Quando os sócios Marcelo Lima e Pedro Peixoto decidiram reunir as investidas da 10b – gestora da SK Tarpon — em uma só companhia de tecnologia para pecuária, a dupla já sabia das vantagens que uma plataforma ‘one stop shop’ poderia oferecer aos clientes e, claro, a investidores potenciais. Menos de seis meses após o lançamento da Rúmina, ecossistema montado a partir de R$ 30 milhões em investimentos da 10b nos últimos anos, a startup acaba de fechar uma rodada série A, trazendo investidores externos para a era da pecuária com inteligência artificial e internet da coisas (IoT).
De partida, a Rúmina nasceu com uma base de dados que reúne informações de 7 mil fazendas, um rebanho leiteiro de 1,3 milhão de vacas, o que permitiu a criação da Rúmi, uma inteligência artificial que consegue estimar as chances de cura de um animal com mastite, por exemplo, e o risco para concessão de crédito a pecuaristas. A junção de soluções pavimentou a chegada dos investidores que lideram a rodada.
A Barn Investimentos liderou o aporte e traz track record em inovação no agro. Uma das pioneiras no venture capital para agtechs, a gestora de Flavio Zaclis apostou bem cedo na Strider, companhia mineira vendida à Syngenta, no primeiro M&A entre uma startup agrícola brasileira e uma gigante do agro.
“O agro é um setor peculiar, mas a gente se sente confortável. O mercado vem evoluindo. Na época da Strider, o momento era de soluções únicas, mas cada vez mais se quer soluções integradas e a Rúmina é uma plataforma integrada”, diz Zaclis.
Na rodada, a Rúmina também trouxe a Indicator Capital para a base acionária, atraindo uma gestora de venture capital conhecida por investimentos em inteligência artificial. Com R$ 300 milhões sob gestão, a firma criada por Fabio Iunis de Paula e os irmãos Derek e Thomas Bittar já investiu na Beegol — que ajuda a melhorar as conexões de internet — e na iugu, fintech de automação financeira que já atraiu o Goldman Sachs.
No ano passado, a Indicator levantou R$ 240 milhões em um fundo com a tese de investimentos em IoT que contou com o BNDES e a Qualcomm Ventures como âncoras. “A Rúmina se encaixa no que a gente estava olhando, com um sistema de inteligência que consegue atender o produtor de forma mais completa”, emendou Iunis, que fica baseado no Vale do Silício — antes de criar a Indicator, o gestor trabalhou na Intel Capital, braço de investimentos da fabricante de processadores.
Juntas, Barn e Indicator investiram R$ 17 milhões na Rúmina. O restante do capital foi aportado por um grupo de anjos e fundos brasileiros e estrangeiros. “Vamos usar os recursos para melhorar a tecnologia e trazer novas soluções”, conta Marcelo Ferreira, o empreendedor que criou e toca o Ideagri — software para gestão de fazendas que faz parte das investidas da 10b reunidas na Rúmina.
A companhia também não descarta fazer M&As, notadamente para agregar soluções de internet das coisas para a plataforma, disse Laerte Cassoli, que desde o lançamento é o CEO da Rúmina. Agrônomo, o executivo era o cabeça por traz de um dos principais investimentos da 10b, a OnFarm — a agtech desenvolveu um hardware as service que facilita o diagnóstico de mastite em vacas leiteiras, o que permitiu economizar 230 mil doses de antibióticos e a perda de mais de 7 milhões de litros de leite.
Na Rúmina, a 10b reuniu sob um mesmo guarda-chuva startups como OnFarm, Ideagri, Volutech (startup mineira que criou um sensor para monitorar, em tempo real, a qualidade do leite nos tanques das fazendas) e Rúmicash, a fintech da plataforma que já está oferecendo crédito para os produtores de leite.
Com de mais de 7 mil fazendas na plataforma — que perfaz o equivalente a 10% do leite produzido no Brasil —, a Rúmina aproveitou a massa de dados para desenvolver a Rúmi, uma inteligência artificial que ajuda com insights para grandes laticínios (Danone, Vigor, Scala e e Coca-Cola estão entre os clientes) e recomendações para os pecuaristas, e um sistema proprietário de score de crédito.
A rodada também deve ajudar a Rúmina a ganhar tração em crédito, disse Peixoto, o sócio da 10b que acompanha os investimentos. “Temos mais de R$ 30 milhões no pipeline para atender”, disse ele. Tipicamente, a startup dá o crédito por meio de parceria com os laticínios, antecipando os recursos aos pecuaristas.
“O produtor entrega o leite no mês, mas ele pode recebe em até 60 dias. Nós conseguimos antecipar e o laticínio já desconta o pagamento do crédito nas parcelas de pagamento do leite”, conta Cassoli. Até agora, a Rúmicash oferece crédito com prazos que vão de 6 a 12 meses. O funding vem de parceiros.
No longo prazo, Peixoto vê grande potencial na fintech. “Os 13 maiores laticínios do país movimentam mais de R$ 15 bilhões”, diz. Com as soluções que vem reunindo, a Rúmina imagina alcançar 300 mil pecuaristas, entre produtores de gado de corte e leite.