O mercado de leite apresentou sinais de recuperação global desde agosto de 2023, mas no Brasil os produtores vêm enfrentando queda nos preços recebidos em 2025.
De acordo com dados divulgados por O Presente Rural com informações da Embrapa, a conjuntura internacional caminha para a estabilidade, enquanto o cenário interno aponta pressão sobre a renda dos pecuaristas.
No cenário internacional, o indicador de preço mundial ao produtor (IFCN) atingiu em agosto de 2023 o menor patamar em anos, de US$ 0,34 por litro. A partir desse ponto, houve uma recuperação constante, com valorização mês a mês até alcançar US$ 0,48 por litro em junho de 2025.
Esse movimento estimulou a retomada da produção nos principais países exportadores, como União Europeia, Europa Oriental, América do Sul e Oceania.
Entre janeiro e junho de 2025, a produção europeia cresceu 2,3%, reforçando a recomposição da oferta mundial. Com esse cenário, especialistas projetam estabilidade tanto nos volumes de produção quanto nos preços nos próximos meses, com destaque para a valorização da gordura láctea em comparação às demais commodities do setor.
Brasil acompanha tendência, mas enfrenta queda
No Brasil, os preços pagos ao produtor começaram a se alinhar às referências internacionais a partir de outubro de 2024. Essa convergência ajudou a conter o ritmo das importações, que caíram de mais de 200 milhões para cerca de 170 milhões de litros mensais nos últimos meses.
No entanto, apesar da tendência positiva no mercado global, a realidade brasileira mostrou-se distinta em 2025.
O preço médio recebido pelo produtor, que tradicionalmente se beneficia da entressafra e do clima mais frio no inverno, registrou quedas em abril e maio e manteve-se estável em junho em R$ 2,65 por litro, segundo a média Brasil do Cepea.
O valor representa R$ 0,10 a menos em relação à média do primeiro semestre e também frente à média de 2024, corrigida pela inflação.
Custos e relação de troca
Do lado dos custos de produção, a mistura padrão de ração composta por 70% de milho e 30% de farelo de soja ficou em R$ 1,51 por quilo em junho de 2025, sem apresentar grandes variações reais nos últimos dois anos.
Desde abril de 2024, a valorização do leite melhorou a relação de troca com os insumos, favorecendo os resultados da atividade e incentivando a expansão da produção.
A captação nacional de leite cresceu 3,4% no primeiro trimestre de 2025 em comparação ao mesmo período do ano anterior, e os dados preliminares apontam para um crescimento ainda mais robusto, de 9,3%, no segundo trimestre.
Consumo interno em desaceleração
No consumo, os preços dos lácteos tiveram aumento de 3,5% em junho, abaixo da inflação acumulada de 5,4%. Esse fator ajudou a desacelerar os índices inflacionários no trimestre, mas ao mesmo tempo refletiu em um leve recuo da demanda interna.
A pressão da inflação geral e o endividamento das famílias contribuíram para reduzir o ritmo de compras de lácteos no mercado doméstico.
Essa conjuntura resultou em queda nos preços dos derivados no atacado e, consequentemente, em recuo do valor pago ao produtor, mesmo durante o período de entressafra, que tradicionalmente seria mais favorável.
Perspectivas para o segundo semestre
Segundo análise divulgada por O Presente Rural com base em dados da Embrapa, o mercado sinaliza queda dos preços ao produtor com o fim da entressafra. A oferta nacional deve seguir em crescimento no segundo semestre, ampliando ainda mais a pressão sobre os valores recebidos no campo.
A demanda interna fragilizada representa outro desafio, com consumidores sensíveis a preços em meio ao ambiente econômico restritivo. Além disso, fatores externos, como oscilações cambiais e a dinâmica das importações, também podem influenciar a competitividade do setor.
Especialistas alertam que, apesar da recuperação global e da expansão da oferta nacional, o ambiente macroeconômico permanece marcado por incertezas, tanto no cenário interno quanto internacional.
Esse contexto exige atenção dos produtores e da cadeia láctea como um todo, que precisa equilibrar custos, produtividade e estratégia de mercado para enfrentar os próximos meses.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de O Presente Rural