ESPMEXENGBRAIND
18 ago 2025
ESPMEXENGBRAIND
18 ago 2025
Brasil rejeitou denúncia de dumping contra o leite em pó argentino. Para a SRA, decisão é um “respiro” em meio à produção estagnada há 25 anos.
Exportações de leite em pó da Argentina seguem sem barreiras no Brasil
Exportações de leite em pó da Argentina seguem sem barreiras no Brasil.

Leite argentino voltou ao centro do debate regional após a recente decisão do Departamento de Defesa Comercial do Brasil, que optou por não aplicar medidas antidumping contra as exportações de leite em pó provenientes da Argentina.

A denúncia havia sido apresentada pela Confederação Nacional de Produtores do Brasil, que acusava os exportadores argentinos de praticarem preços abaixo do valor de mercado interno, configurando concorrência desleal.

A resolução, tomada pelo governo de Luiz Inácio “Lula” da Silva, foi recebida como um “respiro” para a cadeia láctea argentina, segundo declarou Raúl Catta, coordenador da Comissão de Lechería da Sociedad Rural Argentina (SRA), em entrevista ao programa Chacra Agro Continental.

Alívio para o setor exportador

Catta destacou que a acusação surpreendeu, sobretudo por ter sido impulsionada pelo setor primário brasileiro, e não pela indústria. Ele lembrou que o Brasil é o principal destino do leite em pó argentino e que apresenta déficit em relação à sua própria demanda de consumo.

“O vínculo comercial está amparado pelas normas do Mercosul, que protegem o intercâmbio intrazona frente a terceiros mercados”, afirmou.

De acordo com dados oficiais, em 2023 e 2024 as exportações argentinas de leite em pó para o Brasil variaram entre 90.000 e 95.000 toneladas anuais, o que representou cerca de US$ 330 milhões. Esse mercado, portanto, é estratégico para a manutenção da atividade industrial no país vizinho.

O argumento decisivo de Brasília

O governo brasileiro concluiu que não havia evidências suficientes de prejuízo para a indústria local. Segundo o parecer, as informações apresentadas pelos denunciantes não correspondiam ao segmento relevante da cadeia —o de leite em pó—, mas sim ao de leite cru.

Essa reinterpretação do que constitui o “produto similar” foi determinante para encerrar, pelo menos nesta etapa, a possibilidade de medidas restritivas.

Para a Argentina, isso significa evitar um golpe severo em suas exportações lácteas, em um contexto de alta competitividade global. No entanto, a decisão é considerada intermediária: não implica o fechamento definitivo do processo, mas garante a continuidade dos embarques sem barreiras imediatas.

Estagnação de um quarto de século

Apesar da boa notícia no front externo, Raúl Catta ressaltou que a realidade interna do setor lácteo argentino continua sendo motivo de preocupação. “Produzimos entre 10 e 11 bilhões de litros por ano há mais de 25 anos, e as perspectivas atuais da indústria não são alentadoras”, declarou.

O dirigente da SRA explicou que, mesmo com um ambiente político de maior abertura e sem controles oficiais sobre as exportações, o preço pago ao produtor apresenta tendência de queda em termos reais. Essa situação, segundo ele, mantém a incerteza sobre a capacidade de expansão do setor.

“É uma indústria que respira com a ajuda do comércio exterior, mas que internamente não consegue gerar incentivos para crescer”, sintetizou Catta.

O desafio pela frente

O episódio deixa em evidência um dilema para a leiteria argentina: como transformar um alívio temporário em uma oportunidade para recuperar dinamismo produtivo. Analistas do setor lembram que, sem políticas de estímulo à eficiência e maior competitividade, a tendência de estagnação pode se prolongar, com impactos sobre produtores e indústrias.

Enquanto isso, o Brasil se mantém como cliente central para o leite argentino. A evolução do processo antidumping, embora momentaneamente suspenso, seguirá sendo monitorada de perto por autoridades e representantes da cadeia produtiva dos dois países.

Para Catta e a SRA, o foco agora deve ser aproveitar esse espaço de respiro para traçar estratégias que revertam mais de duas décadas de produção estacionada. “O risco é que continuemos apenas sobrevivendo de decisões externas, em vez de construir bases sólidas para crescer”, concluiu o dirigente.

 

*Adaptado para eDairyNews, com informações de Infobae

Te puede interesar

Notas Relacionadas