O sorvete voltou ao centro de uma polêmica nas redes sociais e em grupos de consumidores no Brasil, especialmente após discussões sobre a presença de água como primeiro ingrediente nos rótulos. Para esclarecer o tema, o vice-presidente da Associação Brasileira do Sorvete e Outros Gelados Comestíveis (ABRASORVETE), Roque Dalcin, detalhou os processos industriais e as razões técnicas por trás da composição do produto, reforçando que a prática está amparada pela legislação e é comum em toda a indústria de alimentos.
Segundo Dalcin, o ponto de partida é o próprio leite, base de grande parte das formulações de sorvete. No estado natural, o leite é composto por aproximadamente 87% de água. Para garantir segurança, padronização e estabilidade logística, muitos fabricantes utilizam leite em pó como principal ingrediente lácteo. O produto é seguro, de longa durabilidade e permite um controle mais rígido de qualidade em toda a cadeia.
Durante a fabricação, o leite em pó é reidratado, o que explica por que a água aparece como primeiro item da lista de ingredientes nos rótulos. Isso não significa que o sorvete tenha “mais água do que leite”, mas sim que a legislação determina que os ingredientes sejam listados de acordo com a proporção utilizada na formulação total. Como a água é responsável pela recomposição do leite e também pela estrutura do sorvete, sua presença tem peso significativo na mistura.
Dalcin destaca que essa etapa é absolutamente padronizada e fiscalizada. “A recomposição segue percentuais rigorosos definidos em normas específicas. Não se trata de diluição inadequada ou de redução de qualidade, mas de um procedimento técnico reconhecido internacionalmente”, afirma. A prática também está presente em outros alimentos industrializados, como iogurtes, bebidas lácteas, molhos e produtos panificados.
Além de ser necessária para reconstituir o leite, a água desempenha um papel essencial na textura, cremosidade e incorporação de ar — característica fundamental do sorvete. A água, ao congelar, interage com açúcares, gorduras e proteínas para formar a estrutura cristalina que determina a sensação na boca. Uma quantidade inadequada pode comprometer o produto, deixando-o duro demais ou sem cremosidade.
Outro ponto que costuma gerar dúvidas é se o uso de leite em pó altera o valor nutricional da preparação. De acordo com o vice-presidente da ABRASORVETE, isso não ocorre: “O leite em pó mantém proteínas, cálcio e micronutrientes essenciais da mesma forma que o leite in natura”. O sorvete, dependendo da formulação, pode carregar vitaminas A, B1, B2, B6, C, D e K, além de minerais importantes como cálcio e fósforo.
Dalcin reforça que, apesar de ser frequentemente visto como sobremesa, o sorvete é um veículo eficiente para uma variedade de ingredientes: frutas, vegetais, cereais e até proteínas adicionais, dependendo da proposta comercial. “É possível ter formulações mais leves, diet, funcionais ou proteicas. O sorvete é muito mais versátil do que se supõe”, comenta.
A ABRASORVETE também orienta que os consumidores leiam os rótulos com atenção para identificar ingredientes, valores nutricionais e características específicas de cada produto. Sorvetes à base de água, à base de leite ou mistos apresentam perfis diferentes, e a escolha deve levar em conta preferências pessoais e necessidades nutricionais.
A entidade ressalta que não há diferença negativa entre leite em pó e leite in natura no contexto da fabricação do sorvete. Ambos são seguros, nutritivos e regulamentados. O que muda é a praticidade e a precisão tecnológica proporcionada pelo leite em pó, que garante maior controle sobre o resultado final.
Diante da repercussão recente, Dalcin afirma que a indústria está comprometida com transparência e qualidade. “O consumidor pode confiar na segurança do sorvete fabricado no Brasil. Seguimos padrões rigorosos, atendemos às normas nacionais e internacionais e trabalhamos para entregar produtos saborosos, seguros e nutritivos”, conclui.
A ABRASORVETE lembra ainda que o consumo moderado, dentro de um estilo de vida equilibrado, faz do sorvete um alimento que pode integrar a dieta sem prejuízos. Em um mercado cada vez mais diversificado, a leitura criteriosa dos rótulos e o conhecimento sobre os processos ajudam o consumidor a fazer escolhas mais informadas.
Escrito para o eDairyNews, com informações de Ciencia do Leite






