Tenho conhecido e estudado diversas situações que têm viabilizado laticínios em diferentes municípios.
As possibilidades são variadas, e os laticínios se diferenciam em termos de estratégia de captação da matéria-prima, ou seja, do leite.
Mas uma questão é fundamental: a construção de mercado e o fortalecimento de uma marca. Isso vale tanto para a produção artesanal quanto para a produção industrial.
Saber posicionar uma marca no mercado, firmar uma identidade e conquistar reconhecimento público leva tempo. São anos de construção de mercado, investindo muitas vezes sem retorno no curto prazo.
Aliás, o que empodera um produtor de leite, mesmo no caso de um grande produtor, é o valor da marca que consegue criar ou à qual consegue se associar. Um segundo aspecto fundamental é o preço médio da captação do leite pelo laticínio.
Nos EUA, por exemplo, ocorre o contrário: o grande produtor faz com que o preço médio do leite caia. Essa característica do nosso mercado decorre de dois fatores. Primeiro, os grandes produtores, de modo geral, ainda possuem custos médios elevados.
Segundo, os pequenos produtores se autoexploram na falta de melhores opções e, por isso, dificilmente terão sucessores.
Então, logicamente, seria de se imaginar que aos laticínios não interessa o desaparecimento dos produtores de menor porte. O problema é que esses produtores têm mais dificuldades para se profissionalizarem e tendem ao desaparecimento.
Os laticínios, assim, estão dando um tiro no pé. Pior ainda, quando se fala de leite à base de pasto, na verdade, são vacas sem pasto ou com pouco pasto e mal manejadas.
Por isso, a organização dos produtores de leite em cooperativas é uma tendência natural, como forma de impulsionar a profissionalização, reduzir custos de insumos, melhorar o preço do leite e viabilizar assistência técnica. A estruturação da cadeia produtiva leiteira passa pela organização dos produtores de leite, inclusive informalmente.
Uma opção interessante que tenho visto no Rio Grande do Sul é a articulação de cooperativas de produtores de leite que se associam a uma grande cooperativa com marca forte, como a Santa Clara, de Carlos Barbosa.
Essa parceria significa que estão construindo oportunidades para descentralizar o parque industrial com base na garantia de captação por meio de parcerias estratégicas.
Conclusão: O mais importante, em Beltrão, é pensar primeiro na organização da base produtiva como condição para atrair ou construir um laticínio.