Brasil e México, as duas maiores economias da América Latina, iniciaram tratativas para expandir seu atual acordo comercial, movimento que o setor lácteo brasileiro acompanha com atenção.
A iniciativa, que visa reduzir a dependência econômica dos Estados Unidos e da China, pode representar uma oportunidade estratégica para diversificar as exportações de produtos lácteos brasileiros.
O acordo vigente entre Brasil e México existe desde os anos 2000 e contempla cerca de 800 categorias de produtos com tarifas reduzidas ou isentas.
Embora o setor de lácteos ainda não tenha posição de destaque nesse intercâmbio, a ampliação do acordo pode abrir espaço para aumentar a presença de produtos como queijos, leite em pó e derivados brasileiros no mercado mexicano, especialmente em nichos como alimentação industrial e ingredientes.
Segundo o Financial Times, as negociações ganharam ritmo após a posse da presidente mexicana Claudia Sheinbaum, em junho, e vêm sendo impulsionadas pela afinidade política com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Desde outubro de 2024, diplomatas dos dois países mantêm conversas informais, com previsão de avanço técnico em agosto, quando a secretária de Comércio Exterior do Brasil, Tatiana Prazeres, visitará a Cidade do México.
Apesar de ambos serem líderes regionais, Brasil e México historicamente mantiveram distância em termos comerciais, muito em função do forte vínculo do México com os Estados Unidos, principal destino de suas exportações.
Em 2024, o México movimentou US$ 840 bilhões em comércio com os EUA, enquanto o intercâmbio com o Brasil somou US$ 13,6 bilhões, com superávit de US$ 2 bilhões para os brasileiros.
Para o Brasil, o México representa um mercado estratégico, especialmente em setores como aeroespacial, farmacêutico e de alimentos.
No caso dos lácteos, o México já se consolidou como o maior importador mundial de leite em pó, com compras anuais superiores a 400 mil toneladas, segundo dados do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).
A maior parte dessa demanda é atendida pelos EUA e pela Nova Zelândia, mas existe potencial de inserção para outros fornecedores competitivos.
“O México é um dos maiores consumidores de lácteos da região e há demanda crescente, principalmente por ingredientes lácteos e produtos de maior valor agregado”, explica uma fonte do setor industrial brasileiro, sob reserva. “Ampliar o acordo comercial pode facilitar o acesso, mas ainda é cedo para falar em impacto concreto”, completa.
Por ora, tanto Brasil quanto México mantêm cautela para não tensionar as relações com seus principais parceiros, especialmente os Estados Unidos e a China. O discurso oficial aponta para uma estratégia de diversificação e maior integração regional, bandeira que Lula defende desde o início do mandato.
Ainda não está definido se as tratativas resultarão na simples ampliação do atual acordo ou na negociação de um novo tratado mais abrangente.
Fontes próximas ao processo avaliam que, diante das prioridades mexicanas com o USMCA (Acordo Estados Unidos-México-Canadá) e das eleições brasileiras de 2026, uma atualização pontual do acordo existente parece mais viável no curto prazo.
Para o setor lácteo brasileiro, que enfrenta desafios de competitividade interna e busca expandir mercados externos, toda abertura comercial regional representa uma possibilidade concreta de diversificação. A eDairyNews seguirá acompanhando de perto cada avanço dessas negociações.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Sputnik Brasil