O Brasil tem actualmente cerca de 1,2 milhões de propriedades dedicadas à produção leiteira. Do total, 955.000 estão classificados como explorações agrícolas familiares, com áreas entre 5 hectares e 100 hectares. Representam quase 89% de toda a produção de leite das explorações familiares. Isto é demonstrado num artigo dos técnicos e agrónomos da Conab Clarisse de Albuquerque Gomes e Fabiano Borges de Vasconcellos, publicado na edição de Novembro do Boletim da Agricultura Familiar.
No artigo, Clarisse Gomes e Fabiano Vasconcellos destacam a relevância socioeconómica da produção leiteira para o país. De acordo com os dois autores, a cadeia de produção de leite é um importante gerador de emprego e rendimento em pequenas e médias propriedades e contribui para manter as pessoas no campo.
Os dois técnicos salientam também que o sector leiteiro tem enfrentado numerosos desafios nos últimos anos, tais como o aumento dos custos dos alimentos e dos insumos, a instabilidade dos preços e a falta de previsibilidade, a concorrência com produtos importados, a escassez de mão-de-obra no campo, e as adversidades climáticas.
“A produção familiar é mais sensível a estes problemas, pois tem margens estreitas para negociação”, sublinham os autores. Segundo eles, a falta de previsibilidade dos preços e os longos prazos de entrega são os maiores estrangulamentos para os pequenos produtores, porque afectam o planeamento da actividade.
Caracterização das unidades de produção
A produção leiteira é uma actividade económica de grande relevância para o país, especialmente entre os agricultores familiares.
De acordo com o Inquérito Pecuário Municipal 2020, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, o Brasil produziu 35,4 mil milhões de litros de leite, sendo Minas Gerais o principal estado produtor, responsável por 27% de toda a produção nacional. De acordo com o Censo Agrícola (IBGE, 2017), a agricultura familiar foi responsável por 57% de toda a produção de leite no país, que, nesse ano, foi de 30,1 mil milhões de litros.
O Brasil tem aproximadamente 1,2 milhões de estabelecimentos rurais que produzem leite, dos quais cerca de 955.000 estão classificados como Agricultura Familiar. Entre eles, 81% cobrem áreas entre 5 hectares e 100 hectares, o que representa cerca de 89% de toda a produção de leite da agricultura familiar.
Também segundo o Censo Agrícola (2017), em termos do número de vacas ordenhadas, a agricultura familiar concentra 67,2% de todo o efectivo, o que corresponde a 7,7 milhões de cabeças, confirmando a sua importância na cadeia de produção de leite.
Dado o acima exposto, a participação da agricultura familiar nos estados do sul do país é ainda mais relevante, tradicionalmente caracterizada por pequenas explorações agrícolas.
Em Santa Catarina, por exemplo, quase 90% da produção de leite provém da agricultura familiar.
Em termos financeiros, a produção de leite neste segmento gerou cerca de R$20 biliões do total de R$32,3 biliões de produção de leite no país, representados pelo valor bruto da produção (IBGE, 2017).
Sazonalidade da produção de leite no Brasil
Uma vez que a pastagem é a principal fonte de alimentação do gado, a produção de leite é afectada pelas estações do ano, como mostra o gráfico abaixo.
Tradicionalmente, o segundo trimestre do ano é marcado por uma queda acentuada da produção, devido à chegada do Outono e à consequente redução da oferta de pastagens. A partir de Setembro, quando começa a época das chuvas nas principais regiões produtoras, a produção tende a aumentar novamente, atingindo o seu pico entre Dezembro e Janeiro.
Nível tecnológico das propriedades do leite
Em 2020, o Brasil ocupava o quinto lugar entre os maiores produtores mundiais de leite, como se pode ver na tabela seguinte (USDA, 2021). De acordo com o Censo Agrícola de 2017, as explorações agrícolas que produzem até 500 litros/dia (aproximadamente 1,1 milhões) correspondem a 98% das explorações e produzem 70% do leite no Brasil, enquanto os restantes 2% das explorações (aproximadamente 0,2 milhões) produziram 30% do leite brasileiro.