ESPMEXENGBRAIND
13 jul 2025
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Cruzamentos carne/leite mostram vantagens claras no confinamento, mas o mercado ainda paga mais do que o retorno real justifica.
Dados da consultoria CattleFax mostram que esses animais já representam entre 15% e 20% da produção total de carne bovina nos Estados Unidos. Bezerros
Dados da consultoria CattleFax mostram que esses animais já representam entre 15% e 20% da produção total de carne bovina nos Estados Unidos

Os cruzamentos entre raças leiteiras e de corte ganham espaço nos EUA, com desempenho superior em carcaça e eficiência. Mas o mercado está supervalorizando esses animais?

Bezerros oriundos de cruzamentos entre vacas leiteiras e touros de corte, os chamados beef-on-dairy, deixaram de ser uma tendência para se consolidarem como estratégia de negócio.

Cada vez mais produtores de leite vêm apostando nesses cruzamentos como alternativa para vacas de baixa produção, agregando valor à cria com melhor musculatura e qualidade de carcaça.

Dados da consultoria CattleFax mostram que esses animais já representam entre 15% e 20% da produção total de carne bovina nos Estados Unidos, com um volume estimado de 2 a 3 milhões de cabeças abatidas por ano. E tudo indica que esses números vão crescer.

“Esses cruzamentos vieram para ficar”, afirma Melanie Concepcion, doutoranda da Michigan State University. Ela lidera estudos que buscam entender os impactos econômicos e zootécnicos dos animais beef-on-dairy e alerta que, apesar do bom desempenho, há distorções no valor de mercado.

Desempenho superior no confinamento

Em seu primeiro estudo, Concepcion comparou 75 bois Holandeses puros e 75 cruzados beef-on-Holstein criados sob as mesmas condições em confinamentos de Michigan. Os resultados foram expressivos:

  • Os beef-on-dairy atingiram peso de abate 21 dias mais cedo
  • Converteram ração com mais eficiência
  • Apresentaram 20% mais área de contrafilé
  • Tiveram rendimento de carcaça superior

 

A musculatura mais desenvolvida e o menor teor de gordura renal, pélvica e cardíaca também tornam esses animais mais atrativos para frigoríficos, entregando mais carne comercializável.

Por outro lado, a saúde do fígado é um ponto de atenção: 39% dos bois cruzados apresentaram abscessos hepáticos, em alguns casos graves.

“Esses abscessos exigem cortes na carcaça e reduzem seu valor final”, explica Concepcion.

Preços inflacionados?

A parte econômica é onde o alerta acende. No estudo, os bezerros cruzados custaram, em média, US$ 310 a mais que os Holandeses. Mas, segundo os dados de retorno, o prêmio justo seria de apenas US$ 273.

“Eles valem mais, mas estamos pagando além do que realmente entregam,” aponta a pesquisadora.

Com alguns bezerros cruzados superando os US$ 1.000, a disparidade entre custo e retorno preocupa. A mesma tendência foi verificada em um segundo estudo, com diferença de US$ 353 no custo, mas retorno justificado de apenas US$ 281.

Silagem de milho como aliada da saúde hepática

Buscando mitigar os abscessos hepáticos, Concepcion investigou o impacto da dieta na saúde do fígado. O estudo testou dietas com 20% e 40% de silagem de milho em 130 bois (Holandeses e beef-on-Holstein).

O resultado foi claro: a maior inclusão de silagem reduziu significativamente os casos de abscessos, sem prejudicar a eficiência alimentar ou o custo por ganho.

“Aumentar a fibra melhora a saúde hepática sem comprometer o desempenho”, destaca.

Qualidade de carcaça consistente

Apesar das diferenças de dieta e genética, os cruzamentos mantiveram consistência na classificação de carcaça, com marmoreio equivalente e maioria dos animais atingindo classificação choice de média a baixa — padrão aceitável de mercado sem elevação de custos.

A previsibilidade no rendimento e na qualidade final reforça o apelo dos beef-on-dairy, especialmente para confinadores e frigoríficos que buscam eficiência e padronização.

O desafio da precificação

Apesar dos resultados positivos, Concepcion reforça que o entusiasmo do mercado precisa ser calibrado. Os cruzamentos entregam mais, sim, mas nem sempre justificam os prêmios pagos atualmente.

“O que falta é alinhar expectativa com realidade produtiva”, conclui. Ela continua conduzindo estudos sobre saúde intestinal, genética e estratégias de manejo para aprofundar o conhecimento sobre esses cruzamentos que prometem mudar a lógica da produção de carne bovina com base leiteira.

*Adaptado para eDairyNews, com informações de Beef Point

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