As cotações dos lácteos estão mais elevadas no mercado internacional. Apesar disso, diversos países estão enfrentando dificuldades na produção, devido a alta nos custos com grãos, energia, combustíveis e fertilizantes.
No Brasil, apesar do aumento observado no preço do leite a partir de março, a margem para o produtor foi prejudicada pela alta nos custos. Os laticínios também têm enfrentado dificuldades diante de uma demanda enfraquecida e de recuo nos preços dos derivados.
No cenário internacional, o ano de 2021 tem sido de preços mais altos para os lácteos, sustentados pela demanda chinesa, baixo nível de estoque mundial, e por uma menor oferta dos países exportadores. Após uma pequena queda de preços a partir de abril, os preços no leilão GDT de setembro e outubro voltaram a sinalizar altas, com destaque para a manteiga, fechando em US$ 3.688/tonelada.
Como referência de preço internacional ao produtor, usa-se um indicador publicado pelo International Farm Comparison Network (IFCN), calculado com base nas variações de preços de um mix de commodities do mercado internacional de lácteos. Para setembro de 2021, o valor bruto ao produtor ficou em US$ 0,432/kg de leite (padrão 4% de gordura e 3,3% de proteína), equivalente a um valor líquido de R$ 2,08/litro, ao câmbio de R$ 5,28/Dólar, no Brasil.
Diversos países estão enfrentando dificuldades na produção de leite em função da alta nos custos de produção, em grande parte devido aumentos nos preços internacionais de commodities, como o petróleo, grãos, energia e fertilizantes. O índice de preço das commodities CRB/Reuters subiu de 127 pontos em maio de 2020, para 234, em setembro de 2021, quando atingiu o seu maior valor desde outubro de 2015.
Para o leite, a estimativa de produção mundial para setembro, segundo o IFCN, indica um aumento de 1,1% em relação a setembro de 2020.
Para os grandes produtores globais, o custo dos grãos (usando, como referência, uma mistura concentrada 70% milho + 30% farelo de soja) tem importante participação no custo de produção de leite. Os maiores aumentos de custo de grãos ocorreram a partir de setembro de 2020, atingindo o pico histórico, de US$ 0,337/kg, em maio de 2021, correspondendo a um valor 51,4% superior à média de 2018-2020. Todavia, de maio a setembro de 2021 houve uma redução de 16%.
No Brasil, as variações dos preços do leite ao produtor têm sido mais intensas a partir de julho de 2020. A Figura 1 ilustra a evolução dos preços mensais líquidos ao produtor (CEPEA), corrigidos pelo IPCA para o mês de setembro de 2021. Na média dos últimos três anos, o preço real brasileiro foi R$ 1,67/litro. Todavia, a partir do segundo semestre de 2020 se observa um novo patamar de preços líquidos, em R$ 2,21/litro na média dos 15 meses, valor 32% acima em relação à média de 2018-2020.
Apesar do aumento nos preços do leite, a margem para o produtor foi prejudicada pela alta nos custos. O custo da mistura milho e farelo de soja (70%; 30%) cresceu mais do que proporcionalmente. O valor médio da mistura que, nos últimos três anos (2018-2020), ficou em R$ 1,14/kg, apenas nos 9 meses de 2021, a média fechou em R$ 1,97/kg, valor 73% maior, em relação ao período 2018-2020.
O último trimestre de 2021 ainda reserva um cenário com incertezas e desafios. O início do período de safra, com redução gradual dos preços do leite, e um custo de produção elevado tende a pressionar negativamente as margens do produtor. Os laticínios também têm enfrentado dificuldades para repasses de preços em função de uma demanda enfraquecida. Com isso, observa-se uma queda generalizada nas cotações dos lácteos, com recuo no mercado atacadista, no mercado Spot e ao produtor de leite. Uma sinalização positiva vem do maior controle da Covid-19 e uma retomada mais rápida do setor de serviços, puxado pelo turismo, eventos, escolas, entre outros. Mas o cenário será bastante desafiador neste final de ano para o setor lácteo brasileiro.