O whey protein (proteína do soro de leite) se popularizou como aliado de quem treina pesado para aumentar os músculos: a hipertrofia muscular. O suplemento contém todos os aminoácidos essenciais —inclusive os não produzidos pelo nosso organismo—, compostos que favorecem a recuperação e construção muscular e participam de diversas funções em nosso corpo. E, por esse alto valor biológico, o produto vai muito além das academias.
As proteínas são nutrientes essenciais para o funcionamento do nosso organismo. Esses macronutrientes, junto dos carboidratos e gorduras, têm funções em diversas atividades fisiológicas, seja na síntese de enzimas, hormônios, células do sistema imunológico ou na construção de tecidos, como cartilagens e músculos.
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Diferente de carboidratos e gorduras que nossos organismos são capazes de armazenar, as proteínas não têm estoques no nosso corpo. Ou seja, o almoço à vontade em uma churrascaria não vale a pena por semana: é necessário se alimentar de fontes proteicas diariamente e nas quantidades adequadas.
De veganos a idosos, e de hospitais até as casas de quem quer praticidade no dia a dia, explicamos quem pode se beneficiar do whey protein.
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Vegetarianos e veganos
- Para vegetarianos, que não consomem carnes e peixes, o uso do whey protein pode ser recomendado quando não se atinge a meta diária de proteínas através de outras fontes que não sejam carnes, como ovos, leites e grãos.
- Já a dieta vegana, que restringe a alimentação apenas aos vegetais, o desafio pode ser ainda maior. As proteínas vegetais são chamadas de incompletas, de baixo valor biológico, pois não contêm todos os aminoácidos essenciais e com alta taxa de absorção –o que não significa que é impossível suprir a demanda proteica com plantas, mas torna a dieta mais complexa. No lugar de uma variedade de grãos, folhas e vegetais em generosas porções, o suplemento proteico vegano pode ajudar a equilibrar os nutrientes.
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Alérgicos e com paladar seletivo
- O suplemento de proteína isolada de ervilha ou arroz, por exemplo, pode auxiliar na demanda do aporte proteico. Esse produto também pode ser recomendado para alérgicos à proteína do leite e intolerantes à lactose que tenham baixa ingestão proteica.
- Em casos de outras alergias alimentares que também impossibilitam o consumo de fontes de proteína, como alergia a ovo, o uso do whey protein pode ser uma boa alternativa. O mesmo vale para quem, por preferência de sabores e texturas, tem o paladar mais rigoroso, a ponto de limitar o cardápio.
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Terceira idade
- Com o avançar da idade, estar com as proteínas em dia exige maior controle da alimentação, já que, pelo envelhecimento do organismo, a capacidade de digerir e absorver os aminoácidos é reduzida.
- A recomendação média de ingestão de proteína para idosos é superior em comparação aos adultos –cerca de 1,2 a 1,5 grama por quilo corporal.
- Uma das preocupações, nesse caso, é com a sarcopenia, quadro conhecido pela perda da massa muscular, resultando em maior fragilidade e menor força física e, consequentemente, menor mobilidade e qualidade de vida. O baixo consumo proteico agrava essa condição, pelo papel fundamental das proteínas na construção de massa muscular.
- Nesse caso, o suplemento proteico entra como uma forma de prevenção: além de oferecer o aporte ideal de proteínas alfa-globulina e beta-globulina, que têm fácil absorção, atua na manutenção da musculatura e da força muscular.
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Menopausa, câncer e outras doenças
- Mesmo antes da terceira idade, alterações fisiológicas no organismo podem acender o alerta para a perda de massa muscular; entre elas, está a menopausa. O declínio dos hormônios sexuais nas mulheres leva à perda da massa muscular, que também pode ser prevenida com suplementação proteica.
- Existe ainda o caso de diminuição da massa magra com o avanço do câncer, condição conhecida como caquexia, também relacionada à Aids, insuficiência cardíaca ou doença pulmonar obstrutiva crônica, a DPOC, avançada.
- Todas essas patologias são caracterizadas por um hipermetabolismo, isto é, que levam a um alto gasto de energia com possibilidade de utilizar os músculos como fonte energética, além de uma inapetência (falta de desejo de comer) que pioraria o prognóstico da doença.
- Como forma de prevenção à perda de peso, do tecido muscular ósseo e redução da força física, o uso de whey protein é indicado.
- O suplemento também é utilizado na dieta de pacientes em tratamento em UTI (Unidades de Terapia Intensiva) e em pós-operatório. Um exemplo é na alimentação de pessoas que passaram por cirurgia bariátrica. Por agir diretamente nos órgãos responsáveis pela captação de aminoácidos, aumentar sua disponibilidade na dieta é indicado. Nesses casos, destacam-se os suplementos proteicos hidrolisados que oferecem aminoácidos já digeridos, o que facilita a digestão.
- Ainda há situações hospitalares em que o paciente é impossibilitado de se alimentar normalmente e passa a ingerir suplementos nutricionais por sonda nasogástrica.
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Diabetes, hipertensão e imunidade
- Diabéticos reduzem a ingestão de alimentos glicídicos, e hipertensos optam por menores porções de sódio. O whey poderia ser útil em ambos os casos. Estudos ainda iniciais relacionam o whey protein com a redução da pressão arterial, já que seu consumo poderia estimular a produção de hormônios com função hipotensiva.
- Enriquecer a alimentação com aminoácidos também tem sido utilizado para acelerar a cicatrização de feridas e lesões, já que as proteínas atuam na formação de novos vasos sanguíneos e na síntese de colágeno e de fibroblastos, estruturas que constituem o tecido conjuntivo.
É prático, mas não exagere
Outro benefício do whey protein é a praticidade do consumo e em facilitar o fracionamento das porções. Considerando que o nosso corpo não é tão eficiente em absorver volumosas porções proteicas de uma só vez, a maneira de otimizar a digestão e garantir os estoques é ingerir fontes proteicas ao decorrer do dia. E pode ser mais fácil levar pó em uma garrafa ao trabalho, por exemplo, do que uma marmita com ovos e ervilha.
Entretanto, os especialistas consultados ressaltam que a suplementação deve ser indicada e acompanhada por um profissional na nutrição mediante avaliação que, de fato, indique a necessidade de utilização dessa alternativa —e de modo a equilibrar os demais nutrientes.
Ainda controverso na literatura, o excesso de proteínas pode levar à sobrecarga dos rins e do fígado. A recomendação é, sempre que possível, suprir as necessidades nutricionais com alimentos in natura ou minimamente processados, que são mais baratos e mais ricos do ponto de vista nutricional.
Fontes: Gabriel Silveira Franco, doutor em ciências médicas pela USP (Universidade de São Paulo) e professor de nutrição no Centro Universitário Barão de Mauá; Neusa Lygia Vilarim Pereira, doutora em ciências dos alimentos pela UFPB (Universidade Federal da Paraíba) e professora de nutrição na Faculdade de Integração do Sertão, em Pernambuco; Oyatagan Levy, doutor em nutrição pela UniRio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) e professor de nutrição na UFAC (Universidade Federal do Acre).