O que aconteceu com a Cia Jensen, empresa com mais de 100 de história
Temos alguns recortes de jornais com parte da história da cidade de Blumenau em suas publicações, guardados entre nossas fontes de pesquisas primárias.
Passando os olhos pelo arquivo de informações encontramos uma reportagem do jornal O Estado – de Florianópolis, matéria assinada por A. Luiz Mund e com fotografias de Ingo Penz. A data da publicação é 17 de janeiro de 1981.
Antes apresentar a notícia do jornal O Estado de Florianópolis de 1981, vamos conhecer um pouco sobre a Cia. Jensen, fundada no final do século XIX, em Blumenau.
Quando residíamos no extremo oeste de Santa Catarina, na década de 1970 – divisa com a Argentina, assistíamos à TV Coligadas de Blumenau (Primeira emissora de TV aberta do Estado de Santa Catarina) e consumíamos lá no extremo oeste, produtos fabricados pela Cia Jensen de Blumenau, sem conhecermos esta cidade.
A empresa comercializava a marca Frigor. Assim se chamava o estabelecimento comercial e industrial durante as primeiras décadas de Blumenau e região, fundado em 1872.
A Companhia Jensen surgiu como polo industrial que utilizava matéria prima derivada do excedente agrícola produzido nas propriedades coloniais, tal qual era regido o plano das primeiras lideranças e Hermann Blumenau, que seguiam o ideário do economista francês Quasnay, que defendia a geração do capital decorrente do citado excedente agrícola.
A Cia. Jensen foi pioneira em acondicionar o leite pasteurizado em sacos plásticos de um litro.
Também, foi referencial, no tempo atual: o campo de futebol do antigo time de Blumenau, o Metropolitano EC, foi o antigo campo de futebol do time de futebol da Frigor EC, lazer de todos que residiam na região e trabalhavam na empresa.
O time era montado por funcionários da própria Cia. Jensen, a partir de 1925. Atuava com grande destaque, sendo muito prestigiado na região.
Um pouco de História – Família Jensen
Os pais do pioneiro da família Jensen – Rudolph Wilhelm Harro Jens Jensen foram Nikolaus Johannes Jensen (1823-1891) nascido na ilha de Pellworm – e Catharina Dorothea Schmidt (1829–1910), que se casaram na Dinamarca em 1845. O casal teve 11 filhos, entre eles, um dos idealizadores da empresa da família Jensen.
O local em que o pioneiro da família Jensen nasceu, era uma região que mudava de mãos permanentemente em determinados períodos históricos, fato que explica a existência de um documento de senso da Dinamarca quando o pequeno Rudolph Wilhelm tinha somente 9 anos.
Em seus documentos ele é considerado de nacionalidade prussiana, mas nem sempre foi assim. Nasceu em Süderdithmarschen, Schleswig-Holstein, Preußen, atual território da Alemanha, em 22 de junho de 1846.
Wilhelm Jensen aos 36 anos de idade era marinheiro do navio-veleiro Assecurateur, e até 1855 residia em Åbenrå, Åbenrå, Denmark, ou Dinamarca – onde também era denominado Jens Hendrich Wilhelm Howel Jensen.
Por que residia na Dinamarca?
Rudolf Wilhelm nasceu em Wöeden / Süderditmarcehn – Prússia. Seus pais, Nikolaus Johannes e Katarine, mudaram-se para a Ilha de Pelworn, no Báltico, Dinamarca, e seus filhos os acompanharam. Rudolph Wilhelm Jensen aprendeu pescaria com o pai, e criou laços com o mar. Naturalmente, ingressou na Marinha Mercante. Em 1863, já fazia parte da tripulação do Veleiro Assecurateur, em viagens para o Brasil.
Em 1867, no navio Najade, transportava imigrantes para o Brasil – na segunda metade do século XIX – em uma viagem de Hamburg para Itajaí, conheceu a família de imigrantes Kay, cuja filha Karoline Kay, viria a ser sua esposa e juntos fundariam a empresa Jensen.
Ela tinha 17 anos de idade. Jensen largou o vapor em 1863 e fixou residência em Altona, próximo à balsa, atual local da Ponte Irineu Bornhausen, atual bairro de Blumenau, Itoupava Seca.
A viagem dos Kay e de Jensen, para vencer o rio Itajaí Açu do porto marítimo até Altona, durou 10 dias de barco. Em Altona havia outros imigrantes da região de Dinamarca. Rudolph Wilhelm Jensen e Karoline Kay se casaram em 8 de setembro de 1867, em Blumenau. O pai de Karoline – Hendrick Kay se fixou no bairro de Itoupava Central – Colônia Blumenau. Casados, adquiriram o lote colonial n° 17, no mesmo bairro, onde fundariam a Cia Jensen.
O casal teve 10 filhos:
Jens Carl Jensen (1871–1941); Johanna Jensen (1873–1943); Caroline Sophie Ernestine Jensen (1876–1922); Nicolaus Friederich Jensen (1879–1969); Wilhelmine Catharine Ernestine Jensen (1883–1931); Ida Wilhelmine Emilie Jensen (1885– -); Jens Ernst Eduard Jensen (1888–1960); Willy Jensen (1893– – ); Otto Richard Bruno Jensen (1894–1976) e Hermann Nikolaus Jensen (1897–1900).
Em 1870, Rudolph Wilhelm Harro Jens Jensen mandou buscar seus pais Nikolaus Johannes Jensen sua mãe e Katerine Dorothea Schmidt, bem como seus irmãos: Anna Dorothea Christian Cicilia Jensen (1848–1923); Ernst Moritz Jensen (1861–1936); Nikolaus Johannes Jensen (1854–1919); Bertha Elisa Jensen (1864–1953); Gustav Heinrich Adolf Jensen (1858–1925); Johanne Mathilde Jensen (1856– -); Catharina Jensen (1850– -) e quando a família aportou em Itajaí nasceu seu irmão mais novo, Paul Arthur Jensen (1870–1926).
Em 1871 nasceu o primeiro filho do casal Rudolph Wilhelm Harro Jens Jensen e de Karoline Dorothea (Schmidt) Jensen, Jens Carl Jensen (1871–1941).
Em 1872, explorou o mato no entorno de sua propriedade rural, subindo o vale do ribeirão Itoupava acima até os limites da Concessão Hackradt, ex sócio de Hermann Blumenau, que havia requerido as terras para venda até a encosta da elevação do atual cemitério.
Jensen requereu as terras medidas pelo agrimensor Oscar Schipmann
Os lotes coloniais receberam as seguintes numerações: n°01 – propriedade de Nikolaus Johannes Jensen(seu pai). Nessa localidade existia também uma escola que pertencia à família Kay, que poderia ser a Escola n°1.
As colônias de números pares ficavam localizadas no outro lado do rio.
Logo que se assentou no local, o casal Jensen “limpou” o lote colonial e com a madeira retirada da derrubada da mata, produzia pranchões serrados manualmente, onde parte desses, transportaram via fluvial até o rio maior – Rio Itajaí-Açu, onde foram comercializados para outros proprietários de lotes coloniais. No lugar, com parte do material beneficiado, Rudolph Wilhelm e Karoline Jensen construíram, primeiramente, uma casa temporária de palmitos e depois, de taboas beneficiadas.
Além da casa, foram feitas plantações, pasto para a criação de gado, criação de porcos e também, foi construída uma pequena venda. Geralmente na propriedade colonial havia espaço para o pomar, o quintal, o jardim, o pasto e a roça.
Esse croqui feito por Theobaldo Costa Jamundá, publicado no livro Centenário de Blumenau – 1950, e ilustra um pouco o que era a “empresa” familiar dentro de uma propriedade rural, na região de Blumenau.
No local praticamente existia uma pequena indústria familiar que beneficiava o excedente da colheita, da criação e seus produtos que eram feitos no rancho, como: banha, musse, schmier, comportas, embutidos, nata, queijos, manteiga, etc. A propriedade rural era sub dividida em residência, com o jardim, a horta e o pomar próximos, também o rancho, depois vinham o pasto e roça.
Com parte do terreno do lote colonial limpo e do plantio feito e até surgir a primeira colheita, o casal abriu um pequeno comércio, no qual comercializava produtos de primeira necessidade às demais famílias, os quais eram trazidos de Itajaí, a duras penas.
Sabe-se muito bem que os caminhos, na época eram rudimentares e o rio era navegável somente até a foz do Ribeirão Garcia, onde estava o Stadtplatz da Colônia Blumenau.
Os negócios vingaram e aumentaram a partir da exploração e comercialização da madeira, produtos importados da Alemanha, produtos agrícolas processados e até o momento em Rudolph Wilhelm decidiu abrir um açougue para comercializar carne e linguiças. A empresa foi fundada no ano de 1872.
Jensen, montado em um cavalo, viajava por uma picada e levava mercadorias até o Stadtplatz Blumenau, como: banha, nata, queijos e embutidos. Em 1895 devido a uma doença passou a gerência de seus negócios para seu filho primogênito, Jens Carl Jensen (1871–1941), que atuou por 4 anos, até 1899.
Rudolph Wilhelm Harro Jens Jensen faleceu em 23 de março de 1899, com a idade de 53 anos. A viúva Karoline Dorothea Friederike (Kay) Jensen, que estava com 34 anos, continuou a administrar os negócios da família juntamente com seus filhos: Jens Carl Jensen, Johanna Jensen (Casada com Zimmermann), Caroline Sophie Ernestine Jensen, Nicolaus Friederich Jensen, Wilhelmine Catharine Ernestine Jensen, Ida Wilhelmine Emilie Jensen, Willy Jensen, Otto Richard Bruno Jensen, Hermann Nikolaus Jensen.
Após desavenças familiares resolvidas – Jens Carl Jensen assumiu a administração da empresa, que ficou conhecida como Jensen & Cia.
Curiosamente é atribuída a Jens Carl Jensen, a liderança e fundação da Cia Jensen. Essa história teve início muito antes. Teve início no navio, quando o pioneiro Rudolph Wilhelm Harro Jens Jensen decidiu que se casaria com a moça da família Kay, 18 anos mais jovem, deixou de ser marinheiro e também, teve a iniciativa de trazer seus pais e irmãos para Blumenau.
Foi ele que iniciou os negócios e a venda em 1872, viajando pelas picadas sobre seu cavalo, em algumas situações, doente, quando percebeu que não poderia continuar a fazê-lo, repassou a gerência desses negócios ao filho Jens Carl Jensen, que então, deu continuidade.
Depois da morte do pai, modificou o estatuto, e junto com a mãe e irmãos, dentro de uma nova configuração social, prosseguiu o ramo de negócios iniciado por seu pai, o pioneiro e fundador da empresa familiar Jensen.
Itoupava Central – Jens Jensen faleceu em 23 de março de 1899 e assim desapareceu sua firma individual. A esposa Carolina dá continuidade ao projeto, agora tendo como sócios Jens Carl Jensen e Paul Zimmermann, surgindo assim a Jensen & Cia. GERLACH, 2019.
Neste período que se solidificava a empresa da família Jensen, também se desenvolvia uma povoação urbana autossuficiente que se desenvolvia em torno da empresa familiar.
Além do time de futebol, a comunidade também era dotada de uma escola, de uma igreja e da sociedade de tiro, que tinha na diretoria da Cia. Jensen, seus maiores contribuintes.
Em 3 de junho de 1913, faleceu a matriarca, Karoline Dorothea Friederike (Kay) Jensen, 14 anos após seu marido.
Em 27 de fevereiro de 1932 foi criada a Cia. Jensen – e suas 1120 ações – foram assim distribuídas: Jens Carl Jensen – 100 ações; Seus filhos Rodolfo Jensen – 150 ações; Wilhelm Jensen – 50 ações; seus genros Friedrich Egli, casado com Wanda – 100 ações, Alwin Hardt, casado com Frieda – 50 ações, Rodolpho Hackländer, casado com Wilhelmine – 64 ações e Heinrich Stoltz, residente em Curitiba e casado com Isa Jesen – 6 ações.
O capital foi integralizado com 12 terrenos, sua benfeitorias e créditos diversos pertencentes à firma anterior.
A Cia. Jansen passou a ter filiais em Itoupava Central, Massaranduba, Ribeirão Gustavo e Curitiba, as quais foram sendo fechadas ao longo do tempo.
No ano de 1936, foi feita uma reorganização dos serviços contábeis, adotado o sistema de partidas dobradas e as ações passaram a ser ao portador, com a mesmo distribuição do ano de 1932. Nesse período, mesmo sendo Jens Carl Jensen, o Presidente, os negócios passaram e ser gerenciados com mais frequência pelo filho – Wilhelm Jensen – ou Guilherme, como ficou mais conhecido.
Nessa época era o Diretor Comercial da empresa. Faziam parte da Diretoria: os genros: Fritz Egli – casado com a Wanda Jensen; Heinrich Stoltz – casado com Isa Jensen e o Paul Zimmermann, casado com Johanna Jensen, Wolfgang Jensen, filho de Carl Jensen Jr., Willy Hinsching e Victor Zoschke.
Pouco tempo depois, houve uma reformulação dos estatutos e a empresa passou a se chamar Cia. Jensen – Agricultura, Indústria e Comércio, tendo como diretor-presidente: Carlos Jensen Senior.
Fritz Egli e Guilherme Jensen passaram a ser diretores-gerentes, e também Alwin Hardt e Heinrich Stoltz, casado com a irmã mais nova de Guilherme, Isa Jensen. Em pouco tempo, no ano de 1942, o diretor-presidente, Carlos Jensen Senior faleceu e a presidência passa a ser ocupada por Ida Jensen – sua esposa, que faleceu no ano seguinte.
O capital da empresa foi elevado e 3200 ações ordinárias foram distribuídas ao portador. É eleita nova diretoria – com mandato de 4 anos. Diretor-comercial: Guilherme Jensen; diretores-gerentes: Fritz Egli; Alwin Hardt e Heinrich Stoltz. subdiretores: Willy Hinsching, Wolfgang Jensen e Victor Zoschke.
Houve um período em que os funcionários recebiam parte de seus salários em cédulas impressas pela empresa, que eram usadas na compra de produtos em suas lojas. A “moeda” Jensen era aceita em toda a região. Nesta época a firma empregava em torno de 200 funcionários.
Funcionários solteiros e originários de outras regiões se abrigavam em uma construção de madeira, contendo 3 pavimentos, munida de um restaurante que fornecia refeições de diferentes categorias.
Em 1958, a empresa tinha uma casa comercial que vendia desde produtos alimentícios até ferragens, ferramentas, equipamentos, tecidos, bebidas, louças, bicicletas.
Sua origem foi na primeira venda fundada ainda no século XIX. O arroz, colhido nas plantações próprias de Itoupava Central, Guaramirim e Massaranduba e mais o comprado de terceiros, era descascado, seco, classificado em máquinas automáticas e ensacado para ser distribuído por todo o mercado do Sul do país sob o nome de Arroz Frigor.
Posteriormente foi acrescentada, ao engenho de arroz, uma fábrica de ração.
Possuíam um rebanho médio de 2000 porcos das raças Duroc, Landrace e Edlschwein que supria o frigorífico, no qual 120 animais eram abatidos por dia, matéria prima de linguiças, salsicha, salame, mortadela, presunto cru e cozido, copa, lombo defumado, toucinho e os mais variados tipos de embutidos e defumados.
O abate de porcos não acontecia no período de entressafra – meses de janeiro e fevereiro. O frigorífico também abatia cerca de 10 bois por dia, produzindo carne, com parte dela processada e vendida para açougueiros e distribuidores.
A criação de vacas holandesas, com matrizes importadas, fornecia parte do leite processado. A partir do ano de 1937, o leite pasteurizado era distribuído em garrafas de vidro, de um litro – bojudas e de bocas largas, com tampos de alumínio.
A partir de 1970, o leite passou a ser distribuído em sacos plásticos – produção e distribuição de 120 mil litros por dia. Também eram produzidos queijos e manteiga.
A grande produção de aves, tinha como objetivo a obtenção de ovos. Terceirizavam a produção dos pequenos colonos de produtos como cachaça recebida em tonéis de madeira (engarrafa e distribuídas com o nomes de Cachaça Sucupira), vinho Moscatel e de Laranja.
Uma serraria e uma fábrica de latas davam apoio à produção industrial, que incluía a fabricação de conservas, caseína e sabão (feito com restos dos abatedouros).
A Cia Jensen era proprietária do Matadouro Municipal de Blumenau, que detinha exclusividade do abate de gado de outros produtores menores, impedidos de fazê-lo em todo o Município.
O neto do pioneiro, Guilerme Jensen, que nasceu em 25 de julho de 1901, Itoupava, se casou com Lýdia Paupitz em 20 de junho de 1925, no Passo Manso. Ela era filha de Hermann Paupitz e Hulda (n. Kretschmar). As testemunhas do enlace foram: Walter Berner (antepassado de Dieter Berner) e Ewald Jansen.
Guilherme Jensen, neto dos pioneiros Rudolph Wilhelm Harro Jens Jensen e de sua Karoline Dorothea Jensen, também foi presidente da Câmara de Vereadores de Blumenau. Nessa época, a empresa possuía aproximadamente 300 funcionários. Construiu um conjunto habitacional, um campo de futebol e uma sede social.
Em junho de 1969, foi contratado o técnico em embutidos e conservas da nacionalidade austríaca, Franz Nagl.
A fabricação de laticínios foi reformulada com a introdução de mesas e tanques para mistura em aço inoxidável, equipamento de pasteurização e linha automatizada para empacotamento de manteiga e iogurte.
Em 1971, é eleito diretor-gerente, João Arno Buer, marido de Crista Jensen – filha de Guilherme Jensen. Também foi incorporada a empresa Comercial, Roberto Grossenbacher, cujo capital já havia sido adquirida.
Uma frota de mais de 100 veículos, 80 dos quais frigoríficos, distribuía os produtos da marca Frigor por todo o país.
Em 1974, uma outra ala da família, contando com 3.345.402 votos na Assembleia, destituiu a diretoria em exercício a qual contava com 2.391.163 votos. A nova diretoria impôs sua própria administração tendo como diretor-superintendente, Jerry Kurt Weissheimer.
Guilherme Jensen, com sequelas do desgaste familiar, faleceu no ano seguinte, no dia 24 de agosto de 1975, aos 75 anos de idade.
Foi o início do fim, conforme explicam algumas fatos publicados no jornal citado no início deste artigo.
Em 12 de novembro de 1977, a firma, após uma administração desastrosa, e em queda, foi vendida para o Grupo Mansur de São Paulo, ocasião em que foi mutilada com o fechamento da fábrica de laticínios, cujo maquinário foi transferido para a Laticínios Vigor de São Paulo. Em seguida, a linha de abates de frangos foi também desmontada. E a criação de vacas leiteiras e suínos foi desativada.
Em situação quase falida, foi vendida ao grupo Farid Kalaf no ano de 1978, quando a marca Frigor, também foi posta a venda.
No mês de abril de 2014, constatamos que um conjunto de 3 residências pertencentes ao Patrimônio Histórico Arquitetônico de Blumenau, junto à rua Dr. Pedro Zimmermann, que também, pertenciam ao patrimônio da Cia. Jensen foram demolidas.
Vídeo Histórico que conta um pouco sobre a Cia Jensen e mostra parte da propriedade e do entorno da Cia Jensen, bem como algumas de suas atividades, antes de fechar as portas.
A falência da Cia. Jensen foi decretada no ano de 1984, há redondos 40 anos.
Como isso aconteceu?
É o que explica um pouco esta matéria do Jornal O Estado publicada em janeiro de 1981, que tem a presença de explanações de Victor Sasse.
Jensen: um império que pode estar no fim
Uma dívida que chega perto de seu capital total, demissões em massa e um suposto desinteresse em encontrar soluções econômico-financeiras para a crise que envolve a empresa são apontadas como as causas do estado semi-insolvente em que se encontra a Companhia Jensen, uma das mais tradicionais firmas do Vale do Itajaí.
Com dois terços de seus empregados demitidos, a empresa mantém apenas uma pequena parte de suas atividades. O depositário-administrador tenta mostrar, num relatório, as razões concretas que levaram a Cia. Jensen à situação atual.
Blumenau – Estado de insolvência devido a uma divida global que se aproxima de seu Capital, avaliado em torno de Cr$ 1 bilhão; demissões em massa, que nos últimos meses atingiram mais de 800 pessoas (dois terços do total); total desinteresse da direto ria em encontrar soluções para viabilizar a recuperação econômico-financeira. Estas são algumas das constatações apresentadas pelo depositário-administrador da Cia. Jensen Agricultura, Indústria e Comércio, de Blumenau, Victor Fernando Sasse, num relatório de suas atividades durante mais de um mês nessas funções na empresa de propriedade do industrial paulista Farid Kalaf, investigado pela Justiça do Trabalho em função de suspeitas de irregularidades administrativas.
O Sr. Victor Fernando Sasse foi nomeado no início de novembro pela juíza Agueda Maria Larorato Pereira como depositário-administrador da Cia. Jensen para a elaboração de circunstanciado relatório situacional, “com levantamento físico e contábil, para determinar a existência ou não de desvio de bens do patrimônio, indicando, se for o caso e possível, seus responsáveis, bem como de relatório planificador, consignando a orientação a ser observada caso a caso, para submissão, apreciação e manifestação das partes”.
Em dezembro do ano passado, Sasse apresentou o primeiro relatório, divulgado por “O ESTADO”. Nele, depositário-Administrador, desconhecendo a possibilidade de publicação, como foi o caso, acusou o Sr. Farid Kalaf de ter desviado da Companhia Blumenauense para seu aglomerado industrial paulista, 2 milhões de dólares, sem na verdade ter apresentado no relatório provas cabais válidas judicialmente a respeito. Pelo que se comenta, existe a possibilidade de processo contra o depositário e quem a ele deu divulgação, de “calúnia e difamação”.
Além desta acusação, existem ou- 4ras ratificadas neste último relatório, que dão conta da existência de uma divida extraordinária que quase se equivale ao capital ativo, girando em torno de Cr$ | bilhão. Na época, também, Sasse avaliou as dívidas sociais em mais de Cr$ 200 milhões, com empregados e vendedores de leite, além de outros credores da firma.
Denunciou ainda a intenção do Banco do Brasil de liberar um empréstimo de 3 milhões de dólares, administrativamente, de forma ilegal, pois a empresa não oferece segurança de capital para tal investimento, comentando o fato da decisão ter sido tomada diretamente pelo Ministro da Fazenda, após conversa particular com Kalaf. A verdade é, porém, que este dinheiro não foi até agora repassado, e dificilmente deverá acontecer o repasse, tendo em vista a falta de garantias e o conheci- mento já público da transação.
Agora, neste último relatório, tornado público no início desta semana, o posicionamento de Vitor Fernando Sasse é mais cauteloso, mais embasado em provas. Ele acusa e ratifica muitas informações, mas deixou a marca do risco do primeiro documento entregue à Juíza do Trabalho.
Neste segundo relatório diz, conclusivamente, que pode constatar o abandono administrativo da empresa, face à ausência de diretores, impedindo a tomada de “decisões responsáveis”. Para o depositário, o “regime de insolvência da Cia. Jensen”, devido ao elevado débito junto a terceiros, pedidos de falência, acertos com credores mediante emissão de notas promissórias, entrega de matérias primas e mercadorias, “é latente”.
Constatou, como afirma, “o desvio de recursos financeiros do fluxo normal operacional”; que o déficit anual acumulado ate setembro era de mais de Cr$ 26 milhões, que a firma não estava recolhendo tributos devido ao erário estadual; um total desinteresse da diretoria em encontrar soluções para viabilizar a recuperação econômico-financeira; e, finalmente, que foi manifesta, durante todo o período de trabalho, a intenção de evitar o acesso a qualquer informação de ordem contábil – o que dificultou a análise consistente sobre a “veracidade ou não das inúmeras denúncias e suspeitas de desvio de recursos da companhia”.
DESVIOS SUSPEITOS E COMPROVADOS
Revela Sasse no relatório que o levantamento de informações comprobatórias do desvio de recursos financeiros da empresa tornou-se inviável, “face à proibição de acesso aos assentamentos contábeis”, mas que alguns são possíveis de apresentar.
Entre os desvios documentados, escreveu que junto aos freteiros Jaime Voipi, Lauro Volpi, Norberto Pagel e Cesar Martendal, “constatamos que a Cia. Jensen sofreu um desvio de recursos financeiros da ordem de Cr$ 20.534.128.00. Esta importância, referente à venda de leite na praça de Blumenau, sem a emissão de documentos fiscais, observa, poderá ser ainda maior.
A prática deste desvio, diz, “segundo os denunciantes, era do conhecimento da alta administração da firma”. Os depósitos bancários, acrescenta Sasse, eram efetuados na conta dos senhores Jaime Martins e Darci Kopper chefes do laticínio O extrato bancário relativo aos depósitos junto ao Banco Bamerindus do Brasil poderá comprovar o exato valor deste desvio, concluiu o depositário-administrativo.
No tocante a desvios realizados, mas que Victor Fernando Sasse ainda não conta com provas cabais mas apenas depoimentos, diz um que de acordo com o ex-diretor comercial da companhia, Sr. Antonio C.T. de Mesquita, deixaram de ingressar os recursos decorrentes de um contrato de exportação de 2 milhões de dólares, supostamente desviados por Kalaf. Esta denúncia já constava do primeiro relatório, mas ainda não foi provada.
Na sequência. Sasse menciona também uma remessa de títulos de emissão da Cia Jensen para desconto na praça de São Paulo, “sem o correspondente crédito”. Esta é uma denúncia que faz questão de se eximir da responsabilidade, antecipadamente. pois somente através de uma auditoria contábil poderá ser confirmada.
Existem outros desvios revelados: “na administração do Sr. Ricardo Mansur foram desviados para São Paulo um conjugo de equipamento da fábrica de “yogurt” com capacidade de 1.400 envases por hora, marca Honda, para a Vigor, e a venda de cerca de 200 cabeças de gado holandês puro”:
Victor também delata desmandos admirativos, comprovados pela ausência de diretores. A falta de responsáveis torna a situação mais crítica. Até setembro deste ano, o déficit operacional, devido ao baixo índice de produção, ensejou a acumulação de um prejuízo de Cr$ 126 milhões, e calculamos em Cr$ 200 milhões para administrativos, comprovados pela este final de ano.
Os tributos também não estão sendo recolhidos, tanto assim que a fiscalização da 3a. TRT já emitiu notificações no valor de Cr$ 25 milhões de ICM não recolhido e outras omissões tributárias.
Neste documento entregue à Justiça é criticado o desinteresse dos proprietários em arrendar as instalações industriais. A proposta da Seara Avícola, avalia Sasse, em arrendar o abatedouro de aves e frigorífico, sequer mereceu o “exame de viabilidade pela diretoria”. O arrendamento permitiria, conforme ele, não só o pleno uso do abatedouro, decorrendo daí o emprego de cerca de 150 pessoas, garantido mercado aos integrados, renda à Firma, como à exportação “e ingresso de divisas para o País”.
Capital Ativo e Passivo
O capital ativo total pertencente à Jensen gira em torno de Cr$ 1 bilhão. Deste total, é certo que uma quantia bastante próxima esteja empenhada aos credores.
O valor contábil ativo imobilizado, somado aos bens imóveis em 31 de outubro do ano passado, de acordo com o relatório, totalizava mais de Cr$ 355 milhões. Não foi possível, entretanto, “por falta de informações contábeis”, apresentar o patrimônio líquido da empresa. A empresa é proprietária também de 93 imóveis, dos quais 41 situados na jurisprudência de Blumenau e já apreendidos. O valor dos bens imóveis da Cia. Jensen, comenta Sasse, pode ser estimado, para efeito de venda, em Cr$ 700 milhões, dos quais Cr$ 660 milhões estão garantidos a terceiros em razão de dívidas e Cr$ 40 milhões estão à disposição.
Muitos imóveis foram desfeitos do patrimônio na administração do Sr. Ricardo Mansur, num valor aproximado, sem correção monetária e juros, de Cr$ 10 milhões na administração do Sr. Farid Kalaf, a companhia vendeu o controle acionário que detinha da Transportadora Frigor Ltda. A pessoa física Farid Kalaf por “valor aviltado” de Cr$ 3 milhões. Esta transação, é “lesiva aos interesses da companhia”, observa Sasse. A venda, por preço real, acrescenta o depositário está estimada em mais de Cr$ 100 milhões de cruzeiros.
A transação, de qualquer forma, como informações, pode ser revogada a qualquer momento, desde que se prove que o beneficiário, no caso Kalaf, estivesse sendo acionado judicialmente, no momento da venda, como estava realmente.
Os dois relatórios do depositário- administrador Victor Fernando Sasse, que já concluiu seu trabalho, se encontram com a Juíza do Trabalho, que nada ainda decidiu. Aguarda-se um posicionamento definitivo após a reunião do dia 27, que foi marcada entre o advogado do Sindicato dos Empregados da Indústria de Alimentação, José Dailton Barbieri, e os representantes da empresa, para solução das questões ainda pendentes que são muitas. Caso não se chegue a um consenso, é conclusivo que a Juíza decrete intervenção na Cia. Jensen para saldar compromissos com funcionários, que, nestes casos, são privilegiados pela lei.
Situação Atual
Ontem de manhã, Dailton esteve reunido na Junta do Trabalho com representantes da Companhia para resolver o problema de 345 funcionários que lotavam as calçadas à frente do prédio. A empresa pagou os salários atrasados de novembro e décimos-terceiros. O mês de dezembro ficou para nova data.
O advogado dos empregados criou, após o encontro com os representantes dos empregados, juntamente com o Presidente do Sindicato, Fortunato dos Santos, uma comissão de funcionários, para buscar uma solução definitiva para o problema. Esta comissão terá a incumbência, de relacionar todos os desmandos e irregularidades praticadas pela empresa contra seus colegas. Dailton Barbieri já soube de caos de rebaixamento de salários, pressões e outras questões peculiares nestes casos.
José Dailton Barbieri tenciona resolver definitivamente o assunto na reunião que terá com os representantes da Jensen no dia 27 deste mês. Caso não houver um consenso entre as partes, recorrerá à rescisão indireta, que em termos de leis trabalhistas lhe garantirá o pagamento via judicial dos salários e outros benefícios aos empregados. Entre estes benefícios em questão, está o pagamento da taxa de insalubridade por dois anos atrasada (valor estimado em Cr$ 1 milhão); FGTS, INAMPS., Sindicato (Cr$ 600 mil) em mensalidades cobradas dos empregados e não pagas aos destinatários.
A situação da empresa é ruim. Atualmente, somente o setor de laticínios funciona, mesmo assim com menos de 10% da capacidade normal. Dos 1.200 empregados que a empresa a possuía em maio, restam apenas 400. Dois terços deles foram demitidos, ou pediram a demissão neste interim.
A perspectiva da Cia. Jensen, uma empresa que já faz parte da história da comunidade do Vale do Itajaí, com cerca de 100 anos de atividades ininterruptas, é pouco promissora. O atual proprietário, Farid Kalaf, pouco explica, como seus assessores. Pelo que se soube, não está interessado em vender e nem alugar, sequer apresentar planos para reanimar as finanças da empresa. A falência é iminente nestas circunstâncias.
Um Registro para a História.
Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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Referências
- Centenário de Blumenau (1850-2 de setembro de 1950). Edição da comissão de festejos. Blumenau 1950.
- Cia Jensen: O Império que pode estar perto do fim. Jornal O Estado. Florianópolis, 17 de janeiro de 1981.
- GERLACH, Gilberto Schmidt. Colônia Blumenau no Sul do Brasil / Gilberto Schmidt-Gerlach, Bruno Kilian Kadletz, Marcondes Marchetti, pesquisa; Gilberto Schmidt-Gerlach, organização; tradução Pedro Jungmann. – São José: Clube de Cinema Nossa Senhora do Desterro, 2019. 2 t. (400 p.): il., retrs.
- MUND, A. Luiz. Companhia Jensen – Um Império que pode estar perto do Fim. O estado, Florianópolis, 12 de janeiro de 1981. Página 4 – Caderno Santa Catarina.
- Paróquia Luterana – Comunidade Centro. “Pioneiros da Colônia Blumenau – Famílias Evangélicas de Confissão Lutherana da Colônia Blumenau – Período: 1856 – 1940”. Arquivo Histórico José Ferreira da Silva. Blumenau, 1856-1949. Blumenau 2016.
- RENOLLAR, Paola Beatriz May. Aspectos da Educação Informal na Colônia Blumenau: o caso da linguiça Blumenau. Revista Pedagógica, v. 23, p. 1 – 18, 2021.
- SILVA, José Ferreira da. História de Blumenau. 2.ed. – Blumenau: Fundação “Casa Dr. Blumenau”, 1988. – 299 p.
- WETTSTEIN, Phil. Brasilien und die Deutsch-brasilieniche Kolonie Blumenau. Leipzig, Verlag von Friedrich Engelmann, 1907.