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17 jul 2025
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Especialistas apontam que impacto no mercado interno será limitado e temporário. Setores como suco de laranja e pescados estão em alerta.
Exportações brasileiras para os Estados Unidos serão tarifadas em 50% a partir de 1º de agosto e preços no mercado podem mudar – Foto: Reprodução/Fiesc/ND
Exportações brasileiras para os Estados Unidos serão tarifadas em 50% a partir de 1º de agosto e preços no mercado podem mudar – Foto: Reprodução/Fiesc/ND

O anúncio da tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros que entram nos Estados Unidos, feito recentemente pelo ex-presidente Donald Trump, provocou reações imediatas do governo federal e acendeu o alerta em diversos setores da economia.

No entanto, a expectativa de que os preços no mercado interno brasileiro possam cair por conta da menor demanda externa deve ser revista. Especialistas explicam que os impactos são pontuais, temporários e, em alguns casos, podem até pressionar os preços para cima.

Segundo o economista João Victor da Silva, o perfil das exportações brasileiras para os EUA é diferenciado, com maior valor agregado e menos foco em commodities. “São produtos com maior sofisticação, como aviões, motores e aço. O impacto da tarifa atinge principalmente a indústria, que já enfrenta dificuldades estruturais há décadas”, afirma.

De fato, produtos como soja, milho e frango, que têm presença nos dois mercados, poderiam ter uma leve sobra interna no curto prazo. Mas Silva alerta que, nesse cenário, o movimento seria passageiro: “A tendência, a médio e longo prazo, é redirecionar esses produtos para outros mercados ou ajustar a produção à nova realidade”.

Efeitos colaterais e inflação interna

Lucas Sharau, economista e sócio da iHUB Investimentos, reforça que o impacto pode ser o oposto do que muitos esperam. “Se o exportador vê que seus produtos estão mais caros no exterior por conta da tarifa, ele tende a reajustar os preços no mercado interno para manter sua margem. Isso pode, sim, gerar uma pressão inflacionária indireta no Brasil”, explica.

Setores em alerta

O setor de suco de laranja foi um dos primeiros a se manifestar. A CitrusBR, associação que representa os exportadores, destacou que os EUA são destino de 41,7% das exportações brasileiras do produto, o que equivale a US$ 1,31 bilhão em faturamento.

A entidade classificou a nova tarifa como “insustentável” para o setor, que não possui margem para absorver esse impacto.

Na mesma linha, a Abipesca destacou que 70% das exportações brasileiras de pescados vão para os Estados Unidos, movimentando mais de US$ 240 milhões e envolvendo milhares de empregos diretos e indiretos, inclusive na pesca artesanal e aquicultura familiar.

Para a Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos), a nova tarifa criará uma reconfiguração nas rotas comerciais. “Exportadores brasileiros terão de buscar novos mercados, enquanto importadores americanos procurarão outros fornecedores. Isso afeta contratos, preços e estabilidade das cadeias produtivas globais”, diz a entidade.

Indústria avalia alternativas

Empresas com atuação nos EUA, como a Weg e a Embraer, podem buscar a ampliação de suas operações dentro do território americano para reduzir o impacto das tarifas. No entanto, isso também implica em maiores custos de produção, especialmente com mão de obra.

O economista João Victor destaca que esse movimento vai justamente ao encontro do que Trump deseja: forçar a produção local nos Estados Unidos. Mas alerta que nem todas as empresas têm estrutura ou capital para essa transição rápida.

Cautela jurídica e diplomática

O CEO do CGM Advogados, André Gilberto, aponta que a nova tarifa gera incertezas jurídicas, especialmente em contratos vigentes. “Empresas estão revisando cláusulas, discutindo força maior e, em alguns casos, avaliando a necessidade de reequilibrar contratos judicialmente — inclusive nos Estados Unidos, dependendo da cláusula de foro”, explica.

Enquanto isso, muitos exportadores suspenderam entregas e pagamentos, aguardando definições. “Trump costuma anunciar, esperar reação e depois negociar. Estamos em um momento de muita incerteza”, observa Sharau.

O governo brasileiro, por sua vez, classificou a medida como inadequada e reafirmou a soberania nacional. O vice-presidente Geraldo Alckmin anunciou a criação de dois grupos de trabalho para buscar alternativas e mitigar os efeitos do tarifaço, que entra em vigor em 1º de agosto.

*Adaptado para eDairyNews, com informações de ND+

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