A queda no número de produtores de leite no Rio Grande do Sul chegou a níveis alarmantes e está, finalmente, no radar do poder público.
Em julho, os presidentes da Cooperativa Dália Alimentos se reuniram com o vice-governador Gabriel Souza e o secretário da Agricultura, Edvilson Brum, no Palácio Piratini, em Porto Alegre, para discutir soluções concretas para estancar o êxodo rural na bacia leiteira gaúcha.
Segundo dados apresentados pelo presidente do Conselho de Administração da Dália, Gilberto Antônio Piccinini, entre 2015 e 2021 o estado perdeu 52,28% dos seus produtores de leite, passando de 84.199 para apenas 40.182.
A tendência, segundo ele, é de agravamento, caso o governo estadual não implemente políticas públicas urgentes de incentivo à produção.
“A permanência na atividade exige que os produtores invistam para aumentar a produção e atender à escala viável e à demanda industrial para abastecer o mercado”, ressaltou Piccinini, evidenciando os gargalos que têm pressionado especialmente os pequenos produtores.
A proposta da cooperativa à gestão estadual inclui o desenvolvimento de um Programa de Estado que priorize cooperativas com o Cadastro Nacional da Agricultura Familiar Jurídica (CAF), e que tenham ao menos 75% de seus associados oriundos da agricultura familiar.
A intenção é garantir assistência técnica contínua e incentivos diretos à produção, como forma de evitar o colapso total da cadeia leiteira.
Produzir leite virou sinônimo de prejuízo
Entre os fatores que impulsionaram a redução drástica no número de produtores, estão o aumento contínuo dos custos de produção, a baixa remuneração paga ao produtor, os eventos climáticos extremos – como secas prolongadas e enchentes sucessivas – e a concorrência desleal com os produtos importados.
Embora o Rio Grande do Sul tenha se mantido na terceira colocação nacional no ranking de produção de leite entre 2004 e 2022, de acordo com a Embrapa, os números mais recentes do IBGE revelam que em 2023 o estado caiu para a quarta posição, atrás de Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina.
Esse rebaixamento, embora simbólico, revela uma perda de protagonismo que preocupa o setor. Não por acaso, a reunião entre a Dália e o governo também incluiu o apoio institucional ao programa “Desafios do Agronegócio no RS”, uma proposta encaminhada pelo Executivo estadual ao governo federal, em busca de recursos do Fundo Social para refinanciar dívidas rurais provocadas por desastres climáticos.
O futuro do leite passa pelas cooperativas
O presidente-executivo da Dália Alimentos, Carlos Alberto de Figueiredo Freitas, enfatizou a necessidade de que o programa federal inclua as cooperativas com sistemas de integração de suínos e aves – principais responsáveis por captar recursos e garantir a manutenção da cadeia produtiva de proteína animal e leite.
“É fundamental reconhecer que as cooperativas são o elo que ainda mantém vivo o produtor no campo. Sem elas, não haverá sucessão rural, nem produção viável a longo prazo”, destacou Freitas.
Além disso, o dirigente abordou as conclusões do Relatório Socioeconômico da Cadeia Produtiva do Leite no RS – 2023, elaborado pela Emater/RS-Ascar, que apontam que mais da metade dos pequenos produtores abandonaram a atividade nos últimos dez anos.
O estudo também reforça que, sem assistência técnica permanente e políticas públicas direcionadas, o Rio Grande do Sul corre o risco de ver a produção leiteira se concentrar em poucas mãos – ou desaparecer por completo.
Impacto social e econômico
A debandada dos produtores de leite não representa apenas um problema econômico, mas também social.
Cada propriedade que fecha representa uma família a menos no campo, um posto de trabalho perdido e um elo a menos em uma cadeia que ainda sustenta milhares de empregos diretos e indiretos em todo o estado.
Enquanto as grandes indústrias buscam escala e eficiência, a sobrevivência do setor passa por valorizar o pequeno produtor.
E, nesse ponto, o papel das cooperativas como a Dália é central: são elas que conhecem o produtor, que prestam assistência técnica, financiam insumos e garantem a comercialização da produção.
O encontro entre a cúpula da cooperativa e o governo estadual é um passo necessário — embora tardio — para reverter o colapso anunciado de uma das atividades mais nobres e essenciais do agronegócio gaúcho. Agora, resta saber se os projetos sairão do papel e se chegarão a tempo nas propriedades que ainda resistem.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Independente