O Banco do Brasil enfrenta o maior nível de inadimplência já registrado em sua carteira de crédito rural, segundo afirmou a presidente-executiva da instituição, Tarciana Medeiros, na última sexta-feira (16), em coletiva com analistas.
A situação, considerada inédita pelo banco estatal, decorre principalmente de calotes entre produtores de soja, milho e pecuária nas regiões Centro-Oeste e Sul do Brasil.
De acordo com informações da Reuters, a executiva destacou que nem mesmo os cenários mais pessimistas previam uma deterioração tão acentuada. “Temos uma carteira de mais de 600 mil clientes, dos quais 20 mil estão inadimplentes. E 74% deles nunca haviam registrado atraso até dezembro de 2023”, afirmou Medeiros.
O impacto já aparece nos números do segundo trimestre de 2025. O banco reportou resultados abaixo do esperado e revisou para baixo suas projeções anuais, após um primeiro trimestre igualmente marcado por alta inadimplência no segmento agropecuário.
Pressão sobre os produtores
O agronegócio brasileiro, considerado motor da economia nacional e responsável por grande parte das exportações de grãos, carnes, açúcar, café e algodão, vem enfrentando dificuldades consecutivas.
Eventos climáticos adversos, juros elevados e aumento dos custos de insumos são apontados como fatores que pressionaram os produtores e resultaram em mais pedidos de recuperação judicial nos últimos anos.
No período de abril a junho, o índice de inadimplência de 90 dias no setor agro atingiu 3,49%, contra 3,04% no primeiro trimestre e 1,32% no mesmo período do ano anterior. Esse crescimento reflete o peso da crise sobre milhares de agricultores e pecuaristas.
Efeitos sobre os resultados do banco
O Banco do Brasil, tradicionalmente visto como pilar do crédito agrícola no país, reconhece que o segmento continuará afetando os resultados no curto prazo. A própria Tarciana Medeiros alertou que o terceiro trimestre seguirá pressionado, já que dívidas da safra 2024/25 vencem até setembro.
A executiva, no entanto, demonstrou expectativa de melhora a partir da próxima temporada. Segundo ela, a previsão de clima mais favorável, a perspectiva de uma safra recorde em 2025/26 e a recuperação dos preços das commodities agrícolas podem contribuir para reduzir a inadimplência no campo.
Para os investidores, o sinal de alerta permanece. As ações do Banco do Brasil chegaram a cair 4% no início do pregão em São Paulo após a divulgação dos resultados, mas se recuperaram e fecharam com alta de 1%.
No acumulado do ano, no entanto, os papéis ainda registram queda de 13%, após despencarem mais de 30% desde a divulgação dos fracos resultados do primeiro trimestre.
Reação do mercado
Para analistas do Itaú BBA, o balanço não surpreendeu totalmente. Em relatório enviado a clientes, a instituição afirmou: “Certamente um trimestre fraco, mas de certa forma esperado.
Seguimos cautelosos, em busca de mais visibilidade sobre a tendência de piora na qualidade de crédito, mas não vemos espaço para uma reação muito negativa do mercado.”
Desafios à frente
Apesar do cenário difícil, o Banco do Brasil projeta uma recuperação gradual de seus números a partir do quarto trimestre, apoiado no crescimento da margem financeira líquida.
Ainda assim, o setor agropecuário seguirá sendo um desafio central para a instituição, que administra a maior carteira de crédito rural do país e desempenha papel estratégico no financiamento da produção agrícola brasileira.
Com o peso do agro na economia nacional e a dependência de milhares de produtores do crédito oficial, o desfecho dessa crise será determinante não apenas para os resultados do Banco do Brasil, mas também para a saúde financeira de um dos setores mais importantes do país.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de The Pig Site