A notícia de que a Dinamarca irá cobrar impostos sobre os puns e arrotos de bovinos e suínos, surpreendeu o mundo do agro ontem (9). A decisão é inédita no globo e visa diminuir o segundo gás com efeito estufa mais presente na atmosfera: o metano, que tem a sigla de CH4. Vale registrar que, anteriormente, essa estratégia já havia sido adotada pela Nova Zelândia, mas não foi para frente devido à pressão do setor agrícola daquele país.
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E apesar de ainda precisar ser aprovada em última instância pelo Parlamento, dividiu opiniões.
Estimativas do Ministério da Economia dinamarquês dizem que, caso a decisão passe mesmo a valer, cerca de 2 mil pessoas poderão perder seus empregos até 2035. E a promessa é que as receitas geradas pelo imposto serão reinvestidas na transição ecológica da indústria agrícola.
Nós, conversamos com o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, especialista em alimentação de ruminantes e no estudo dos gases de efeito estufa gerados pelo gado, especialmente gado de leite, Thierry Tomich, que falou sobre o assunto. Confira a entrevista:
O que está por trás dessa decisão? O objetivo é reduzir os rebanhos?
Talvez sim. Reduzir o rebanho para manter a produção global com ganho de eficiência, resulta em diminuição das emissões. Isso é fato. E esse eu acho que é, basicamente, o foco da taxação proposta pela Dinamarca. O que eles querem é aumentar a eficiência do sistema de produção para reduzir as emissões.
A Dinamarca tem uma posição bem diferente de vários países. É um país que quer neutralizar as emissões do país todo até 2045 e reduzir em 70% as emissões até 2030.
De maneira bem didática, como aumentar a eficiência de produção pode ajudar a reduzir a emissão de gases?
Ganha-se em eficiência reduzindo a quantidade de animais no sistema de produção (pasto, confinamento, etc) e mantendo sua produção total. Com menos animais para serem alimentados e passar pelo processo digestivo, gerando metano, demanda-se menos insumos que também contribuem para a emissão. Então, o aumento da produtividade por animal é uma das principais estratégias para reduzir as emissões associadas ao sistema de produção animal.
A decisão causou muita polêmica. A Associação Dinamarquesa para a Agricultura Sustentável, classificou a proposta de “inútil”. Se a decisão for adiante, o que a Dinamarca tem a ganhar?
A curto prazo, o país pode ter benefícios comerciais. Estamos falando de uma nação que é um grande exportador de laticínios e de carne. Principalmente, carne suína. Com sistemas de produção mais eficientes que emitem menos gás metano, eles conquistam uma vantagem competitiva em relação aos outros exportadores. A longo prazo, teremos que pagar pra ver.
O que o episódio nos ensina? Para onde estamos caminhando?
Para o estabelecimento de programas de produção animal com baixa emissão de gases, que é uma orientação do Ministério da Agricultura. As cadeias agrícolas descarbonizadas são projetos para cada cadeia de produção específica. Em algumas cadeias de produção vegetal, esses processos estão bem adiantados e existe uma discussão intensa sobre como estabelecer esses processos nas cadeias de produção animal no Brasil.
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Lembrando que os sistemas de produção animal são muito diversos. A gente não tem uniformidade como, há em alguns países. Em termos de produção de leite, por exemplo, não temos um sistema típico e sim vários sistemas típicos em várias regiões do país. Independente da estratégia adotada, tem que fazer lógica, inclusive lógica econômica para cada um dos sistemas.
A discussão sobre as emissões de gases de efeito estufa originadas de nossas atividades é muito importante para todo o mundo. Nós estamos acompanhando com frequência cada vez maior as repercussões negativas sobre o clima e há necessidade de ampliar a discussão para se encontrar alternativas que façam sentido para um sistema de produção, uma empresa ou país.