O leilão 382 do Global Dairy Trade (GDT) trouxe novos elementos para análise estratégica do setor lácteo global, com impactos diretos sobre o posicionamento do Brasil como player exportador.
Com queda de 1,0% no índice geral de preços, o evento marcou a segunda retração consecutiva nas cotações internacionais, reforçando a tendência de correção observada desde maio.
Ainda assim, o desempenho do cheddar — com alta expressiva de 5,1% — merece atenção dos processadores brasileiros, principalmente aqueles voltados ao mercado externo.
Panorama geral: queda nas principais referências
Segundo dados da NZX, os principais índices apresentaram variações negativas:
- LPI (Índice de Preços do Leite em Pó Integral): -2,1% (US$ 4.084/t)
- LPD (Leite em Pó Desnatado): -1,3% (US$ 2.775/t)
- AMF (Gordura Anidra de Leite): -1,3% (US$ 7.276/t)
- Índice GDT geral: -1,0% (US$ 4.389/t)
Essas retrações evidenciam uma desaceleração no apetite de compra por parte dos principais mercados importadores, como Sudeste Asiático e Norte da África, pressionados por inflação, estoques ainda razoáveis e instabilidade geopolítica.
Cheddar surpreende: oportunidade para o Brasil?
No sentido oposto, o preço do cheddar apresentou alta relevante de 5,1%, alcançando US$ 4.992/t, o maior patamar dos últimos três meses. O produto tem ganhado protagonismo nas cotações do GDT e representa uma oportunidade estratégica para os exportadores brasileiros que buscam nichos com maior valor agregado.
Embora o Brasil ainda não seja um exportador expressivo de cheddar, a recuperação global da demanda por queijos industriais — especialmente nos Estados Unidos e Sudeste Asiático — pode motivar o reposicionamento de algumas plantas habilitadas para atender esses mercados.
Além disso, o movimento pode sinalizar um possível realinhamento de margens para fabricantes de queijo fundido e processado.
Manteiga resiste, mussarela cai
A manteiga foi a única commodity de base gordura a registrar valorização, com alta de 1,4%, chegando a US$ 7.890/t. A manteiga tem demonstrado resiliência nos últimos eventos, puxada pela demanda estável em mercados premium, como Japão e Emirados Árabes.
Já a mussarela caiu 1,9% (US$ 4.802/t), refletindo a oscilação de pedidos por parte do setor de food service e da indústria de refeições prontas. A tendência pode ser transitória, mas serve de alerta para quem trabalha com produtos prontos para exportação, como pizza congelada e lasanhas.
Lactose e BMP fora do radar
A lactose teve queda de 3,6%, fechando em US$ 1.323/t, mantendo-se como uma das commodities mais voláteis no GDT. Já o BMP (Buttermilk Powder) não teve cotações registradas neste evento, mantendo o status de produto com liquidez limitada no leilão.
Projeções: o que esperar para os próximos meses?
A leitura do evento 382 sugere que os preços internacionais devem continuar sob pressão no curto prazo, especialmente para o leite em pó — produto-chave nas exportações brasileiras. A continuidade das quedas pode afetar a competitividade do Brasil em destinos como Argélia e Venezuela, mercados sensíveis ao preço e tradicionalmente abastecidos por leite em pó nacional.
Por outro lado, a firmeza do cheddar e da manteiga pode estimular uma revisão nas estratégias de portfólio dos exportadores brasileiros. É hora de observar o comportamento da Nova Zelândia — cuja produção entra em fase de aceleração — e os ajustes que a Europa pode impor à sua política exportadora diante do verão e dos desafios energéticos.
Considerações finais para o mercado brasileiro
Para os agentes da cadeia láctea no Brasil, o leilão GDT 382 oferece sinais mistos, mas importantes. Enquanto a pressão baixista no leite em pó exige prudência nos embarques e nas negociações de contratos futuros, o aquecimento no mercado de queijos pode representar uma janela para reposicionamento estratégico.
O Brasil, cada vez mais atento à dinâmica do comércio global de lácteos, deve aproveitar os dados do GDT como bússola para calibrar decisões de produção, estocagem e exportação. A diversificação de produtos e mercados será essencial para enfrentar um segundo semestre que promete volatilidade — mas também oportunidades.
