A nanotecnologia, uma área de pesquisa que explora a manipulação de moléculas para criar novas estruturas, está gradualmente se integrando à indústria de alimentos e bebidas, apresentando novas possibilidades e também desafios regulatórios.
A pesquisa e o desenvolvimento na área visam promover a funcionalidade e a sustentabilidade estabelecendo elos entre instituições, consumo consciente e transparência para o consumidor.
Neuma Pereira, pesquisadora do Instituto SENAI de Inovação, esclarece que a nanotecnologia é multidisciplinar e viabiliza a identificação de materiais que não conseguem ser observados a olho nu.
Compartilhando sua perspectiva sobre o papel da nanotecnologia, pontua a superação dos desafios de sustentabilidade ambiental para a promoção de uma economia verde: “Ainda é um setor em estudo e precisa de formas de regulamentação do uso desses nanomateriais na indústria de alimentos”.
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A aplicação na indústria alimentícia se dá em diferentes áreas no sentido de melhorar o que já existe hoje em dia, mas a pesquisadora destaca que nenhuma das organizações internacionais possuem regulamentação específica em nanomateriais.
Ela observa que, em termos de regulamentação, os nanomateriais ainda estão sujeitos às mesmas regras que se aplicam aos alimentos em geral. Embora haja um progresso notável, a nanotecnologia ainda é uma área nova e carente de regulamentações específicas para o uso de nanomateriais em alimentos.
Entretanto, na indústria de alimentos, há avanços especialmente observados no mercado de exportação de alimentos, onde a nanotecnologia pode adicionar valor com promessas de funcionalização, durabilidade aumentada de produtos e segurança aprimorada.
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Se em alimentos há desafios para regulamentar, no mercado de suplementos o cenário é um pouco diferente.
Gustavo Cadurim, co-fundador da Yosen Nanotechnology, diz que com a regulamentação específica para suplementos, que surgiu após 2016, o mercado passou por transformações significativas: “Tivemos que usar alguns compostos nanoencapsuladas para que pudéssemos fazer valer os benefícios para serem identificados no rótulo”.
Para os pesquisadores, o foco agora está em estudos e projetos que visam suprir necessidades, até então, subidentificadas, como o controle de dores crônicas.
Eduardo Caritá, Diretor de Tecnologia e Inovação do SENAI, conduz pesquisas sobre os benefícios e usabilidade da nanotecnologia para tratamentos médicos, e conta que a partir de um tipo de nanocápsula que contém canabidiol, por exemplo, é possível controlar uma dor crônica.
“Existe um problema constitucional em torno do cannabis por ser uma substância proibida no Brasil. Nosso corpo produz anandamida, um endocanabinoide, que bloqueia processos inflamatórios”, Caritá esclarece ao falar dos impeditivos de investigar as propriedades encontradas na cannabis para uso na área da saúde.
Para ele, há um atraso na produção de conhecimento devido a isso pois, se combinadas a nanotecnologia, tais propriedades teriam seus benefícios potencializados.
Ainda sobre o alívio de dores, Caritá explica que a nanocápsula age diretamente no local da reação inflamatória eatinge os receptores, promovendo o alívio da dor por seis a oito horas.
Ação muito diferente dos medicamentos apresentados em cápsulas e comprimidos convencionais, que atuam na corrente sanguínea. “O leite materno é um nanoalimento.
Você acha que a natureza ia escolher essa escala para nutrir os neonatos se não fosse uma coisa boa?”, ele questiona. Outro exemplo é a cúrcuma com sua alta capacidade antioxidante, que de acordo com os estudos de Caritá, pode ajudar no tratamento do Alzheimer.
Entretanto, ainda não há extração para essa finalidade por não ser absorvível e não ser solúvel. Nesse sentido, ele argumenta que a criação de nanopartículas para aumentar a absorção de propriedades antioxidantes da cúrcuma é um exemplo de como a tecnologia está sendo utilizada para melhorar os benefícios dos alimentos.Fonte: The Food Connection