Essas zoonoses são alvo de um forte trabalho que envolve setor público e privado  
brucelose e tuberculose
(Foto: Unsplash)

Já reconhecida internacionalmente como área livre de febre aftosa sem vacinação e também como livre de peste suína clássica sem vacinação, Santa Catarina se encaminha para atingir um novo nível de excelência na sanidade animal. O estado busca agora erradicar a brucelose e a tuberculose bovina, zoonoses que colocam em perigo a saúde pública e o agronegócio catarinense.

O que é brucelose bovina

A Brucelose Bovina é uma doença que acomete principalmente bovinos e búfalos. É uma zoonose, ou seja, pode ser transmitida ao ser humano por contato com animais infectados e é causada pela bactéria Brucella abortus.

A Brucelose é disseminada no parto ou aborto da vaca infectada. Neste momento, trilhões de bactérias são eliminadas no ambiente, e é no contato com os líquidos e tecidos provenientes desse parto que acontece o contágio: na ingestão de água e pastagem contaminada com restos de aborto e também no momento da lactação.

O contágio no humano acontece, principalmente, pela via oral, na ingestão leite cru e seus derivados não pasteurizados vindos de animais contaminados. O contato com restos de placenta e fetos abortados no campo também é um forma de transmissão da brucelose.

De acordo com a médica veterinária Karina Diniz Baumgarten, da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), os principais sintomas da brucelose nos bovinos e bubalinos são os abortos, retenção de placenta e produção de bezerros mais fracos, porém após algumas gestações a vaca pode produzir bezerros normais e o produtor não perceber que o animal está doente. Já nos humanos a brucelose o sintoma mais característico é a febre noturna, que se prolonga de sete a 10 dias, dependendo do caso.

— Com a febre ocorre suor intenso com cheiro de palha podre que é bastante característico da brucelose. Outros sintomas são cansaço, depressão, dor generalizada nos ossos e músculos, mal-estar, dores de cabeça, debilidade, inchaço e dor nas grandes articulações como joelhos, quadril e ombros, perda de peso e inflamação dos testículos (em homens) — explica

O que é tuberculose bovina

A tuberculose também é causada por uma bactéria, o Mycobacterium bovis. Afeta principalmente bovinos e bubalinos, e, assim como a brucelose, é transmissível ao ser humano.

Nos bovinos a doença pode não apresentar sintomas, pois a tosse e a perda de peso comuns de serem referidas à tuberculose ocorre apenas quando a doença já está bastante crônica e em animais que estão em más condições de manejo e com alimentação deficitária. Como a doença afeta o úbere, ocorre perda na produção leiteira. Mas maiores perdas ocorrem no momento do abate, pois as lesões que ocorrem em diversos órgãos e tecidos, como pulmões, fígado, baço, intestinos e parte interna das carcaças, levam à condenação do animal sem utilização para o consumo. No humano, os sintomas são febre, tosse, expectoração, perda de peso e queda do estado geral, característicos da tuberculose pulmonar.

Animais infectados transmitem a doença ao eliminar a bactéria pelo leite, urina, secreções respiratórias, sêmen e fezes. Isso pode contaminar água e pastagem, infectando o rebanho. Já para o humano, o contágio acontece principalmente na ingestão de leite, queijos e outros derivados crus.

Controle das doenças

Tanto a tuberculose quanto a brucelose são problemas se saúde pública e um problema também econômico. Segundo o médico veterinário do núcleo Oeste Antonio Zanini, essas zoonoses são impeditivos para expansão da exportação de carne e leite.

— Para quem exporta, essas zoonoses são entraves na exportação para muitos países, cujas exigências sanitárias impõem cada vez mais restrições. Por isso existe um trabalho intenso aqui na região oeste para identificar esses animais e garantir a saúde e segurança do produtor e do consumidor — explica.

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Não existe cura para a tuberculose e para a brucelose nos animais. Ao ser identificado um animal positivo para qualquer uma das duas doenças, o abate sanitário deve ser realizado. De acordo com estimativas da Embrapa, as perdas anuais com a tuberculose bovina no mundo girem em torno de 3 bilhões de dólares.

Para os humanos, SC conta com o Protocolo de Brucelose Humana, coordenado pela Diretoria de Vigilância Epidemiológica (DIVE), que fornece assistência médica para o tratamento gratuito da doença. A Tuberculose humana também é assistida por um programa específico na DIVE.

Fiscalização Agropecuária

De acordo com dados da Secretaria de Estado da Agricultura, Pesca e Desenvolvimento Rural, Santa Catarina possui um rebanho de aproximadamente 4,4 milhões de bovinos. Todos os anos são realizados em média 300 mil exames para detectar a presença de cada uma dessas zoonoses no rebanho catarinense.

Todos os exames realizados no rebanho são feitos por médicos veterinários habilitados e laboratórios veterinários credenciados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Além dos exames de sangue, são feitos testes periódicos em tanques de leite de propriedades e em abatedouros como forma de vigilância ativa..

A médica veterinária Priscilla Beleza, diretora da Cidasc, explica que o controle em Santa Catarina é ainda mais preciso por conta da identificação e rastreabilidade do rebanho.

— Como todos os bovinos e bubalinos catarinenses são identificados e toda sua movimentação é registrada, conseguimos saber quem é o produtor e realizar novos exames, ou colher mais amostras no resto de seu rebanho — afirma.

Por isso, para o produtor movimentar animais de reprodução (gado de corte e de leite) é necessário ter os exames sanitários de brucelose e de tuberculose com resultado negativo. Entretanto, para movimentar animais de engorda não é exigido exame. A diretora Priscila explica que o motivo desta regra é simples:

— Como os animais só irão engordar e seguir para o abate, não haverá reprodução, logo as fêmeas não sofrerão um possível aborto por brucelose, por isso essa movimentação não é considerada um risco sanitário. Porém, comprar animais como engorda e depois colocar estes animais para a produção de bezerros ou de leite leva o rebanho ao risco de infecção por brucelose, pois a novilha ou vaca que foi adquirida não tinha o exame sanitário que comprovasse que ela não tinha a doença — finaliza a especialista.

Certificação de propriedades livres de brucelose e tuberculose

Santa Catarina conta hoje com mais de 750 propriedades certificadas como livres de brucelose e tuberculose pela Cidasc, com apoio do Icasa. Essa certificação é opcional para produtores de bovinos, mas obrigatória para produção de queijos artesanais de leite cru.

Para ser certificada, a propriedade deve passar por uma bateria de exames sanitários repetidos num intervalo de 6 a 12 meses e fazer o controle de movimentação e suas divisas. Uma vez certificada como livre, essa propriedade pode, por exemplo, vender reprodutores sem exigência de novos testes. Produtores de leite certificados como livres também podem receber bonificações das empresas de laticínios no pagamento do leite.

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