ESPMEXENGBRAIND
18 jul 2025
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Com margens apertadas no leite fluido, laticínios apostam nos queijos, cuja produção cresceu 6% em 2024 e segue em alta no Brasil.
Queijo. Fabio Scarcelli: “Há um potencial muito grande para um aumento no consumo” — Foto: Divulgação
Fabio Scarcelli: “Há um potencial muito grande para um aumento no consumo” — Foto: Divulgação

A consolidação no mercado de queijos tem se intensificado no Brasil, impulsionada por uma demanda crescente e pela busca da indústria por margens mais atrativas.

Com o consumo de leite fluido estagnado e os custos em alta, o queijo tem se mostrado uma alternativa estratégica para os laticínios que desejam agregar valor à matéria-prima.

De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Queijo (ABIQ), a produção nacional de queijos cresceu 6% em volume em 2024, atingindo 1,46 milhão de toneladas.

A palavra-chave dessa transformação é demanda. Segundo o presidente da ABIQ, Fabio Scarcelli, o consumo per capita de queijo no país ainda é relativamente baixo — cerca de 7 kg por ano — mas tem crescido 3% ao ano. A meta do setor é alcançar 10 kg até 2030.

Esse cenário tem motivado uma onda de fusões, aquisições e investimentos estratégicos. Um dos movimentos mais relevantes foi a entrada da Aurora Alimentos no segmento de queijos finos com a compra da catarinense Gran Mestri, operação que deve gerar uma receita adicional de R$ 230 milhões anuais.

A cooperativa também passará a produzir queijo ralado e manteiga com a marca Aurora.

Outro exemplo é a aquisição da gaúcha Deale pela Scala, e os planos de expansão da Alvoar no Nordeste, que incluem novas fusões e aquisições. Em Minas Gerais, o Laticínio São Vicente recebeu aporte da Persa Investments, controladora da Só Leite Brasil (SLBR), marcando sua consolidação no segmento de queijos mofados.

Segundo a pesquisadora do Centro de Inteligência do Leite da Embrapa, Kennya Siqueira, a tendência vai além das fronteiras brasileiras. “Esse movimento já ocorre há algum tempo em outros países”, observa.

Dados da ABLV (Associação Brasileira da Indústria de Lácteos Longa Vida) apontam um aumento de 4% no volume de leite destinado à produção de queijo em 2024 — mais que o dobro da média da última década.

As vendas também refletem esse impulso. Segundo a Nielsen, em 2024, o valor comercializado de queijos cresceu 15% e o volume 10%, enquanto o leite UHT subiu apenas 8% em valor e 3% em volume.

Juliana Pila, da Scot Consultoria, destaca que a consolidação também é motivada pela busca por escala, que ajuda a diluir custos fixos em meio ao aumento de despesas com energia, transporte e embalagens.

“Além disso, muitas aquisições são feitas em regiões onde a empresa ainda não atua, o que amplia o acesso a novas bacias leiteiras e mercados consumidores estratégicos.”

No entanto, ela alerta para sinais de desaceleração econômica que podem afetar o consumo. A produção de leite, por sua vez, tem se mantido alta mesmo na entressafra.

Isso pressiona os estoques e reduz os preços pagos ao produtor. O Cepea/Esalq-USP registrou queda de 3,9% no preço médio do leite captado em maio, que ficou em R$ 2,6431 por litro, valor 7,4% inferior ao registrado um ano antes.

Para Scarcelli, o atual cenário abre espaço para novas aquisições. “Empresas capitalizadas estão aproveitando o momento para expandir suas operações”, afirma.

A disputa por matéria-prima também é um fator-chave. “Adquirir outro laticínio é uma maneira rápida de ampliar a captação de leite sem pressionar ainda mais o preço no campo.”

O sócio de um laticínio, que preferiu não se identificar, destaca o papel da Lactalis na movimentação do setor. “A série de aquisições feitas pela empresa nos últimos dez anos para liderar o mercado obrigou os concorrentes a se mexerem.”

Por fim, o endividamento elevado, associado à alta da Selic, levou várias empresas a venderem suas operações. Um dos casos mais emblemáticos foi o da Coca-Cola, que vendeu a Verde Campo à suíça Emmi Group, via Laticínios Porto Alegre, em 2024.

Com todas essas movimentações, o mercado de queijos se consolida como um dos mais dinâmicos da cadeia láctea no Brasil — e a demanda segue sendo o principal motor dessa transformação.

*Adaptado para eDairyNews, com informações de Globo Rural

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