Introduzida no Brasil na década de 1990, a raça Lacaune tornou-se a base dos rebanhos especializados na produção de leite ovino no país.
Originária do sul da França, mais precisamente da região dos Montes Lacaune, essa raça se destaca pela qualidade do leite, essencial para a fabricação de queijos finos, como o tradicional Roquefort.
A pesquisadora da Embrapa Caprinos e Ovinos Maria Izabel Carneiro Ferreira explica que as ovelhas Lacaune possuem características diferenciadas que as tornam ideais para a produção de leite. “As ovelhas da raça Lacaune apresentam boa adaptação à ordenha.
Os trabalhos de melhoramento genético da raça, que são desenvolvidos na França, apontam outras características desejáveis de destaque como a resistência à mastite, a morfologia do úbere e a facilidade de ordenha.”, destaca.
Entre as décadas de 1950 e 1960, a raça era considerada de dupla aptidão, leite e carne. Depois foi iniciado o processo de seleção genética na França, priorizando o aumento da produção de leite.
Esse trabalho resultou em um significativo avanço na produtividade. No sistema tradicional francês, uma ovelha Lacaune pode produzir de 300 a 400 litros de leite em 180 dias.
Além disso, a raça demonstrou maior persistência na produção leiteira ao longo das lactações sucessivas, permitindo uma menor necessidade de reposição de matrizes e maior longevidade dos animais no rebanho.
A criação de ovinos leiteiros ainda é um segmento recente no Brasil, e os produtores enfrentam desafios como a dependência de material genético importado e as barreiras sanitárias para a introdução de novos animais.
Apesar disso, há esforços para adaptar o sistema produtivo às condições nacionais, de acordo com a pesquisadora, “há iniciativas que visam conhecer e explorar o potencial produtivo de raças nacionais e de animais de composição genética variada, mesclando raças nativas e especializadas”.
A alimentação tem papel crucial na produtividade. Segundo Maria Izabel Ferreira, a nutrição oferecida às ovelhas influencia na composição do leite. “É importante atentar-se para a qualidade dos insumos utilizados, além da adequada proporção entre o volumoso e o concentrado oferecidos bem como o tamanho das partículas dos alimentos.
O acompanhamento do rebanho por um profissional capacitado é a melhor estratégia para manter a saúde e a qualidade da produção animal”, destaca a pesquisadora.
Embora a composição do leite das Lacaune não apresente grandes diferenças em relação a outras raças especializadas, seu grande diferencial está na tradição histórica. A raça foi desenvolvida justamente para a produção de leite destinado à fabricação do queijo Roquefort, um dos mais valorizados do mundo.
“O grande diferencial para a raça Lacaune é a origem histórica da raça que foi desenvolvida nas regiões montanhosas ao sul da França, área de produção do tradicional queijo Roquefort”, afirma Maria.
Com maior constância na produção após sucessivas lactações e menor impacto quando o intervalo entre ordenhas é ampliado, a Lacaune tem se consolidado como a principal raça leiteira ovina no Brasil.
Seu potencial produtivo e a qualidade do leite abrem portas para um mercado em expansão, impulsionando a ovinocultura leiteira e a produção de queijos finos no país.