A Argentina está prestes a liderar o crescimento da produção leiteira global em 2025, com uma alta projetada de 4,5%, segundo o mais recente relatório do USDA.
Duas vezes por ano, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulga um panorama detalhado da indústria leiteira global.
Em julho de 2025, o novo relatório trouxe uma surpresa positiva para a América do Sul: a Argentina liderará o crescimento da produção entre os cinco maiores exportadores mundiais de leite — superando EUA, União Europeia, Nova Zelândia e Austrália — com um avanço previsto de 4,5%.
Essa taxa posiciona o país como o protagonista do setor em 2025, com uma produção estimada de 11,4 bilhões de litros, próxima aos 11,7 bilhões registrados em 2023.
O número representa uma clara recuperação após um 2024 marcado por queda acentuada, influenciada por crises econômicas internas e os efeitos de três anos consecutivos de seca.
Segundo o relatório, esse crescimento argentino não decorre de condições climáticas excepcionais, mas sim da resiliência produtiva e da retomada gradual da confiança do setor.
Em linha com a estimativa do USDA, o Observatório da Cadeia Láctea Argentina (OCLA) apontava já em junho um aumento interanual de 12% na produção, confirmando a retomada em curso.
Exportações em foco: um sinal de alerta
Apesar do bom desempenho interno, o USDA alerta que as exportações argentinas de leite em pó devem recuar 9% em 2025, pressionadas pela retração da demanda chinesa e por novas restrições impostas pela Argélia — um de seus principais compradores históricos.
Essa queda no comércio internacional representa um ponto de atenção para a Argentina, que hoje exporta lácteos para mais de 90 destinos, mas enfrenta barreiras tarifárias elevadas que impactam sua competitividade global.
Potências tradicionais: estabilidade, queda ou desaceleração
O relatório do USDA também traz projeções para os outros grandes exportadores:
- Estados Unidos: crescimento de 1,1% na produção, impulsionado por maior número de vacas e aumento da capacidade industrial. Destaque para a expansão nas exportações de queijo (+7%) para Japão, Coreia do Sul, Austrália, México e países latino-americanos.
- Nova Zelândia: crescimento de 1%, sustentado por boas condições climáticas e suplementação alimentar. Com o rebanho estável devido a restrições ambientais, o país aposta em maior valor agregado: exportações de queijo e manteiga devem crescer 14%, especialmente para China, Japão e Coreia do Sul.
- União Europeia: queda projetada de 1% na produção, afetada por margens reduzidas e regulação ambiental rigorosa, que levou à redução de até 3% nos rebanhos. Há impacto direto na industrialização de leite em pó e manteiga.
- Austrália: enfrenta desafios com uma seca persistente, que pressiona os custos, mesmo com preços firmes ao produtor. As exportações de leite fluido devem crescer 4%, impulsionadas pela demanda asiática.
Oportunidades para a Argentina em um mercado em transformação
Com o consumo global de lácteos projetado para crescer 10% no médio prazo — conforme relatório da Federação Internacional de Leite com base em dados de 17 países —, países com custos produtivos competitivos, sistemas produtivos variados e capacidade de industrialização, como a Argentina, se tornam atores estratégicos no novo tabuleiro global.
A pandemia deixou marcas nos hábitos de consumo: mais cozinha em casa, maior valorização do valor nutricional dos alimentos e crescimento do e-commerce.
Embora a recuperação econômica global siga instável, produtos como queijo, iogurtes e manteiga seguem em expansão, especialmente em mercados asiáticos.
- Leite fluido: demanda estável ou em queda.
- Queijos: crescimento entre 5% e 10%, com destaque para Índia e China.
- Manteiga: crescimento de até 10% nos EUA e 5% em outros continentes.
- Iogurtes e cremes: expansão puxada por conveniência e prazer sensorial.
Sustentabilidade e bem-estar: tendências que moldam o mercado
Os consumidores exigem mais que sabor: esperam responsabilidade ambiental, bem-estar animal e transparência nutricional.
Esses fatores se consolidam como diferenciais de mercado — e podem ser usados pela Argentina para avançar em acordos bilaterais e destravar novos mercados.
Ao mesmo tempo, a revisão das tarifas de exportação e a melhoria do ambiente regulatório interno seguem como tarefas urgentes para sustentar o crescimento projetado.
Com a maior taxa de crescimento entre os grandes exportadores mundiais de leite, a Argentina mostra que é possível retomar o protagonismo no setor com estratégia, resiliência e uma leitura atenta das tendências globais. O desafio agora é consolidar essa vantagem competitiva com políticas que favoreçam o acesso a mercados e estimulem a transformação de litros em valor agregado.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de MilkPoint