Danone insiste na compra da Lifeway Foods, líder de kefir nos EUA
A Danone está avaliando, pela terceira vez em menos de um ano, a compra da Lifeway Foods, empresa norte-americana líder na produção de kefir, conforme documento submetido à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC).
O novo capítulo dessa possível aquisição ocorre em meio a disputas internas entre membros da família fundadora da Lifeway e litígios judiciais com a multinacional francesa.
As negociações entre as duas empresas ganharam novo fôlego após a assinatura de um acordo de confidencialidade no dia 1º de agosto, permitindo a análise de uma eventual transação.
Segundo o documento protocolado, as partes têm até 15 de setembro para chegar a um consenso, com possibilidade de prorrogação por mais uma semana. No entanto, o documento também destaca que não há garantia de que o negócio será concretizado.
Essa é a terceira tentativa de aquisição por parte da Danone.
No ano passado, a empresa francesa apresentou duas ofertas para comprar a Lifeway: uma de US$ 25 por ação e outra de US$ 27 por ação, ambas rejeitadas pelo conselho da companhia norte-americana, que considerou as propostas abaixo do real valor de mercado da empresa.
Relação histórica e participação acionária
A Danone possui cerca de 23% das ações da Lifeway Foods desde 1999, quando ambas firmaram um acordo de acionistas.
Esse acordo confere à Danone certos direitos estratégicos, como o poder de veto sobre a emissão de novas ações.
Em março deste ano, a francesa chegou a processar a Lifeway por emitir US$ 6,5 milhões em ações para a CEO Julie Smolyansky sem sua autorização prévia.
A Lifeway respondeu judicialmente, alegando que o acordo original estaria invalido por não ter sido aprovado unanimemente.
Disputa familiar e instabilidade na gestão
Paralelamente à tentativa de aquisição, a Lifeway enfrenta uma disputa de poder interna.
Ludmila Smolyansky, cofundadora da empresa, e seu filho Edward estão promovendo uma votação para destituir todo o conselho administrativo, inclusive a CEO Julie Smolyansky — filha de Ludmila.
A votação (“consent statement”) deveria se encerrar na sexta-feira passada, mas Edward afirmou à imprensa que pretende manter o processo aberto por mais tempo.
O novo acordo entre Danone e Lifeway impede que a multinacional interfira diretamente nas deliberações do conselho ou na votação até o prazo de 15 de setembro.
No entanto, caso não haja um acordo até essa data, a Danone declarou que apoiará a proposta de Ludmila e Edward para reformular o conselho.
Um mercado valioso e em crescimento
A Lifeway Foods detém uma posição dominante no mercado norte-americano de kefir, controlando cerca de 95% da categoria.
O crescimento da empresa nos últimos anos é expressivo: suas vendas quase dobraram em cinco anos, atingindo US$ 186,8 milhões em 2024. Esses números explicam o interesse contínuo da Danone na aquisição, ainda mais em um cenário global de busca por produtos fermentados e funcionais.
Julie Smolyansky, atual CEO, declarou à revista Barron’s que “o conselho da Lifeway continuará atuando no melhor interesse dos acionistas, inclusive considerando uma venda justa”.
Por enquanto, o conselho permanece cauteloso em relação às propostas da Danone, principalmente diante da valorização da empresa no mercado e das tensões internas.
Expectativas e possíveis desfechos
Ainda não está claro como a nova fase das negociações afetará os litígios existentes entre as partes. O histórico de desentendimentos judiciais, somado às disputas familiares, pode dificultar ou até inviabilizar a transação.
Contudo, o apoio estratégico da Danone à reformulação do conselho pode ser um indicativo de que a empresa francesa pretende retomar o controle das decisões na Lifeway e, eventualmente, viabilizar a aquisição em termos mais favoráveis.
Para a Danone, o negócio representaria um reforço importante no mercado norte-americano, especialmente em categorias saudáveis e em expansão como o kefir.
Para a Lifeway, a decisão dependerá do equilíbrio entre o valor da proposta, os interesses dos acionistas e o desfecho da disputa familiar que ameaça a estabilidade da companhia.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de CNN Brasil