O leite e os produtos lácteos fazem parte da rotina de milhões de pessoas ao redor do mundo, mas a percepção sobre seus benefícios e riscos ainda é cercada de equívocos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o consumo médio individual chegou a 299 kg de leite e derivados em 2023, segundo dados do Departamento de Agricultura. Apesar de tão presente na dieta, muitos mitos sobre o leite persistem — e indignam nutricionistas e especialistas.
Conversamos com renomados profissionais da área para desvendar cinco ideias erradas que circulam com frequência sobre o consumo de lácteos.
Mito 1: o leite é essencial para uma dieta saudável
Embora a leite tenha sido uma fonte crucial de nutrientes em épocas de escassez, atualmente, muitos adultos não precisam dele para suprir suas necessidades nutricionais.
Amy Joy Lanou, professora de Nutrição da UNC Gillings School, afirma: “O maior mito em torno do leite de vaca é que ele é um alimento necessário. As evidências científicas não sustentam isso.”
Um copo de leite desnatado fornece mais de 300 mg de cálcio — cerca de um terço da recomendação diária. No entanto, estudos recentes mostram que a ingestão de leite não altera significativamente o risco de fraturas ósseas.
Outras fontes, como sardinhas enlatadas, vegetais de folhas verdes e carnes magras, oferecem proteínas, cálcio e vitamina B12 em quantidade semelhante, como explica Alice Lichtenstein, da Universidade de Tufts.
Mito 2: produtos lácteos baixos em gordura são sempre mais saudáveis
Desde a década de 1980, autoridades americanas recomendam leite e derivados com baixo teor de gordura para reduzir o consumo de gorduras saturadas. Mas pesquisas recentes questionam essa orientação. Segundo Dariush Mozaffarian, cardiologista da Tufts, “as evidências não suportam uma escolha universal entre leite integral ou desnatado”.
Um estudo de 2018 analisou 16 pesquisas e constatou que pessoas com maiores níveis de gordura láctea no sangue apresentavam menor risco de diabetes tipo 2. A recomendação ideal, portanto, depende de preferência pessoal, calorias desejadas e objetivos de saúde.
Mito 3: bebidas vegetais são mais nutritivos que o leite de vaca
As alternativas vegetais — soja, amêndoas, aveia — podem parecer mais saudáveis, mas nem sempre fornecem proteínas completas, cálcio e vitaminas equivalentes às do leite de vaca. Algumas ainda contêm açúcares adicionados e sódio, que podem prejudicar a saúde se consumidos em excesso.
Uma revisão de 2024 sobre leites vegetais destacou que a qualidade das proteínas varia bastante. O leite de vaca é fonte de proteína completa, contendo os nove aminoácidos essenciais, enquanto algumas opções vegetais não oferecem essa composição.
Mito 4: quem é intolerante à lactose deve evitar todos os laticínios
Pessoas com intolerância à lactose produzem pouca lactase, a enzima que digere a lactose, podendo ter sintomas como gases, diarreia e inchaço. No entanto, certos produtos, como queijos duros, manteiga e iogurtes fermentados, contêm pouca lactose e podem ser consumidos moderadamente.
Além disso, suplementos de lactase ou produtos lácteos sem lactose tornam possível aproveitar os benefícios do leite sem desconforto. Kara Lynch, nutricionista da Michigan State University, lembra que “não é necessário eliminar os lácteos da dieta, apenas escolher versões adequadas”.
Mito 5: leite cru é mais saudável
A ideia de que o leite não pasteurizado mantém mais nutrientes é enganosa. A pasteurização destrói apenas pequenas quantidades de alguns nutrientes, sem impacto significativo na saúde. Já os riscos de contaminação — salmonela,
E. coli, listeria — são reais e podem ser graves, especialmente para crianças. Lanou alerta: “Não vale a pena arriscar, principalmente com os pequenos.”
Em resumo, a ciência mostra que os lácteos podem fazer parte de uma alimentação equilibrada, mas escolhas conscientes são essenciais. O consumo deve levar em consideração necessidades individuais, preferências e tolerâncias, sem se deixar levar por mitos antigos ou campanhas de marketing.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de LA NACION






