ESPMEXENGBRAIND
9 jul 2025
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🧪 🔬 Um sistema com luz UV elimina patógenos do leite sem destruir nutrientes essenciais. A indústria láctea observa de perto o que pode ser uma revolução.
O sistema lácteo global está pronto para repensar seus padrões de tratamento do leite?
O sistema lácteo global está pronto para repensar seus padrões de tratamento do leite?

Com a aprovação da FDA, uma nova tecnologia de tratamento não térmico promete mudar o paradigma global do processamento do leite.

Baseado em luz ultravioleta, o método elimina patógenos sem os efeitos adversos do calor, preservando enzimas, proteínas imunológicas e compostos bioativos que normalmente são destruídos pela pasteurização tradicional.

Pela primeira vez, um sistema não térmico foi reconhecido pela agência reguladora norte-americana como equivalente, em termos de segurança, à pasteurização. Isso abre caminho para aplicações em proteínas funcionais, derivados nutricionais e ingredientes de alto valor agregado.

Para um setor que busca constantemente eficiência, sustentabilidade e diferenciação nas exportações, essa inovação merece atenção.

Uma inovação que provoca toda a cadeia

Com sede na Califórnia, a Tamarack Biotics tem como objetivo modernizar um método que mudou muito pouco nos últimos 150 anos.

O que sua tecnologia propõe não é apenas melhorar a eficiência, mas também reposicionar o conceito de “leite seguro”: sem calor, com garantia sanitária e sem sacrificar o que consumidores mais conscientes valorizam no leite cru.

Em testes clínicos recentes, como o conduzido pela UC Davis, observou-se que concentrados proteicos tratados com TruActive® ajudaram a restaurar funções imunológicas em idosos.

E estudos anteriores, realizados na Europa, que associavam o consumo de leite cru a menores índices de alergias em crianças, reforçam os argumentos a favor do processamento de compostos lácteos sem calor, mas com segurança validada.

A aprovação regulatória inicial permite seu uso em ingredientes como whey protein concentrate, milk protein concentrate e compostos imunológicos como a lactoferrina.

A Tamarack já anunciou planos de expansão para produtos fermentados como iogurte, kefir, queijos e até colostro. A empresa estima que, até 2027, poderá solicitar autorização para uso do tratamento em leite fluido para consumo direto.

O que o mercado global precisa começar a discutir

Com a FDA abrindo caminho, as questões emergentes já não são apenas tecnológicas — mas também estratégicas e comerciais.

O sistema lácteo global está preparado para repensar seus padrões sobre o tratamento do leite? Uma das perguntas centrais diz respeito ao custo energético real do processo UV.

Embora a Tamarack afirme que é mais eficiente do que a pasteurização térmica, a avaliação completa deve considerar escalabilidade industrial, disponibilidade de equipamentos, investimento inicial e custos de manutenção — especialmente se o objetivo for seu uso em larga escala além dos ingredientes premium.

A segunda questão relevante é a viabilidade da adoção em massa. Plantas de médio porte ou cooperativas em países emergentes conseguirão se adaptar a essa tecnologia? Ou ela ficará restrita a centros de alta tecnologia e produção especializada?

Também está em jogo se este avanço representa uma revolução sanitária com projeção global, ou se será apenas mais uma alternativa de nicho, voltada à crescente demanda por alimentos clean label, funcionais e minimamente processados em mercados de alto poder aquisitivo.

Outro ponto-chave é a compatibilidade com as regulamentações internacionais. O processo TruActive® atenderá às exigências técnicas de mercados exigentes como a União Europeia ou a China?

Como reagirão entidades como a EFSA ou a Administração Geral de Alfândegas da China diante de uma tecnologia disruptiva que reconfigura o conceito atual de leite pasteurizado?

E por fim, surge a grande dúvida: as autoridades sanitárias nacionais e internacionais vão permitir o uso dessa tecnologia também em leite fluido? Essa resposta pode redefinir as regras do jogo para produtores, processadores e exportadores lácteos no mundo todo.

Um alerta para os líderes do setor

Além do entusiasmo técnico, o avanço da Tamarack Biotics é um chamado direto aos responsáveis por inovação, qualidade e desenvolvimento de negócios na indústria global de laticínios.

Não se trata de um fenômeno isolado nos Estados Unidos, mas de um sinal claro de como ciência e tecnologia estão desafiando paradigmas históricos — mesmo em setores altamente regulados como o lácteo.

Para exportadores de ingredientes como Argentina, Uruguai, Nova Zelândia ou Irlanda, essa novidade pode representar uma vantagem competitiva ou uma barreira, dependendo de como se posicionarem diante dessa nova categoria de produtos.

Até empresas que hoje apostam fortemente em proteínas biofuncionais para nutrição esportiva ou fórmulas infantis terão que decidir se adaptam seus processos — ou se buscam se diferenciar por outros caminhos.

A discussão já não é se é possível eliminar patógenos sem calor. A discussão agora é quando e como essa tecnologia será incorporada aos padrões internacionais.

A Tamarack Biotics não reinventou o leite cru, mas deu um passo importante em direção a uma versão mais segura, mais estável e potencialmente mais lucrativa para determinados segmentos de mercado.

O fato de a FDA ter validado o processo TruActive® como equivalente à pasteurização coloca à prova os limites entre o tradicional, o saudável e o regulado.

Em um momento em que as exigências do consumidor e as capacidades tecnológicas avançam mais rápido que os marcos regulatórios, a indústria láctea global precisa manter-se atenta — e agir com visão.

Valeria Hamann
eDairyNews

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