ESPMEXENGBRAIND
16 jul 2025
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16 jul 2025
Com produtividade 235% maior e concentração regional crescente, Brasil avança na pecuária leiteira — mas deixa um país inteiro para trás.
Brasil. A produção se concentrou, e com ela vieram maior densidade produtiva, acesso a serviços e infraestrutura logística.
A produção se concentrou, e com ela vieram maior densidade produtiva, acesso a serviços e infraestrutura logística.

Enquanto parte do Brasil alcança padrões de produtividade dignos da Nova Zelândia, outra ainda ordenha vacas com métodos do século passado.

Entre 1980 e 2023, o país triplicou sua produção de leite diário, mesmo reduzindo o número de vacas em ordenha. O segredo? Tecnologia, escala e concentração.

Dados do Anuário Leite 2025, da Embrapa Gado de Leite, mostram um salto de 30 para 97 milhões de litros de leite por dia no período. No mesmo intervalo, o rebanho ordenhado caiu de 17 milhões para 16 milhões de vacas. Um feito que escancara o impacto da inovação no campo.

Mas o avanço não foi uniforme. O que se desenha no mapa da pecuária leiteira brasileira é um contraste gritante: de um lado, regiões tecnificadas, intensivas e competitivas; do outro, territórios onde o leite ainda é atividade de subsistência, distante de qualquer revolução tecnológica.

Dois Brasis no mesmo balde

Em 1980, metade de todo o leite produzido no país vinha de uma área de 402 mil km², centrada em estados como Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. Quarenta e três anos depois, essa mesma metade vem de apenas 284 mil km².

A produção se concentrou, e com ela vieram maior densidade produtiva, acesso a serviços e infraestrutura logística.

Minas Gerais segue como protagonista. Mas a região Sul — especialmente Paraná e Rio Grande do Sul — consolidou seu lugar no topo. E um novo polo começa a se formar no Nordeste, com destaque para Pernambuco, Alagoas, Ceará e Sergipe.

Essa concentração geográfica, além de lógica do ponto de vista econômico, tem consequência direta na produtividade: as regiões mais densas evoluíram de 968 para 3.830 litros/vaca por ano entre 1980 e 2023. A densidade de produção saltou de 38 para 170 litros por km²/dia. Um marco.

Menos vacas, mais leite — e o que isso nos diz

É preciso reconhecer: a pecuária leiteira brasileira nunca foi tão eficiente. Em quatro décadas, tornou-se mais tecnológica, mais produtiva e menos dependente de volume de animais. Isso também significa menor impacto ambiental por litro produzido, uso mais racional de recursos e maior competitividade internacional.

Mas há um alerta. O outro Brasil — aquele que produz a outra metade do leite — também evoluiu, mas em ritmo bem mais lento.

A diferença entre os dois Brasis se tornou um abismo. E esse abismo não é só técnico: é também social e econômico.

O desafio da inclusão produtiva

Se a consolidação da cadeia é inevitável, a exclusão de parte dela não pode ser. A transformação em curso precisa considerar os pequenos produtores, as regiões com menos acesso a crédito, extensão rural e infraestrutura.

O risco é claro: ampliar a desigualdade dentro da cadeia leiteira e comprometer a sustentabilidade social da atividade no médio prazo. O leite brasileiro está mais moderno — mas ainda precisa ser mais justo.

*Adaptado para eDairyNews, com informações de O Presente Rural

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