ESPMEXENGBRAIND
3 out 2025
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Iniciativa em Minas Gerais busca catalogar bactérias do fermento natural e manter vivas as características únicas do queijo artesanal.
Queijoteca
Projeto da Epamig: Proteger a identidade e o futuro dos queijos artesanais mineiros.

O Queijo Minas Artesanal, símbolo da cultura gastronômica de Minas Gerais, carrega em sua massa muito mais do que sabor e tradição. Ele traz histórias de famílias, regiões e técnicas transmitidas de geração em geração. Mas, para além da memória e da identidade, os queijos mineiros também são fruto de um universo invisível e poderoso: os microrganismos que dão vida ao fermento natural, conhecido como pingo.

Para preservar esse patrimônio, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) deu início ao projeto “Queijoteca Artesanal”, que pretende catalogar, conservar e estudar as bactérias lácticas presentes no pingo, garantindo não apenas a segurança alimentar, mas também a manutenção da diversidade e das especificidades sensoriais que distinguem cada queijo mineiro.

O que é a Queijoteca Artesanal

A Queijoteca surge como um acervo microbiológico vivo. O objetivo é identificar e armazenar amostras de microrganismos coletados nas dez regiões produtoras reconhecidas do Queijo Minas Artesanal, como Serra da Canastra, Serro, Campo das Vertentes, Araxá, entre outras.

Segundo os pesquisadores, o acervo servirá tanto para preservação genética, evitando a perda dessa biodiversidade, quanto para pesquisas futuras que possam ajudar produtores a aprimorar técnicas sem descaracterizar a tradição.

“A ideia é unir ciência e tradição, garantindo que o queijo produzido daqui a cem anos mantenha o mesmo vínculo com o território e com a cultura que temos hoje”, explica a equipe técnica da Epamig.

O papel do pingo

O pingo é um fermento natural obtido da própria produção do queijo. Ele contém colônias de bactérias lácticas que, ao serem adicionadas ao leite cru, aceleram a fermentação, definem a textura e desenvolvem o sabor característico do queijo mineiro.

Cada região — e até mesmo cada fazenda — tem seu pingo particular. É justamente essa singularidade que torna os queijos artesanais únicos. No entanto, sem registro ou conservação, parte dessa diversidade pode se perder ao longo do tempo, comprometendo o futuro do produto.

Metas do projeto

Entre as principais metas da Queijoteca estão:

  • Isolamento e identificação das bactérias lácticas presentes no pingo.

  • Criação de um acervo microbiológico que represente a diversidade de todas as regiões produtoras de Minas.

  • Estudo do potencial probiótico dessas bactérias, que podem ter aplicações não apenas na produção de queijo, mas também na saúde humana.

  • Avaliação do antagonismo dos microrganismos contra bactérias indesejáveis ou patogênicas, aumentando a segurança alimentar.

  • Análise das condições de maturação (umidade, temperatura, ventilação) e seu impacto sobre a microbiota e o sabor final do queijo.

Investimento e rede de apoio

O projeto é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), com investimento de R$ 2,1 milhões. Ele é realizado em parceria com a Rede Mineira de Pesquisa em Queijos Artesanais (RMQA) e conta com a participação de associações de produtores e queijeiros de diversas regiões.

Essa abordagem colaborativa é fundamental para que os resultados não fiquem apenas no campo acadêmico, mas se transformem em ferramentas práticas de apoio ao produtor artesanal.

Do laboratório à fazenda

Um dos diferenciais da Queijoteca é sua metodologia participativa. A coleta de amostras e os testes são feitos em diálogo direto com os produtores, que veem no projeto uma oportunidade de proteger sua tradição e ao mesmo tempo agregar qualidade.

Na região do Campo das Vertentes, por exemplo, o trabalho inclui testes de armazenamento do pingo nativo e acompanhamento de maturação controlada dos queijos. O objetivo é entender como fatores ambientais e práticos influenciam a microbiota e, consequentemente, o sabor final.

A experiência da família Tarôco

Entre os produtores parceiros está a Queijaria Tarôco, localizada no Campo das Vertentes. A família começou a produção em 2013, enfrentou dificuldades e quase desistiu. Foi em 2015, com a retomada da mãe à frente da produção, que os queijos ganharam corpo e conquistaram a primeira certificação estadual. Hoje, os Queijos Tarôco circulam por todo o Brasil e atraem turistas em rotas gastronômicas.

Desafios pela frente

Apesar do entusiasmo, os pesquisadores reconhecem os desafios:

  • Preservar a diversidade real de microrganismos sem reduzi-la a cepas padronizadas.

  • Conciliar os avanços tecnológicos com a manutenção da identidade regional.

  • Estender os resultados a pequenos produtores, que muitas vezes têm acesso limitado a recursos.

  • Monitorar impactos do clima, do manejo e de mudanças ambientais sobre o pingo.

Conclusão

O projeto Queijoteca Artesanal marca um passo histórico na proteção do Queijo Minas Artesanal. Ao catalogar e preservar os microrganismos do pingo, a iniciativa fortalece o elo entre ciência e tradição, garantindo que as próximas gerações possam degustar queijos com o mesmo sabor, aroma e textura que emocionam os mineiros há séculos.

Mais do que um estudo científico, a Queijoteca é um gesto de cuidado com a memória, o território e a identidade de Minas Gerais.

Adaptado para eDairyNews, com informações de Agência Minas

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