O leite segue firme como um dos alimentos mais presentes na mesa do brasileiro — e também como um dos mais carregados de história, ciência e curiosidades. Mesmo em um mercado que evolui rapidamente, com novas tecnologias e mudanças no consumo, o leite permanece como protagonista. Dados do Censo Agropecuário do IBGE mostram que cada brasileiro consome, em média, 116,7 litros por ano no mercado formal, confirmando a força desse alimento dentro e fora das cozinhas do país.
A relação da humanidade com o leite, porém, começou muito antes do surgimento das indústrias ou das geladeiras modernas. Pesquisadores lembram que, há cerca de 10 mil anos, durante a Revolução Agrícola, comunidades humanas passaram a domesticar animais como vacas e cabras, iniciando a produção contínua de leite. A partir daí, o ser humano se tornou o único mamífero a consumir leite durante toda a vida adulta — um hábito que atravessou civilizações e permanece até hoje.
Pensando na presença desse alimento no cotidiano, a goiana Marajoara Laticínios, com 37 anos de atuação no setor, reuniu quatro curiosidades que ajudam a explicar por que o leite ainda desperta tanta atenção. A seguir, eDairyNews Brasil apresenta cada uma delas, com contribuições de especialistas em nutrição, ciência dos materiais e tecnologia industrial.
1) Por que o leite é branco?
A explicação vem da química. A professora e pesquisadora Mariana Munik, mestre em Engenharia de Materiais e Nanotecnologia, afirma que as proteínas são as grandes responsáveis pela cor do leite. “A literatura mostra que a caseína, que representa cerca de 80% das proteínas do leite, é a principal causadora do tom branco”, explica. Ela acrescenta que fatores como a dieta dos animais, a espécie produtora e as condições de armazenamento podem modificar a tonalidade, deixando-a levemente amarelada.
2) Adolescentes precisam de mais leite do que crianças
A ciência reforça a importância do leite na fase de crescimento. Um estudo publicado no The Journal of Nutrition analisou jovens entre 2 e 17 anos e constatou que cada 236 ml adicionais de leite consumidos por dia se relacionava, em média, a um aumento de 0,39 cm na altura. Ou seja: o leite não é apenas nutritivo — ele desempenha grande influência na formação óssea e no desenvolvimento físico na infância e adolescência.
3) O que é o leite UHT?
O famoso leite longa vida passa por um tratamento térmico chamado UHT, sigla para ultra-high temperature. Na Marajoara Laticínios, o leite chega diretamente de produtores parceiros e é recebido em tanques refrigerados. Antes de seguir para a linha de pasteurização, uma amostra passa por testes rigorosos de qualidade.
Quando aprovado, o leite segue para o processo térmico em que tubulações de água quente chegam a 140°C, enquanto outras operam a 1°C. O diretor-geral da empresa, Vinícius Junqueira, explica que essa combinação garante segurança e durabilidade: “No envase, eliminam-se 99,9% das bactérias. Por isso, o leite pode durar até quatro meses fechado. Depois de aberto, sua validade cai para dois dias, porque passa a ter contato com o ar e com microrganismos do ambiente”.
4) Intolerância à lactose não é o mesmo que alergia ao leite
Muitas pessoas confundem intolerância à lactose com Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV). A nutricionista Yumi Kuramoto esclarece as diferenças. “A intolerância ocorre quando falta lactase, enzima que digere a lactose. Hoje existem opções sem lactose e tratamentos para esse público”, afirma.
Já a APLV envolve o sistema imunológico: a caseína e outras proteínas são reconhecidas como invasoras, provocando reações inflamatórias. “Por isso, quem tem APLV não pode consumir nenhum tipo de leite animal, com ou sem lactose”, reforça a especialista.
Com história, ciência e tecnologia, o leite continua ocupando um espaço singular na alimentação brasileira — e, ao que tudo indica, seguirá assim por muitos anos.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Guaíra News






