A reformulação tornou-se o eixo central da nova estratégia da Nestlé USA em um momento de clara mudança no comportamento do consumidor americano.
Com Marty Thompson no comando desde janeiro, a companhia iniciou uma revisão profunda do portfólio, marcada internamente por um “senso de urgência” diante da retração nos gastos das famílias e da transformação nas preferências alimentares.
Segundo a liderança da empresa, a reformulação não se limita a ajustes pontuais, mas representa uma redefinição de prioridades. A Nestlé USA passou a concentrar recursos em “menos e maiores apostas”, abandonando a lógica de inovação excessivamente pulverizada que marcou ciclos anteriores. O objetivo declarado é fortalecer marcas-chave, recuperar relevância em categorias estratégicas e criar novas ocasiões de consumo em um mercado cada vez mais competitivo.
Um dos pilares dessa reformulação é o uso extensivo de testes cegos de sabor. A empresa informou que cerca de 75% de seu portfólio será submetido a esse tipo de avaliação até o final de março, comparando seus produtos tanto com concorrentes diretos quanto com opções de delivery e refeições prontas. A leitura interna é clara: sabor voltou a ser um fator decisivo para o consumidor, especialmente em um contexto de orçamento mais restrito.
Os resultados desses testes têm impacto direto nas decisões de desenvolvimento. Em alguns casos, a reformulação envolve mudanças completas de receitas, abrindo espaço para novos sistemas de ingredientes, melhoradores de sabor e soluções de textura. Em outros, o diagnóstico aponta para ajustes mais sutis, mas igualmente estratégicos, com foco em consistência, perfil sensorial e experiência de consumo.
A reformulação também alcança as embalagens. A Nestlé USA passou a revisar formatos e tamanhos de porção como resposta à busca por maior acessibilidade de preço. Um exemplo recente citado pela empresa foi a introdução de unidades individuais de Hot Pockets, desenhadas para atender consumidores que priorizam controle de gastos sem abrir mão de conveniência.
Além do portfólio, a reformulação se estende à própria estrutura organizacional. A companhia decidiu fundir divisões estratégicas para refletir melhor a jornada de compra do consumidor. Pizzas, snacks e refeições prontas passaram a operar sob uma mesma unidade, enquanto cafés e creamers foram reunidos em outra frente integrada. De acordo com executivos, essa reorganização busca acelerar decisões, reduzir silos internos e aproximar áreas de inovação, marketing e operações.
Esse redesenho ocorre em paralelo a um movimento global de redução de custos. A Nestlé anunciou o corte de cerca de 6% de sua força de trabalho mundial — aproximadamente 16 mil posições — ao longo dos próximos dois anos, com a meta de gerar economias estimadas em US$ 3,8 bilhões. Embora a medida faça parte de um plano corporativo mais amplo, ela reforça a pressão por eficiência em todas as unidades de negócio.
Ainda assim, a liderança da Nestlé USA mantém um discurso confiante. Presente em cerca de 97% dos lares americanos, a empresa acredita que a reformulação permitirá um desempenho acima da média do setor de alimentos e bebidas. Internamente, a avaliação é que a combinação entre escala, marcas consolidadas e decisões mais rápidas cria uma base sólida para capturar valor mesmo em um ambiente desafiador.
Para analistas do setor, a estratégia sinaliza uma mudança relevante de postura. Em vez de multiplicar lançamentos, a Nestlé USA passa a tratar a reformulação como ferramenta de competitividade, usando dados de consumo real para orientar investimentos. A aposta é que produtos melhores ajustados às expectativas do consumidor consigam defender margens, preservar volume e sustentar crescimento no médio prazo.
Nesse contexto, a reformulação deixa de ser apenas uma resposta tática e assume papel estrutural. Ao alinhar produto, embalagem e organização interna, a Nestlé USA busca reposicionar seu portfólio para um consumidor mais seletivo, sensível a preço e cada vez menos disposto a tolerar experiências medianas. O sucesso dessa estratégia, agora, dependerá da capacidade de transformar diagnósticos rápidos em execução consistente nas gôndolas.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Portal A|I






