A indústria láctea da Nova Zelândia uniu-se à dos Estados Unidos para apresentar uma queixa formal na Comissão de Comércio Internacional dos EUA (ITC), em Washington DC, contra o sistema de preços do leite do Canadá.
As indústrias alegam que o modelo canadense de gestão de oferta distorce o mercado global de sólidos lácteos descremados, afetando a competitividade dos exportadores internacionais, conforme relatado na audiência realizada na última semana.
O ponto central da reclamação está no sistema de quotas e preços internos do Canadá, que mantém elevados os valores pagos aos produtores locais, enquanto gera excedentes de sólidos lácteos descremados não absorvidos pelo mercado interno.
Esses excedentes são vendidos no mercado internacional a preços abaixo do custo de produção, criando uma concorrência desleal para exportadores neozelandeses e americanos.
Conforme detalhado pelo professor Daniel Sumner, economista agrícola da Universidade da Califórnia e testemunha da Associação de Empresas Lácteas da Nova Zelândia (DCANZ), o sistema canadense permite que processadores paguem preços reduzidos, chamados de Classe de Leite 4(a), pelos componentes usados na produção dos sólidos descremados.
“Em vez de pagar um preço que reflete os custos reais de produção nas fazendas canadenses, os processadores conseguem adquirir insumos a preços subsidiados, o que dificulta a competição externa”, explicou Sumner durante o depoimento.
O governo canadense utiliza um rígido controle de quotas para equilibrar a oferta interna, aumentando essas cotas em cerca de 20% na última década para atender à demanda por produtos como manteiga e leite líquido.
Contudo, o aumento na produção de sólidos lácteos descremados, que são subprodutos, ultrapassa a absorção pelo mercado doméstico, resultando no excesso exportado.
Elizabeth Kamber, gerente de política comercial da DCANZ, ressaltou que a indústria neozelandesa atua sem subsídios governamentais e que o crescimento das exportações canadenses, subsidiadas, de sólidos descremados está prejudicando produtores neozelandeses e americanos em mercados de proteínas de alto valor.
“Esse comércio é focado em ingredientes especializados para aplicações esportivas e médicas, mercados estes finos e altamente competitivos, onde pequenas distorções têm impactos significativos”, afirmou Kamber.
A Federação Nacional de Produtores de Leite dos EUA acrescentou que o Canadá estaria violando os limites acordados no âmbito do Acordo Estados Unidos-México-Canadá (T-MEC).
Desde 2019, as exportações canadenses de leite descremado em pó aumentaram 116%, enquanto as de isolados de proteína de leite e lactosa também tiveram crescimento expressivo, chegando ao dobro e seis vezes mais, respectivamente.
Importante destacar que a federação norte-americana não questiona o direito do Canadá de apoiar seus agricultores, mas defende que isso seja feito de maneira a não prejudicar os parceiros comerciais. “Sem mudanças, o problema continuará a se agravar”, alertou a entidade.
Esta ação conjunta dos setores lácteos da Nova Zelândia e dos Estados Unidos marca um momento crítico nas negociações internacionais sobre comércio e subsídios agrícolas, colocando pressão para que o Canadá reveja suas políticas de preços e quotas, que, segundo as partes reclamantes, causam distorções comerciais que prejudicam a competitividade global do setor.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de seu Content Partner Fedeleche, Comissão de Comércio Internacional dos EUA (ITC), Associação de Empresas Lácteas da Nova Zelândia (DCANZ) e Federação Nacional de Produtores de Leite dos EUA.