ESPMEXENGBRAIND
27 jun 2025
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Leite tipo A: uma classificação que oferece mais segurança, rastreabilidade e oportunidades de valor agregado para produtores e consumidores.
Em nível global, cresce a demanda por leites diferenciados: orgânicos, A2A2, de pasto, sem antibióticos ou com certificações de origem.
Em nível global, cresce a demanda por leites diferenciados: orgânicos, A2A2, de pasto, sem antibióticos ou com certificações de origem.

Na maioria dos países, o leite chega ao consumidor em formatos conhecidos: integral, desnatado, sem lactose ou com diferentes tratamentos térmicos.

Porém, por trás dessa aparente uniformidade, existem grandes diferenças na forma de produzir, processar e controlar o leite.

Uma das categorias menos divulgadas, mas com grande potencial, é o “leite tipo A”, um padrão sanitário já aplicado nos Estados Unidos e que pode abrir novas oportunidades para o setor lácteo em outros mercados.

O que é o leite tipo A?

A denominação vem do sistema norte-americano, onde o “Grade A milk” é o único autorizado para comercialização como leite líquido para consumo direto.

Não se trata de um produto com maior valor nutricional, mas sim de um rigoroso padrão de higiene, rastreabilidade e manejo.

Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), para ser considerado tipo A, o leite deve conter menos de 100.000 unidades formadoras de colônias (UFC) por mililitro e ser resfriado a menos de 7 °C nas duas horas seguintes à ordenha.

Todo o processo, desde a produção até o envase, deve ocorrer em um sistema fechado e sob rígido controle sanitário (USDA, Pasteurized Milk Ordinance, 2020).

Em contrapartida, o leite de “Grau B”, naquele país, é destinado à indústria de derivados, como queijos e manteiga, e não pode ser vendido como leite líquido para o consumidor final.

Diferenciação que ganha espaço no mercado

Em nível global, cresce a demanda por leites diferenciados: orgânicos, A2A2, de pasto, sem antibióticos ou com certificações de origem.

De acordo com o Market Research Future (2023), esse segmento pode crescer a uma taxa de 8,5% ao ano e atingir 45 bilhões de dólares em 2027.

Os consumidores buscam, cada vez mais, produtos que ofereçam confiança, qualidade e sustentabilidade.

O leite tipo A se encaixa perfeitamente nessa tendência: embora seu diferencial seja estritamente sanitário, ele resulta em maior frescor, menor intervenção industrial e rastreabilidade completa — atributos valorizados pelos consumidores mais exigentes.

Existem equivalências em outros países?

Alguns países aplicam regulamentações que buscam resultados semelhantes, embora variem as nomenclaturas e os requisitos técnicos.

Na Europa, por exemplo, o leite cru certificado pode ser vendido sob rigoroso controle de sanidade e rastreabilidade, mesmo sem passar por pasteurização.

Em países como México, Argentina, Chile ou Austrália, existem categorias como “leite classe 1” ou “leite grau A”, com exigências superiores de qualidade, especialmente no que se refere à carga bacteriana e às condições de ordenha e transporte.

Porém, em muitos mercados, a implementação de uma categoria sanitária tipo A como padrão para consumo direto ainda não está amplamente difundida.

É viável ampliar a categoria tipo A?

Do ponto de vista técnico, muitas fazendas leiteiras já operam com padrões próximos aos requisitos do leite tipo A, principalmente aquelas integradas em cadeias premium ou com certificações internacionais.

Adaptar mais produtores a esses níveis de exigência é possível, embora exija investimento, capacitação e um marco regulatório claro.

O desafio não é apenas técnico: é fundamental construir canais comerciais que reconheçam esse diferencial e formar um consumidor informado e disposto a valorizar — e pagar — por essa opção.

Impacto além dos negócios: saúde e confiança

Elevar os padrões de produção não apenas agrega valor ao negócio, mas também traz benefícios à saúde pública e fortalece a confiança do consumidor.

Leite com menor carga bacteriana, processos controlados da fazenda até a prateleira e menor manipulação industrial contribuem para produtos mais seguros, frescos e com melhores características sensoriais.

Em um contexto no qual escândalos alimentares ou notícias de contaminação prejudicam a percepção do consumidor, contar com selos ou categorias diferenciadas pode ser uma ferramenta fundamental para fortalecer a imagem da cadeia láctea.

Wisconsin: o modelo de rigor

Wisconsin, principal estado leiteiro dos Estados Unidos, é um exemplo da aplicação rigorosa do leite tipo A.

Lá, o leite deve ser resfriado em até duas horas após a ordenha, as fazendas passam por inspeções periódicas e cada lote é registrado e monitorado em detalhes.

Para os produtores, atender a essas normas não é opcional, mas uma exigência para acessar o mercado de leite líquido.

Esse modelo demonstra que é possível combinar escala de produção, rigor sanitário e geração de valor agregado.

Um caminho para a América Latina?

Implementar uma categoria sanitária tipo A na região não só é viável, como pode ser uma oportunidade para posicionar os países produtores como fornecedores de leite de alta qualidade e total rastreabilidade.

Em um cenário global em que os consumidores exigem cada vez mais informação e segurança, avançar na diferenciação dos produtos lácteos não é mais um luxo — é uma estratégia necessária para competir.

Arantxa Gorno, com edição de Valeria Hamann

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