O custo de produção, as importações e quedas no preço pago ao produtor têm levado o setor leiteiro a momentos de dificuldade nos últimos anos.
Seja em Venâncio Aires, na região ou outros municípios brasileiros, fato é que aconteceram desistências de famílias que mantinham a atividade. Só na Capital do Chimarrão, eram 115 famílias produtoras em 2021 e o número caiu para 99 em 2024, conforme dados da Emater.
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Na contramão desse cenário de queda, a perspectiva de crescimento de uma agroindústria familiar do interior de Venâncio pode ajudar a remobilizar ou incentivar agricultores locais que trabalham com bovinocultura de leite.
Localizada em Linha 17 de Junho, a Agroleite, depois de 21 anos de funcionamento, construiu um prédio novo, maior e com mais maquinário. Consequentemente, terá condições de triplicar a produção de leite pasteurizado e queijo. A expectativa da família Angnes, responsável pela agroindústria, é ter tudo funcionando a partir de outubro.
Projeção
Para o espaço de 250 metros quadrados, em fase final de construção, serão transferidas as atuais máquinas, como a queijeira que comporta 1,4 mil litros de leite e uma pasteurizadora que processa mil litros por hora.
A elas, se soma um maquinário maior: uma pasteurizadora de 5 mil litros por hora e uma queijeira que comporta 5 mil litros.
“A quantidade de queijo que hoje levamos três dias para fazer, com essa outra máquina vamos fazer numa manhã. Com cinco mil litros e com condições de fazer duas vezes ao dia, daria mil quilos de queijo por dia.
Na média, terá condições de triplicar a produção de leite e queijo”, explica Rodrigo Angnes, 31 anos. Ele é filho de Eligio, 58 anos, e Sirlene, 54, que começaram a agroindústria em 2003. O outro filho do casal, Alexandre, 25 anos, também trabalha no local.
“Alimento sempre terá lugar”, afirma um dos proprietários da Agroleite
Questionado sobre o porquê de investir quando o momento, de forma geral, parece negativo para a cadeia leiteira, Rodrigo Angnes entende que, como qualquer setor, há os dois lados. “Tem que pensar que tem venda e que consegue ajudar no valor para com o produtor também.
Porque leite é alimento e para o alimento sempre terá lugar. É uma atividade com altos e baixos, como qualquer outra, mas se o produto é bom e consegue uma margem de preço boa, sempre vai ter colocação.”
Com a marca Agroleite, a agroindústria dos Angnes é um dos fornecedores de leite pasteurizado (fervido a 75 graus, processo que faz ‘segurar’ os nutrientes do alimento) para as escolas municipais de Venâncio Aires e também fornece para mercados, padarias, o Hospital São Sebastião Mártir e o Lar Novo Horizonte.
Atualmente, a agroindústria mantém um rebanho em lactação e compra diretamente de 14 famílias que têm os próprios plantéis.
Elas são de localidades como 17 de Junho, Santa Emília, 25 de Julho, Harmonia da Costa e Grão-Pará. “O principal ponto, com o aumento da nossa capacidade, é contar com mais fornecedores do interior, com um produto de qualidade.
Vai precisar de mais leite e o objetivo é manter a compra dentro de Venâncio”, destacou Rodrigo.
Fator positivo
Para o engenheiro agrícola da Emater de Venâncio, Diego Barden dos Santos, além da perspectiva de ampliação, beneficiando também produtores, outro fator positivo é o fato de compor uma cadeia curta. “Como agroindústria, pensando no mercado consumidor, é um leite que compõe uma cadeia curta, um leite de altíssima qualidade.
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É uma produção que vem do pequeno produtor, que eles coletam e logo fazem a entrega no mercado consumidor em Venâncio Aires. Os alimentos das cadeias curtas têm um benefício econômico, social, sanitário e alimentar.”
Agroleite almeja venda para outros municípios
- Assim que a nova agroindústria estiver pronta, Rodrigo Angnes explica que darão entrada no Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar e de Pequeno Porte (Susaf). “Seria para a venda em todo estado e por isso já estamos fazendo as adequações junto ao Sim [Sistema de Inspeção Municipal].” Com a capacidade atual, eles têm a restrição de manter a comercialização apenas dentro dos limites municipais.
- O novo prédio vai comportar laboratório para análise do leite que chega até a agroindústria, sala de envase, área de produção, recepção, dois banheiros, dois vestiários e mais a câmara fria, que fica anexa à agroindústria.
Tiago Frey, também de Linha 17 de Junho, é um dos fornecedores de leite da agroindústria dos Angnes (Foto: Débora Kist/Folha do Mate) - Para construir e comprar novas máquinas, os Angnes investiram cerca de R$ 1 milhão, sendo parte do valor financiado. A Prefeitura ajudou com serviços de terraplenagem e acesso dentro da propriedade.
Mais vacas, mais leite
Produtores de leite há 10 anos em Linha 17 de Junho, Tiago Matias Frey, 37 anos, e a esposa, Janice Schweikart, 43, fornecem leite para a agroindústria da família Angnes desde 2014. Atualmente, o casal mantém 25 vacas (sendo 20 em lactação) e o objetivo é aumentar o plantel.
Frey afirma que deve comprar entre 8 e 10 vacas já nos próximos dias e que é consequência direta do aumento de produção da Agroleite. “Esse investimento deles é algo muito positivo e nós também vamos comprar mais matrizes para aumentar o fornecimento de leite. Acho bem possível que essa necessidade, com a nova agroindústria, também vai incentivar outros produtores de Venâncio.”
As vacas holandesas do produtor dão 550 litros de leite por dia, em média, e ficam no ‘free stall’, um sistema de semiconfinamento, alimentadas com silagem, ração e pastagem.
Tiago Frey explica que vem investindo em melhoramento genético na inseminação artificial e que os resultados evoluíram nos últimos anos. Em 2014, quando ele começou, cada vaca produzia média de 18 litros por dia. Hoje, já são 25 litros diários.
R$ 15,3 milhões – foi a contribuição do leite dentro do Valor Bruto da Produção Agrícola (VBPA) em 2023. Em 2022 chegou a R$ 17 milhões e, em 2021, foi de R$ 14,5 milhões.
Atualmente, são 99 famílias produtoras em Venâncio (89 vendem para laticínios e 10 vendem direto a consumidores), com um plantel total de 1.310 vacas em lactação.