De acordo com gerente de novos negócios da Xandô, aumento dos custos de produção e perda de renda do consumidor preocupam mais neste momento
A isenção do imposto de importação de 28% da mussarela baixada pelo governo federal em 21 de março não está na lista de preocupações principais do Laticínio Xandô, da Fazenda Colorado, que detém há nove anos consecutivos a liderança no ranking nacional da produção de leite e produz leite premium e sucos. No ano passado, a Fazenda Colorado, de Araras (SP), produziu uma média de 85.465 litros de leite por dia.
Luiz Guilherme Pasetti de Souza, gerente de novos negócios da Xandô e integrante da terceira geração da família dona da Colorado, diz que a medida certamente impacta toda a cadeia, mas a variação dos preços do leite não afeta a Xandô porque ela não precisa comprar o produto de terceiros.
O que “tira o sono” de toda a cadeia, diz Pasetti, é o aumento dos custos de produção, que são precificados em dólar. “Não conseguimos repassar esse custo para o consumidor porque a economia está andando de lado, a inflação está subindo e o poder aquisitivo do consumidor está menor”, diz o diretor acrescentando que, por esses motivos, parte do consumidor do leite A está migrando para o tipo UHT de caixinha, mudando de categoria, devido ao preço.
“Em uma pesquisa qualificada com consumidores do nosso produto, ouvimos de um pai que ele está comprando leite A apenas para o filho. Ele e a mulher tomam leite comum e o próximo passo é tirar o leite A do filho.”
Segundo o diretor de novos negócios, só de janeiro a março, a Xandô teve aumentos de 12% no caroço de algodão, 19% na soja, 24% no farelo de soja e 6% no milho, itens que compõem a ração, que representa 70% dos custos de produção. Houve aumento também de 25% no diesel e 10,5% do dissídio, além de altas do custo de energia, insumos e embalagens.
Esses números foram informados aos clientes na segunda quinzena de março para justificar o aumento de 10% a 12% do produto, que é vendido nos pontos de venda de São Paulo entre R$ 7 e R$ 7,50. O último repasse de preços, de 5%, tinha ocorrido em novembro.
Alto padrão
O aumento dos custos não impediu a Xandô de lançar há três meses o leite integral A2, produzido por vacas holandesas. “Do mesmo jeito que tem a categoria caindo, o mercado tem também a boca do jacaré, pessoas com alto poder aquisitivo, o cliente AAA que gosta de inovações”, explica Pasetti. Segundo ele, o mais complicado para o lançamento do novo produto foi testar e separar todo o plantel de 2.300 vacas em lactação para identificar quais tinham a beta-caseína A2A2.
Sem a proteína A1, esse leite superpremium não desencadeia reações inflamatórias no organismo que provocam a má digestão ou fermentação, mas não é livre de lactose. Pasetti diz que ainda não dá para mensurar as vendas do novo produto, mas estima um mercado de 5% a 6% para esse tipo de leite e diz que existem poucos players nesse mercado, entre eles o Laticínio Letti, da fazenda Agrindus de Roberto Jank, quinta colocada no ranking de produção com média diária de 64.6141 e que começou a investir nesse produto em 2018.
“Também não dá para prever os rumos do mercado de leite neste ano, que como os outros setores alimentícios depende da evolução do PIB e sofre efeitos da queda do dólar, da eleição e da guerra entre Rússia e Ucrânia. A inflação precisa estabilizar para o setor crescer.”
Essa indefinição levou a Xandô, que não revela o faturamento, a segurar novos investimentos neste ano. Nos últimos anos, a fazenda investiu na obtenção do selo de bem-estar animal da QIMA/WQS, que passa agora a ser incluído em todo leite produzido na fazenda.
Um segmento que está em ascensão na empresa, segundo Pasetti, é o de sucos: além do suco de laranja produzido com fruta própria, a Xandô colocou no mercado sucos de tangerina, limonada siciliana, uva, maçã e mix. O segmento já representa 12% do faturamento da empresa.
Medida inoportuna
Para o produtor de leite Mauricio Silveira Coelho, do Grupo Cabo Verde, de Passos (MG), décimo no ranking de produção com média diária de 44.824 litros, a isenção do queijo importado é muito inoportuna e pode fazer um estrago lá na frente no negócio do leite.
“O queijo é um artigo relativamente de luxo, especialmente o importado, e não vai beneficiar o consumidor de baixa renda, que é quem precisa ser cuidado agora com os custos de alimentação muito altos. A isenção facilita para os importadores entrar aqui com um produto que vai competir com nosso leite e não impacta a inflação.”
Coelho diz que está acompanhando e apoiando a movimentação de entidades do setor, como a Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), que está reivindicando a revogação das isenções junto ao Ministério da Economia.