A imposição de uma tarifa de 50% sobre todas as importações brasileiras pelos Estados Unidos, anunciada por Donald Trump e com vigência a partir de 1º de agosto de 2025, já está sacudindo o comércio exterior brasileiro.
Entre os setores mais diretamente afetados está o de proteínas animais, com destaque para carnes bovina, suína e de frango — pilares da pauta exportadora nacional.
Embora o impacto sobre os laticínios também exista, o setor de exportação de lácteos do Brasil ainda é incipiente.
Já as proteínas representam bilhões em negócios com os EUA, que são um dos principais destinos desses produtos.
A medida ameaça essa relação comercial estratégica, podendo gerar prejuízos expressivos para a agroindústria e o agronegócio brasileiro como um todo.
Custo direto sobre carnes e derivados
A tarifa de 50% incidirá sobre todos os produtos importados do Brasil, elevando consideravelmente o preço final para os consumidores norte-americanos. No caso das proteínas, isso reduz a competitividade frente a fornecedores como México, Canadá ou Austrália, que não enfrentam a mesma penalização.
Empresas brasileiras que atuam fortemente no segmento — como JBS, BRF e Marfrig — já se mobilizam para avaliar impactos logísticos, comerciais e operacionais da medida.
Além das carnes in natura, a tarifa atinge produtos processados e de valor agregado, como cortes especiais, alimentos congelados e proteínas industrializadas destinadas ao setor de food service dos EUA.
Tensões políticas e risco de retaliação
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu prometendo medidas recíprocas com base na Lei Brasileira de Retaliação Comercial. Entre as opções, está o aumento de tarifas sobre produtos agrícolas e industriais dos EUA. O clima de confronto lembra o início de uma possível guerra comercial.
Nos bastidores, a decisão de Trump é interpretada como uma retaliação direta ao governo Lula, após críticas públicas do presidente brasileiro ao histórico político de Jair Bolsonaro, aliado declarado do ex-presidente norte-americano.
Efeitos na balança comercial e na cadeia de proteínas
A exportação de carnes é um dos principais motores da balança comercial brasileira. Em 2024, o Brasil exportou cerca de US$ 2,5 bilhões em carnes apenas para os EUA, segundo dados do Ministério da Agricultura. A nova tarifa pode comprometer seriamente esse desempenho.
Além disso, caso as exportações diminuam, a tendência é que a oferta interna aumente, o que pode gerar queda nos preços domésticos e impactar os pequenos e médios produtores.
Outro risco é o encarecimento de insumos importados, como tecnologia, medicamentos veterinários e ração — amplamente utilizados na pecuária brasileira. A desvalorização do real, que já ultrapassou 2% após o anúncio da tarifa, agrava essa pressão sobre os custos de produção.
Setor lácteo também sente o impacto
O setor lácteo brasileiro também pode sofrer consequências, ainda que as exportações de lácteos para os EUA sejam limitadas.
Produtos como leite em pó, queijos e manteiga, que vinham sendo testados em nichos de mercado nos Estados Unidos, perdem atratividade com a nova carga tributária. Além disso, o excedente de produção não exportada poderá pressionar o mercado interno.
Reação do mercado e estratégias de contenção
Diante da nova realidade, analistas preveem que empresas brasileiras buscarão alternativas para manter seus níveis de exportação:
- Redirecionamento para Ásia e Oriente Médio, embora isso demande adequações logísticas e sanitárias.
- Investimento em valor agregado, com foco em produtos diferenciados.
- Fortalecimento das relações comerciais dentro do Mercosul e com países que mantêm acordos bilaterais mais estáveis com o Brasil.
Por outro lado, empresas norte-americanas que importam proteína brasileira já sinalizam preocupação com o aumento de preços e a possível escassez de determinados cortes, o que pode gerar pressão interna sobre a própria Casa Branca.
A decisão de Trump de taxar em 50% todas as importações do Brasil é um duro golpe para o setor de proteínas, que vinha se consolidando como uma força global.
Com alta dependência dos mercados internacionais, especialmente dos Estados Unidos, a cadeia de carnes brasileira precisará reagir com agilidade para mitigar os efeitos da medida.
Resta saber se o embate comercial será contido diplomaticamente ou se evoluirá para uma disputa mais ampla, com consequências severas para o comércio bilateral e a estabilidade dos mercados globais de alimentos.