Uma nova oferta de A$2 bilhões pela operação Oceania da Fonterra está movimentando o cenário lácteo da região e pode representar um sinal positivo para a valorização da cooperativa.
A informação, divulgada pela mídia australiana, indica que a proposta teria partido da Bega Cheese em parceria com uma cooperativa europeia, possivelmente a FrieslandCampina, intensificando a concorrência por ativos valiosos na Austrália e Nova Zelândia.
A palavra da vez é valorização. Segundo Matt Montgomerie, analista sênior de ações da Forsyth Barr, caso a avaliação atribuída à operação da Fonterra seja precisa, ela apontaria para múltiplos de valorização significativos, baseados na métrica EV/EBIT (valor da empresa sobre ganhos antes de juros e impostos), um indicador essencial para investidores.
“Seria uma ótima notícia se essa avaliação se confirmar,” disse Montgomerie ao Dairy News. “Mesmo que a Fonterra não divulgue os lucros separadamente para Austrália e Nova Zelândia, ao aplicar uma análise proporcional, os múltiplos implícitos sustentam a faixa superior da nossa estimativa para o Mainland Group, entre NZ$2,5 bilhões e NZ$3 bilhões.”
A oferta de A$2 bilhões reacende o interesse de grandes players do setor, num momento em que a Lactalis já recebeu aprovação regulatória para uma aquisição abrangente dos negócios da Fonterra na Austrália.
Segundo a Comissão Australiana de Concorrência e Consumidores (ACCC), a compra não deve reduzir substancialmente a concorrência, mesmo em regiões com alta concentração de mercado, como Tasmânia.
Um mercado competitivo e estratégico
A disputa por ativos da Fonterra já conta com ao menos três interessados:
- Lactalis, que obteve sinal verde da ACCC e é considerada favorita;
- Bega Cheese, em parceria com a FrieslandCampina;
- E a japonesa Meiji Holdings, também presente na negociação.
Cada um dos grupos representa diferentes modelos de negócios e níveis de presença no mercado local.
A Lactalis, por exemplo, já possui forte atuação na Austrália, incluindo marcas líderes como Paul (leite fresco, iogurte e creme), enquanto a Fonterra lidera com produtos como Western Star (manteiga), Perfect Italiano, Bega Cheese e Mainland (queijos).
De acordo com o próprio Montgomerie, a Fonterra teria preferência por vender a operação como um todo, o que pode beneficiar propostas integradas e com maior capacidade financeira.
Agricultores em alerta e Conselho cauteloso
Embora o processo de desinvestimento esteja avançando, os agricultores da cooperativa da Fonterra, que terão a palavra final na aprovação da venda, ainda aguardam definições.
O presidente do Conselho da Cooperativa, John Stevenson, disse que a entidade não possui informações privilegiadas sobre o andamento das negociações.
“Infelizmente, não posso fazer comentários neste momento. A própria Fonterra está em melhor posição para fornecer esclarecimentos”, declarou Stevenson ao Dairy News.
O papel da ACCC e a questão da concorrência
A decisão favorável da ACCC à Lactalis foi fundamental para destravar o processo. Mick Keogh, vice-presidente do órgão, afirmou que a análise considerou os impactos regionais da fusão, especialmente em estados como Victoria e Tasmânia.
“Apesar das preocupações levantadas por algumas entidades representativas, entendemos que a aquisição provavelmente não causará uma redução substancial da concorrência”, explicou Keogh.
Mesmo com a concentração já existente na Tasmânia, a ACCC apontou que a presença limitada da Lactalis nessa área não deve alterar significativamente a dinâmica de mercado, onde outros compradores relevantes como Saputo e Mondelez ainda operam.
Conclusão: o futuro da Fonterra na Oceania está em jogo
Com uma oferta robusta de A$2 bilhões e uma disputa que envolve gigantes do setor, o desfecho da venda da operação Oceania da Fonterra se torna central para o futuro da cooperativa.
Seja qual for o comprador, a movimentação reforça o valor estratégico dos ativos da Fonterra e evidencia um mercado lácteo em plena transformação.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Rural News Group