As exportações lácteas do Uruguai apresentaram um crescimento expressivo de 11% no acumulado de 2025, alcançando US$ 504,4 milhões até julho, segundo dados oficiais da Direção Nacional de Aduanas (DNA).
Apesar desse desempenho positivo no comércio exterior, o setor vive um cenário contraditório, marcado pelo fechamento definitivo e antecipado da planta da Conaprole em Rivera, que aprofunda as tensões entre sindicatos, pequenos produtores e o governo.
O desempenho exportador foi impulsionado principalmente pela leite em pó integral, que respondeu por US$ 333,4 milhões, registrando um aumento de 16% em comparação com o mesmo período de 2024.
No último mês analisado, julho, as exportações totalizaram US$ 46,4 milhões e 83.252 toneladas, um avanço de apenas 1% em volume, o que evidencia que a alta de preços foi o principal motor do crescimento. O valor médio por tonelada chegou a US$ 4.163, representando um incremento interanual de 15%.
Outros derivados também mostraram movimentações relevantes. A leite em pó desnatado teve um avanço modesto, de 1% no acumulado de julho, somando US$ 31,6 milhões, enquanto seu volume caiu 4%.
Já a manteiga se destacou com um salto de 21% em vendas e um aumento de 22% no valor por tonelada, que atingiu US$ 6.800.
Crescimento econômico x fechamento de plantas
Embora os números indiquem um momento de prosperidade no comércio internacional, o fechamento de pequenas e médias plantas de processamento continua a fragilizar os produtores de menor escala, gerando uma concentração industrial cada vez maior.
O caso mais emblemático é o da planta da Conaprole em Rivera, cujo fechamento antecipado gerou protestos e negociações frustradas entre a empresa, os trabalhadores e o governo.
De acordo com Alfredo Fratti, ministro de Pecuária, Agricultura e Pesca (MGAP), a decisão reflete mudanças estruturais no consumo e desafios regionais: “Nos preocupa que se fechem indústrias no norte do Rio Negro, que são áreas menos desenvolvidas e com salários mais baixos”, declarou.
Ele ressaltou que a planta, responsável principalmente pelo envase de leite em saquinho com preço tabelado pelo Executivo, perdeu competitividade à medida que os consumidores migraram para o consumo de leite longa vida em caixa.
Fratti admitiu que a reversão da decisão é pouco provável: “Eu não vejo solução para o fechamento da planta de Conaprole em Rivera. As decisões da empresa são privadas, por isso, a única alternativa seria um fechamento ordenado que proteja os trabalhadores.”
Monitoramento governamental e demanda sindical
A situação tem mobilizado tanto o Instituto Nacional do Leite (INALE) quanto o MGAP, que afirmam acompanhar de perto os desdobramentos. No entanto, sindicatos e organizações de produtores reivindicam medidas concretas para evitar maior concentração industrial e a consequente perda de postos de trabalho nas regiões menos favorecidas.
O fechamento de Rivera reacende o debate sobre o modelo produtivo do setor, que, apesar de registrar crescimento expressivo nas exportações, ainda enfrenta assimetria regional e desafios para pequenos e médios produtores.
A Conaprole, responsável por cerca de 75% da produção de leite comercializada no país, segue sendo o principal ator, mas sua política de fechamento de unidades menores é vista por muitos como um processo de centralização que ameaça a diversidade produtiva.
Perspectivas para o restante do ano
Com a demanda internacional aquecida, especialmente para a leite em pó integral, e preços em alta no mercado externo, a expectativa é de que as exportações lácteas do Uruguai continuem em trajetória positiva até o final de 2025.
Contudo, a pressão social decorrente do fechamento de plantas e a necessidade de políticas que equilibrem competitividade internacional com sustentabilidade regional permanecem no centro do debate.
A conjunção de bons resultados econômicos com tensões sociais coloca a indústria láctea uruguaia diante de um dilema: como manter o impulso exportador sem sacrificar a base produtiva diversificada que historicamente sustentou o setor?
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Ámbito