Enquanto as bebidas vegetais pareciam prontas para dominar o futuro do mercado de lácteos, uma nova tendência ganha força e pode mudar o jogo: o leite ultra-filtrado.
Marcas como Quest Nutrition, Pioneer Pastures e Nurri estão reinventando o leite tradicional com mais proteína, menos açúcar e benefícios funcionais — sem abrir mão do sabor e da composição láctea autêntica.
E o Brasil deve ficar atento: a inovação do leite ultra-filtrado não é apenas uma moda passageira, mas um movimento estratégico alinhado às novas demandas do consumidor global por saúde, alta performance e conveniência.
Em um país com uma das maiores cadeias produtivas de leite do mundo, entender essa tendência é essencial para manter a competitividade e antecipar o futuro do mercado.
O que é leite ultra-filtrado?
O leite ultra-filtrado passa por um processo de filtração avançado, onde parte da lactose e açúcares são removidos, enquanto a concentração de proteínas aumenta significativamente. Essa tecnologia permite oferecer produtos com mais valor nutricional, menor teor de açúcar e maior digestibilidade — atributos altamente valorizados pelos consumidores modernos.
Além disso, alguns produtos utilizam leite A2, associado a menor desconforto digestivo para pessoas sensíveis à proteína beta-caseína A1, comum no leite convencional.
Por que o Brasil deve observar essa tendência?
O mercado brasileiro de lácteos enfrenta desafios históricos: altos custos de produção, forte concorrência de importados, mudanças no perfil de consumo e aumento da busca por produtos funcionais. Nesse cenário, o leite ultra-filtrado pode ser uma alternativa estratégica para agregar valor, principalmente nas linhas premium, esportivas e de bem-estar.
Dados do Euromonitor mostram que o mercado global de bebidas proteicas deve crescer a taxas superiores a 8% ao ano até 2030. No Brasil, o segmento de produtos com apelo saudável, incluindo lácteos com alto teor de proteína e baixo teor de açúcar, já movimenta bilhões e cresce acima da média do setor.
Além disso, o consumo de produtos como o leite A2, ainda incipiente no país, tende a ganhar relevância com o avanço da informação sobre benefícios digestivos e qualidade nutricional.
Três modelos de sucesso para inspirar a indústria
1. Quest Nutrition: alto desempenho e conveniência
Com presença consolidada no mercado de nutrição esportiva dos Estados Unidos, a Quest lançou sua linha de milk-shakes ultra-filtrados com impressionantes 45g de proteína, apenas 2g de açúcar e menos de 4g de carboidratos líquidos por porção. A estratégia foca em consumidores que buscam alta performance, dietas low-carb e produtos práticos, como bebidas prontas para o consumo.
A empresa aposta forte em marketing digital, influenciadores fitness e presença em redes de varejo como academias, lojas de suplementos e clubes de compras. Um modelo que pode ser replicado no Brasil, especialmente nos grandes centros urbanos e no segmento premium.
2. Pioneer Pastures: transparência e clean label
Lançada em 2024 nos EUA, a Pioneer combina leite ultra-filtrado com leite A2, priorizando simplicidade, transparência e apelo “clean label”. São 30g de proteína por porção, sem proteínas adicionadas, óleos vegetais ou adoçantes artificiais. O foco está em consumidores preocupados com a saúde, famílias, pessoas com leve sensibilidade ao leite tradicional e público fitness.
A empresa cresceu através do boca a boca, degustações e parcerias com nutricionistas — um caminho eficaz em mercados onde confiança e autenticidade são diferenciais, como o Brasil.
3. Nurri: prazer e estilo de vida saudável
A Nurri aposta na combinação de saúde e indulgência, com milk-shakes ultra-filtrados de 30g de proteína, apenas 1g de açúcar e adição de vitaminas A e D. A comunicação é leve e divertida, rompendo com o tom técnico tradicional do setor de bebidas proteicas.
A empresa utiliza marketing de influência e ativações em pontos de venda como o Costco, com degustações que destacam sabor e cremosidade. Esse formato é perfeitamente adaptável ao varejo brasileiro, especialmente em supermercados premium e lojas de produtos saudáveis.
E o que isso significa para o Brasil?
O setor lácteo brasileiro tem a oportunidade de explorar o potencial do leite ultra-filtrado tanto no mercado interno quanto na exportação. Países como os Estados Unidos, Canadá e Austrália já investem pesado nesse nicho, que promete margens mais elevadas e fidelização de consumidores exigentes.
Empresas brasileiras que já atuam com lácteos de valor agregado, como leites A2, bebidas proteicas ou linhas saudáveis, podem acelerar sua entrada nesse segmento. Além disso, o país precisa investir em inovação industrial, tecnologia de filtração e comunicação clara ao consumidor.
O leite ultra-filtrado não é uma ameaça ao leite convencional, mas uma evolução que atende demandas por saúde, praticidade e nutrição avançada. Ignorar essa tendência pode significar perder espaço para importados ou marcas internacionais que enxergam o Brasil como mercado estratégico.
*Creado para eDairyNews 🇧🇷, com informações de Euromonitor e fontes do setor.