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29 set 2025
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Queijos brasileiros premiados na França podem perder seus nomes no Brasil.
🌍 Do ouro ao impasse: os queijos brasileiros e a barreira dos nomes
🌍 Do ouro ao impasse: os queijos brasileiros e a barreira dos nomes.

Os queijos brasileiros conquistaram reconhecimento mundial ao garantirem 58 medalhas na 7ª edição do Mondial du Fromage et des Produits Laitiers, realizado em Tours, na França, entre 14 e 16 de setembro.

Foi um resultado histórico: o Brasil se tornou o segundo país mais representativo do evento, atrás apenas dos anfitriões franceses, com quase 300 produtos inscritos. A avaliação coube a 220 jurados internacionais, que premiaram o país com 10 medalhas de ouro, 18 de prata e 30 de bronze.

Esse feito comprova a excelência e a diversidade da queijaria nacional, tanto artesanal quanto industrial. No entanto, por trás do brilho das medalhas, surge um desafio que pode redefinir o futuro de muitos desses produtos: a restrição ao uso de nomes tradicionais protegidos pela União Europeia (UE).

Durante a competição, os queijos foram identificados apenas pelo país de origem, sem destaque para o laticínio ou produtor responsável. Ainda assim, nomes como “Parmesão”, “Brie”, “Gouda”, “Camembert” e “Gorgonzola” estiveram entre os premiados.

O problema é que esses mesmos termos estão prestes a se tornar exclusivos de produtos europeus, caso o Acordo Mercosul-União Europeia seja ratificado.

Esse tratado, em fase final de negociação, prevê a proteção das Indicações Geográficas (IGs) europeias. Assim, nomes consagrados só poderão ser utilizados por queijos produzidos em suas regiões originais, como o Parmigiano Reggiano na Itália ou o Gorgonzola, também italiano.

No Brasil, onde esses nomes foram empregados legalmente por décadas como descrição de estilo, a mudança representará uma ruptura drástica.

Segundo documentos da União Europeia, como o Anexo 13-E do acordo, algumas empresas foram registradas como “usuários prévios” e, sob condições restritas de rotulagem, poderão continuar usando certos nomes.

No entanto, ao cruzar informações, constata-se que nenhum dos produtores brasileiros premiados em Tours figura nessas listas de exceção. Trata-se, em grande parte, de pequenos e médios empreendimentos que se consolidaram com base em denominações amplamente aceitas pelo mercado interno.

A consequência imediata será a necessidade de retirar esses nomes das embalagens após a assinatura do acordo. Isso implica custos financeiros e estratégicos: será preciso reconstruir identidades de marca, reposicionar produtos, investir em comunicação para reeducar consumidores e lidar com a perda de valor associada a denominações que já carregam tradição e reconhecimento.

A conquista em solo francês evidencia que a qualidade do queijo brasileiro não está em questão. O verdadeiro desafio, agora, é de ordem comercial e regulatória.

Para muitos especialistas, o setor precisa se preparar com urgência para um processo de rebranding em massa, capaz de valorizar a originalidade brasileira e reduzir a dependência de nomes estrangeiros.

Termos genéricos como “queijo azul” ou “queijo tipo italiano ralado” podem ser alternativas, mas ainda carecem de apelo junto ao consumidor.

A transição exigirá suporte do governo e das entidades representativas do setor lácteo. Sem orientação adequada, os produtores mais vulneráveis — justamente os artesanais e de menor escala, que conquistaram prestígio internacional — correm o risco de perder competitividade no mercado interno e externo.

O episódio em Tours revela uma contradição: ao mesmo tempo em que o Brasil mostra ao mundo a qualidade dos seus queijos, enfrenta a ameaça de ver sua produção descaracterizada por restrições legais. A batalha pelo paladar foi vencida na França, mas a próxima, pela sobrevivência comercial com novos nomes, será ainda mais complexa.

Como defende a mestre e doutora em Reprodução Animal pela USP, Roberta Zuge, conselheira do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), é urgente discutir o impacto do acordo para os produtores nacionais.

O CCAS, entidade privada fundada em São Paulo em 2011, reúne especialistas que pautam suas ações na ética, na ciência e na transparência, reforçando a importância de políticas claras para garantir sustentabilidade e competitividade ao agronegócio brasileiro.

A experiência internacional demonstrou que o Brasil tem talento e qualidade reconhecidos no setor queijeiro.

Agora, o tempo de agir é curto: é necessário transformar a conquista em estratégia e apoiar os produtores para que a identidade dos queijos brasileiros não se perca no rótulo, mas siga conquistando mercados pelo sabor e pela excelência.

 

*Adaptado para eDairyNews, com informações de  Portal e TV Fator Brasil

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