“Eu já chorei tudo que tinha para chorar. Agora, eu e meu marido só pensamos em conseguir comprador para as vacas e mudar de atividade.”
O lamento é da produtora familiar Neila Avila, do município de Rolante, na Região Metropolitana de Porto Alegre, produtora de leite há 12 anos que viu o volume captado em seu sítio cair de 700 litros por dia para 360 litros esta semana.
As pastagens da pequena propriedade que fica no pé de um morro foram destruídas pela maior enchente da história do município, assim como quase todo o estoque de silagem, a família ficou isolada alguns dias e teve que jogar fora pelo menos 1.000 litros de leite porque as estradas foram bloqueadas, faltou luz e, mesmo como gerador, o produto estragou.
Ela conta que perdeu mais da metade da lavoura de milho e sorgo e que as 29 vacas em lactação estão estressadas por terem saído da rotina. Os animais emagreceram porque está sendo necessário economizar o alimento que sobrou, muitos adoeceram, os casos de mastite aumentaram e a produção despencou.
A esperança dela é que o laticínio que compra seu leito prometeu doar um pouco de ração para suas vacas e os vereadores da cidade estão tentando obter silagem para os pequenos produtores com municípios que não foram atingidos. “Mas isso leva tempo até chegar e não tem como falar para os animais que a comida acabou. E a gente nem pode ‘esperar a poeira baixar’ porque aqui agora só tem pedra, entulho, árvores caídas e barro.”