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29 out 2025
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Produtores de leite do Paraná vão bloquear a PR-323 para denunciar a crise de preços e cobrar medidas do Governo Federal.
leite

Os produtores de leite do Paraná decidiram transformar a estrada em palco de resistência. Na próxima sexta-feira, 31 de outubro, a rodovia PR-323, no trevo de Cafezal do Sul, será parcialmente bloqueada a partir das 9h da manhã. O protesto, anunciado por lideranças rurais como os vereadores Jeferson Mecânico e Vagner Micheloni, pretende chamar a atenção das autoridades para a grave situação da cadeia produtiva do leite no estado.

A manifestação será pacífica, garantem os organizadores, e contará com o apoio de produtores de municípios vizinhos como Pérola e Alto Piquiri. A meta é clara: pressionar o Governo Federal por medidas urgentes de apoio econômico. Segundo Micheloni, o produtor de leite está vendendo abaixo do custo. “Hoje, recebemos cerca de R$ 2,20 por litro, enquanto o custo de produção ultrapassa R$ 2,40. Ninguém consegue se manter assim por muito tempo”, afirmou ao Jornal Ilustrado.

Uma luta que saiu do campo e chegou à política

Na semana anterior ao anúncio da manifestação, Micheloni e um grupo de cerca de 600 produtores paranaenses estiveram em Curitiba, acompanhando uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP). O encontro reuniu deputados estaduais e lideranças políticas dispostas a discutir soluções para a crise.

O resultado foi uma conquista simbólica, mas significativa: a aprovação do projeto de lei que proíbe a reconstituição de leite em pó importado no Estado. A proposta, de autoria do deputado Luis Corti (PSB), busca evitar a concorrência desleal que prejudica o produtor local. O texto aprovado impede que indústrias e laticínios utilizem leite em pó, composto lácteo ou soro importado para reconstituir e vender como leite fluido.

“O Paraná é um dos principais produtores de leite do Brasil, e milhares de famílias dependem dessa atividade. Permitir a reconstituição de leite importado significa colocar o pequeno produtor em risco”, explicou Corti durante a votação.

A vitória parcial que inspira o Brasil

O projeto, construído em diálogo direto com o setor, contou com o apoio do presidente da ALEP, Alexandre Curi, que destacou a unidade entre governo, base e oposição como fator decisivo. Para os produtores, a lei é um passo inicial de uma luta maior que precisa se estender a outros estados e ao Congresso Nacional.

De acordo com Micheloni, o movimento pretende inspirar uma ação nacional contra a entrada de leite desidratado, especialmente da Argentina, onde os custos de produção são mais baixos. “Não é uma guerra comercial, é uma questão de sobrevivência. O produtor brasileiro precisa competir em igualdade de condições”, afirmou.

Além da importação: demandas sociais e produtivas

As reivindicações não se limitam ao comércio exterior. O grupo também propõe ajustes em programas estaduais de distribuição de leite, aumentando de 3 para 4 anos a idade máxima das crianças beneficiadas e ampliando o critério de renda per capita familiar de meio salário mínimo para 0,75.

Essas mudanças, explicam os organizadores, poderiam fortalecer o consumo interno e valorizar o produto nacional. “Quando o governo compra leite brasileiro, o dinheiro fica na economia local e ajuda a manter as famílias no campo”, argumentou Micheloni.

Tradição e modernidade: o dilema do leite paranaense

O contraste entre tradição e mercado global está no centro do debate. Enquanto o Paraná preserva uma das cadeias lácteas mais antigas do país — com cooperativas históricas e gerações de famílias dedicadas à pecuária leiteira —, enfrenta a pressão dos custos crescentes e da abertura às importações.

Com mais de 200 mil famílias envolvidas na produção, o setor representa não apenas uma atividade econômica, mas também uma identidade regional. “Cada litro de leite carrega o trabalho de quem acorda antes do sol. O produtor não quer esmola, quer respeito”, resumiu um dos participantes da audiência, sob aplausos.

O próximo passo

As lideranças do movimento esperam que o protesto na PR-323 tenha repercussão nacional. A ideia é que o exemplo do Paraná mobilize outros estados e pressione o governo por políticas estruturantes: crédito rural acessível, regulação das importações e valorização da produção local.

Enquanto o tráfego será interrompido por poucos minutos, o eco do protesto promete durar muito mais. Entre o som das buzinas e os gritos de “valorize o leite brasileiro”, os produtores paranaenses querem mostrar que, mesmo diante da crise, a tradição rural do país ainda resiste — e exige ser ouvida.

*Escrito para o eDairyNews, com informações de Jornal Ilustrado

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