Cidades da região sul do estado de Minas Gerais vêm se destacando em concursos que participaram nos últimos anos. Baependi e Alagoa estão a cerca de 60km de distância entre si e formam o circuito do café com queijo, duas iguarias muito apreciadas pelos mineiros e que, em alguns meses, conquistaram mais de 15 medalhas em premiações nacionais e internacionais.
Baependi não tinha uma forte expressão para seus cafés até bem pouco tempo. Com uma produção voltada para o mercado local e a agricultura familiar, vinha apresentando dificuldade melhorar sua produção e aumentar o escoamento de seus produtos. Porém, recebeu ao todo seis prêmios no CUPPING do ATeG Café+Forte de 2021. premiação que avaliou os melhores cafés de Minas Gerais. Na categoria “Arábica Natural”, a cidade faturou as três melhores colocações na região, e duas entre as três melhores do estado.
Alagoa tem uma produção de queijo com mais de 200 anos de história, tendo desenvolvido uma variedade de parmesão que hoje recebe o nome “Queijo Tradicional d’Alagoa”. Um grupo de produtores da cidade fez história na ExpoQueijos Internacional deste ano, em Araxá, faturando 11 medalhas, sendo quatro de ouro, três de prata e outras quatro de bronze. No prêmio CNA Brasil Artesanal Queijos 2022, foram duas medalhas, uma de prata e uma de bronze.
Mudando Rumos
Ronaldo Maciel é, hoje, considerado o produtor do melhor café arábica natural do estado de Minas Gerais, alcançando uma pontuação de 88,07 pontos na análise técnica e sensorial. Ele recebeu a faixa de campeão do Marcelo dos Santos, segundo colocado em 2021 e campeão em 2020, alcançando 90,3 pontos. Esse ano ele marcou 87 pontos e completou o pódio estadual em terceiro lugar. Ele afirma que a aproximação com o Sistema FAEMG, trouxe melhorias até mesmo para a autoestima do produtor. “Agradeço muito, ao sindicato e ao Senar, por terem se envolvido, pois temos esse apoio que nunca tivemos. Antes não éramos reconhecidos. Sempre fizemos bons cafés, mas nunca tínhamos participado de concursos”, disse Marcelo. O campeão atual enfatizou que as melhorias em gestão e manejo auxiliaram na qualidade e no resultado alcançado pelo seu produto. “Se eu estou onde estou hoje, é por conta do sindicato que reuniu os produtores e levou os técnicos lá na fazenda. A diferença começa já na lavoura. Plantar e colher na hora certa, selecionar o fruto, secar em terreiro suspenso. Fazendo o simples, mas com qualidade, no capricho!”., afirmou Ronaldo.
Aperfeiçoando a Qualidade
Em Alagoa, o grupo de ATeG Agroindústria de Derivados Lácteos começou a inserir mudanças principalmente na administração do negócio. A técnica de campo, Renata de Paoli, explica que esse tipo de assistência tem a capacidade de causar mudanças profundas na vida do produtor rural. “Com anos de experiência trabalhando na melhoria contínua de produtos e processos, percebo que quando focamos em qualidade, os resultados vêm. E no caso específico deste grupo, os resultados são potencializados considerando se tratar de um queijo artesanal tão único, que só existe ali e em nenhum outro lugar do mundo”, enfatizou.
Para o gerente regional do Sistema FAEMG, Wander Magalhães, o choque de gestão implementado pelo ATeG pode causar grandes mudanças na vida do produtor. “Alagoa já tem tradição na produção do queijo e o faz com bastante maestria, mas o ATeG tem uma coisa interessante, pois o processo de gestão dessas propriedades era inexistente. Isso somou muito para o produtor, principalmente na redução de custo e precificação, que eles não sabiam de maneira contundente como fazer, além de melhorias técnicas que foram sugeridas nas propriedades” disse.
O queijo mais famoso de Alagoa atualmente vem sendo produzido pelo senhor Francisco Antônio de Barros, proprietário da queijaria Sabor da Alagoa e que produz seus queijos junto da esposa, os filhos e noras. Ele recebeu uma medalha de ouro na premiação de Araxá, uma de prata no prêmio do CNA e outra de prata em Araxá ano passado. “A gente participa de concursos sempre que pode. Ganhar um prêmio em um concurso desse tamanho é um grande reconhecimento do nosso trabalho, nos mostra que estamos no caminho certo”.
O Valdeci Mendes, da Fazenda Bugio, venceu em duas categorias, queijos aromatizados de massa cozida madurado e queijo de leite cru de vaca com massa cozida meia cura na ExpoQueijos Araxá. Com mais de 40 anos na produção leiteira, ele disse que ainda há espaço para aprendizado, e que o ATeG veio para melhorar ainda mais o seu produto. “Mostra o que não está funcionando e incentiva bastante a melhorar. A gente já fazia um levantamento básico de custo antes e agora está cada vez melhor”, afirmou.
Ademir Mendes vem colecionando medalhas. No periodo de um ano, são três medalhas de ouro e uma de prata na ExpoQueijos Araxá. O queijo da Fazenda JM, saiu vencedor na categoria queijos aromatizados de massa cozida meia cura, com o queijo d’Alagoa feito com café. Ele disse que participar da assistência melhorou os ânimos, na propriedade e aumentou as perspectivas de futuro do negócio. “Hoje a gente tem acompanhamento de tudo, medimos a qualidade do leite, pesamos o produto diariamente, tenho muito mais noção do custo da minha produção, hoje eu sei quanto custa fazer meu queijo”.
O que é o ATeG
A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (FAEMG) é uma entidade que defende os interesses políticos, econômicos e sociais da categoria. Tem 386 sindicatos filiados e desenvolve ações juntamente com o SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) para capacitar gratuitamente produtores através de cursos de FPR (Formação Profissional Rural) e PS (Promoção Social). Através do SENAR, mais de 200 mil pessoas são atendidas anualmente em todas as regiões do estado. O gerente do escritório regional do Sistema FAEMG em Juiz de Fora é Wander Magalhães.
Uma das ações desenvolvidas pela federação para alavancar as cadeias produtivas e melhorar o desempenho de agropecuaristas de todo o estado, é o Programa de Assistência Técnica e Gerencial, o ATeG. Nesse programa, um técnico especialista na área de atuação daquela propriedade, oferece assistência gratuita para o produtor rural, capacitando-o a desenvolver ações técnicas e gerenciais, além de promover a atualização tecnológica, modernizando a vida no campo. Os grupos têm entre 20 e 30 produtores, que podem ser de diversas cidades em uma mesma região, mas sempre dentro da mesma cadeia produtiva. As principais capacidades técnicas desenvolvidas dizem respeito a boas práticas de fabricação e higiene, melhoria no aproveitamento de matéria prima, aumento na qualidade e no controle de qualidade dos produtos, saúde animal ou da lavoura, dentre outras. Já na parte gerencial, são apresentadas ferramentas para identificar os custos, ter uma precificação justa, divulgação e distribuição de produção, dentre outras capacidades. A assistência tem duração de dois anos, e cada produtor rural do grupo tem direito a uma visita de 4h por mês, para assistência durante todo o período.