio é só a parte de facilidade de parto porque a gente sabe que no Jersey a gente também uma distância um pouco mais estreita de ísquio, aqueles dois ossinhos que a gente tem na garupa do animal, em que a cauda vai no meio,. Então a gente tem que se preocupar com a facilidade de parto nesse caso. Então escolher uma raça para cruzar com Jersey de tamanho moderado para baixo é o ideal.

– Quero saber do Guilherme Marquez qual o melhor capim para gado leiteiro. Tenho Gir no norte de Minas em sistema rotacionado. Seria interessante irrigar uma parte dele para melhoria da produção? (Victor Alkimim, de Montes Claros-MG)

Marquez: Claro que sim! É preciso saber que a gente trabalha com alguns pilares quando a gente vai formatar uma pastagem para os animais. A primeira delas é conhecer como está o nosso solo e aí ele precisa fazer o levantamento de análise de solo para verificar as correções necessárias. Todo solo precisa de correções ou complementações. O segundo passo é observar como estão as forragens que ele tem, se elas estão adaptadas, se elas estão bem… Porque a gente vai ter pragas e doenças nessas forrageiras e a gente precisa ver se elas estão adaptadas. E o terceiro passo é olhar qual é a exigência do grupo de animais que ele vai trabalhar. Se eu vou trabalhar com animais de pastejo para produção de leite, eu tenho que lembrar que eles precisarão comer demais, aí eu preciso ofertar muito para esses animais. Se eu vou trabalhar com recria dos animais, eu preciso entender o quanto eles vão comer. Se eu tiver água suficiente, um solo corrigido e conhecer todas essas doenças, pragas e também exigências do meu rebanho, a irrigação vem muito bem. E aí você vai aprender a manejar pasto. Porque aí não adianta você irrigar pasto e deixar perder ou até superlotar o pasto e mesmo com a irrigação você tem um pasto degradado. Isso é complicado.

– Tenho vaca Pardo-Suíço e estou pensando em jogar o Girolando em cima. O que você acha? (Antônio Vieira de Abreu, da Fazenda Abobreira, em São Geraldo do Araguaia, no Pará)

Marquez: Também já vi muito cruzamento de Pardo-Suíço com Girolando. São duas raças que são irmãs de características, mas são diferentes de localidade. O Pardo-Suíço, dentro do mundo taurino, é uma das raças mais rústicas, com os cascos fortes, um animal adaptado. Quando eu cruzo os dois, eu já vi animais bem interessantes. São animais extremamente fortes no anterior e animais de excelentes pernas e pés. Agora a produção de leite vai ficar na média dos pais.

Qual é a sua dúvida sobre cruzamento para gado de leite? Envie para o programa no link do Whatsapp do Giro do Boi, pelo número (11) 9 5637 6922 ou ainda pelo e-mail girodoboi@canalrural.com.br.

As respostas do especialista na íntegra seguem disponíveis no link abaixo:

Bryce Cunningham, um produtor de leite escocês, proprietário de uma fazenda orgânica em Ayrshire (Escócia), lançou um produto lácteo para agregar valor ao leite de sua fazenda, que é um produto de ótima qualidade, sem aditivos, e é um exemplo de economia circular.

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