A nova ofensiva tarifária que Donald Trump prepara contra mais de 50 países está redesenhando o tabuleiro do comércio global. Em meio à escalada do protecionismo, o Brasil — membro ativo do bloco BRICS — caminha na corda bamba entre riscos e oportunidades para o agro, especialmente no setor de lácteos.
Durante o feriado de 4 de julho, Trump anunciou que enviará cartas a cerca de uma dúzia de países com novos níveis de tarifas sobre suas exportações para os Estados Unidos. O movimento, típico de sua estratégia de negociação, revive o fantasma da guerra comercial iniciada em 2018, com impactos globais ainda visíveis.
Países como Japão, Coreia do Sul, Índia, Vietnã e União Europeia estão no centro das conversas. O Brasil, embora não mencionado até agora, observa com atenção. Seu papel nos BRICS e sua ambição de expandir exportações agroindustriais, incluindo os lácteos, o colocam em uma posição sensível.
BRICS: proteção ou vulnerabilidade?
Estar nos BRICS pode ser uma vantagem estratégica para o Brasil. Com a retração dos EUA no multilateralismo, o bloco emerge como alternativa para aprofundar parcerias comerciais com China, Índia, África do Sul e outras economias emergentes. Essa rede pode abrir novos destinos para produtos brasileiros, inclusive os lácteos.
Por outro lado, a aproximação do Brasil com potências como China ou Rússia pode ser malvista por Washington. Caso Trump retome a presidência com uma agenda agressiva, o Brasil pode se ver pressionado a escolher lados em disputas que ameaçam sua autonomia comercial.
O agro no centro da disputa
Embora o setor de lácteos não esteja diretamente mencionado nas tarifas, ele sente os efeitos indiretos. Barreiras comerciais aumentam custos, reduzem o apetite por importações e deslocam fluxos de produtos, o que pode criar tanto dificuldades quanto brechas para novos fornecedores.
Se a União Europeia ou a Ásia forem atingidas por tarifas americanas, abrirá espaço para o Brasil preencher lacunas em mercados que exigem estabilidade e competitividade. A recente busca dos BRICS por protagonismo comercial é uma janela de oportunidade que o Brasil não pode ignorar.
Mercosul em alerta e a posição da Argentina
Os reflexos dessas tensões comerciais não se limitam ao Brasil. Como parceiro chave no Mercosul, a Argentina também acompanha de perto os desdobramentos.
Com uma economia sensível ao comércio internacional e uma produção láctea com vocação exportadora, o país pode tanto se beneficiar de espaços abertos por tarifas a terceiros quanto enfrentar obstáculos indiretos, como retração da demanda ou flutuações cambiais.
Além disso, o fortalecimento do Brasil como plataforma exportadora no contexto BRICS pode reposicionar a dinâmica comercial do bloco sul-americano, exigindo maior coordenação entre os países do Mercosul para defender interesses comuns em fóruns multilaterais e acelerar negociações bilaterais estratégicas.
Hora de agir com estratégia
Com uma diplomacia comercial bem articulada, o Brasil pode transformar o risco em vantagem. Mas isso exige agilidade, previsão e capacidade de negociação. O mundo vive um novo ciclo de realinhamento econômico, e o agro brasileiro — com os lácteos inclusos — precisa estar preparado para jogar o jogo global com inteligência.
Entre ameaças tarifárias e oportunidades comerciais, o Brasil caminha com um olho em Washington e outro em Pequim. O futuro do setor lácteo depende da capacidade do país de se posicionar, negociar e aproveitar as brechas deixadas por uma nova geopolítica do protecionismo.
Por Valéria Hamann, para eDairyNews Brasil